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Edição 515

Crónica Verde – Acreditar

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Às vezes, é difícil manter-me otimista. Ou como se costuma dizer agora: positiva. E acreditem, eu nasci otimista: acordo sempre de sorriso nos lábios, também gosto dos dias de chuva, o copo está sempre cheio (meio de água e meio de ar), olho sempre para o lado luminoso da vida, blá, blá, blá…
Mas quando leio – por exemplo – que o governo da Austrália mata 700 koalas (um animal considerado em perigo de extinção) porque no lugar onde vivem há falta de alimento e transportá-los pode ser “stressante” (para os koalas), fico incrédula (e ainda ninguém me conseguiu apresentar um bom argumento para esta medida). E porque é que este marsupial fofinho está em extinção? E porque é que aqueles 700 animais estavam a morrer de fome? Porque o seu maior predador – o ser humano – destruiu o seu habitat natural, abriu estradas que isolam os nichos naturais onde os koalas ainda vivem, impedindo-os de partir quando a comida escassa (e os que tentam são atropelados) e de fugir quando há um incêndio. E fico triste, triste.
E sim, isto aconteceu do outro lado do mundo. E sim, é um pequeno animal que nada mais faz do que dormir e comer folhas de eucalipto.
Mas, neste momento já não devíamos ter percebido que estamos todos interligados? Que o planeta é um só? Que não há compartimentos? Que se uma central nuclear explode no Japão, os seus efeitos podem sentir-se na América do Norte? Sim, atuns radioativos percorreram mais de 9000 km pelo Oceano Pacífico até à costa da Califórnia. Segundo os entendidos, os valores estão dentro do que é seguro para consumo.
Por isso podemos continuar a comer atum. Podemos continuar a ir às compras sem nos preocuparmos de onde vem o que comemos, o que vestimos e calçamos. Nós, membros da União Europeia (UE), somos os maiores importadores (36% das importações) de mercadorias retiradas de áreas ilegalmente desmatadas em florestas tropicais. A soja, que alimenta os animais que comemos e que serve para fabricar biodiesel (tão na moda e supostamente “ecológico”); a picanha brasileira; o couro que alimenta a indústria da moda; o óleo de palma usado em sabonetes e cremes de beleza e nos alimentos processados que enchem as prateleiras dos supermercados. Tudo isto vem de áreas enormes que já foram floresta e que agora – graças à ganância, corrupção e cumplicidade dos que ficam em silêncio – são monoculturas exaustas, que breve serão desertos. Quando esta notícia saiu, a União Europeia admitiu que já tinha noção do nosso impacto no desmatamento das grandes e vitais florestas tropicais.
Apanharam-me num mau dia, provavelmente. Até as pessoas otimistas têm direito a eles, não? Porque eu ainda acredito que cada um de nós pode fazer a diferença. A sério. Mas, neste momento, não sei se vamos a tempo…
Talvez da próxima vez, já tenha feito as pazes com a humanidade e vos venha contar histórias extraordinárias de pessoas comuns, como a dos 100 moradores de Nairobi, no Quénia, que fazem brinquedos a partir de detritos que dão à praia e que já reaproveitaram 400 toneladas de lixo. 400 toneladas.
Talvez…

Ema Magalhães | APVC

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