Edição 665
Crónica – O país a cair aos pedaços
A governação atual, que tem desinvestido fortemente na manutenção de pontes, viadutos, estradas, via férrea, no combate aos incêndios, na saúde, na educação e na cultura permite que a EDP faça entrar quase 20 milhões de euros nos cofres do consórcio luso-brasileiro formado pelas construtoras Lena e Odebrecht. Esta quantia (a carecer de justificação) foi acordada já depois de a Barragem do Baixo Sabor, em Trás-os-Montes ter sido inaugurada, e no contexto de uma negociação confinada ao círculo restrito da EDP e das duas empresas construtoras, grandes sustentáculos do regime «socrático» de má memória e envolvidas nos escândalos “Lava-Jato e “Operação Marquês”.
O atual governo que se calou com esta jogatana, também ficou quedo e mudo com a situação grave de nas zonas afetadas pelos incêndios do ano passado ainda existirem, vergonhosamente, cerca de 4.600 clientes sem serviço de telecomunicações restabelecido. É o agravamento do sofrimento constante das populações do interior do país, de uma interiorização aterradora que o poder centralista e macrocéfalo lisboeta não quer ver.
O governo aprovou há dias o valor de vinte e três milhões de euros destinados a reparar as graves fissuras (já identificadas em 2016) na Ponte de 25 de Abril, que liga a cidade de Lisboa à cidade de Almada. Esta aprovação só se verificou depois do LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil ter alertado para a necessidade urgente de obras de manutenção na referida ponte, que tem sido o ponto habitual de partida da Meia Maratona de Lisboa, só que por questões de segurança devido ao mau tempo (só?) foi alterado para a zona de Sete Rios.
Um relatório técnico interno das infraestruturas de Portugal refere que existem troços de linhas férreas com um nível de degradação muito grave, que fazem com que a passagem de comboio nessas vias coloque em risco a vida de passageiros e maquinistas. Inclusive já provocaram descarrilamentos, embora sem vítimas mortais, mas deseja-se que haja, urgentemente, uma manutenção técnica nesses troços, antes que aconteça uma tragédia nacional.
O país a cair aos pedaços é que se pode constatar com o estado de degradação de importantes infraestruturas, como é o caso da situação a que chegaram as pontes da antiga linha de comboio (Porto – Guimarães), que foi «surripiada» em 2002, com a promessa de ser construído o metro de superfície para ligar o ISMAI à Trofa. Como esse troço foi votado ao abandono, as pontes situadas na Freguesia do Muro (Trofa) estão num estado de risco iminente de ruir, em virtude das fissuras enormes nas junções e infiltrações de águas nos pilares.
Como o dinheiro não é elástico – não chega para satisfazer as reivindicações (dos parceiros que sustentam a “geringonça”), para calar Bruxelas (os números do défice) e para as manutenções (mais que necessárias) -, o governo atual inventou as famosas cativações do Ministério das Finanças. É uma “centelhice” para enganar os papalvos europeus (e os nacionais), que tem merecido alguns aplausos, pois deu resultado na “cosmética” utilizada para que os números da macroeconomia se ajustem às metas impostas pela União Europeia. Mas não pode ser à custa da segurança das pessoas!
José Maria Moreira da Silva
moreira.da.silva@sapo.pt
www.moreiradasilva.pt
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