Ano 2008
Criação do concelho culminou 170 anos de descontentamento popular
A criação do concelho da Trofa não teve origem numa luta de séculos, nem a exposição mediática de outros processos idênticos, mas resultou de um descontentamento popular acumulado ao longo de mais de 170 anos.
“As pessoas só se queixam quando têm a barriga vazia, quem está satisfeito não se revolta. Se Santo Tirso tivesse realmente olhado por isto, ninguém se lembraria de criar o concelho”, defendeu José Costa Ferreira, um dos 13 elementos que integravam a Comissão Promotora do Concelho da Trofa.
Para este jornalista reformado, “não foram 10, nem 50 anos de castigo, foi mais de um século e meio de sofrimento”, recordando que as oito freguesias que integram o município da Trofa “representavam 51 por cento das receitas do concelho de Santo Tirso”.
“Era justo que tivessem algum retorno”, frisou.
O ‘Grito do Ipiranga’ – como lhe chama Costa Ferreira – foi dado em 1927, quando saiu o primeiro número do jornal O Trofense, assumidamente criado para defender a criação de um novo concelho, mas a origem do descontentamento popular tinha começado muito antes.
O problema nasceu a 6 de Novembro de 1836, dia em que foi publicado o decreto que retirou oito freguesias da Maia e as anexou ao novo concelho de Santo Tirso.
“O que se passou foi a anexação de uma parcela grande da antiga Terra da Maia a um concelho que foi criado no Terreiro do Paço, com régua e esquadro”, salientou Costa Ferreira.
As oito freguesias em causa (Santiago de Bougado, S. Martinho de Bougado, Muro, Alvarelhos, S. Mamede do Coronado, S. Romão do Coronado, Covelas e Guidões) são precisamente as que hoje constituem o concelho da Trofa.
“Estas oito freguesias têm uma identidade em comum, são maiatas, não têm nada a ver com Santo Tirso”, defendeu Costa Ferreira, para quem “o descontentamento popular surgiu porque ninguém ficou a ganhar com esta decisão”.
Com a chegada do caminho-de-ferro e a abertura da primeira escola primária, em finais do século XIX, a Trofa sofreu um forte impulso cultural, que veio a ter repercussões na luta pelo novo concelho.
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“Quando chegou a República, a Trofa já tinha homens culturalmente elevados e profissionalmente competentes, que começaram a exigir de Santo Tirso a satisfação de velhas reivindicações, incluindo acessibilidades e infra-estruturas”, frisou, admitindo, no entanto, que este movimento “esmoreceu” com a I Guerra Mundial.
A situação apenas se alterou em 1927, com o aparecimento do jornal O Trofense, que, segundo Costa Ferreira, “saiu para a rua com a finalidade de lutar pela criação de um concelho constituído pelas oito freguesias que foram retiradas da Maia”.
“Foi o ‘Grito do Ipiranga’, a partir daqui nada mais foi igual”, afirmou.
A luta pela criação do concelho voltou a arrefecer com a II Guerra Mundial e assim se manteve até Abril de 1974.
“Os primeiros passos decisivos para a criação do concelho surgem a partir do 25 de Abril. Apareceram jornais, rádios e televisões piratas que criaram uma pressão enorme”, frisou.
Como consequência, a 14 de Dezembro de 1990, a Assembleia de Freguesia de S. Martinho de Bougado decidiu por unanimidade nomear uma comissão para estudar a existência de condições para a criação do concelho.
Esta comissão foi alargada a Santiago de Bougado, passando a integrar as duas freguesias que constituíam a vila da Trofa (actual cidade).
A 15 de Julho de 1992, a denominada Comissão Promotora do Concelho da Trofa deslocou-se a Lisboa para entregar na Assembleia da República uma petição para a criação do concelho.
O texto, redigido por Costa Pereira, incluía, entre outras questões, a descrição da área do novo concelho e a relação dos requisitos exigidos por lei.
A petição estava assinada por representantes de cinco das oito freguesias que tinham sido anexadas a Santo Tirso, faltando Muro, S. Romão e S. Mamede do Coronado, que aderiram mais tarde.
Depois da entrega da petição, tornou-se necessário que as oito assembleias de freguesia aprovassem a adesão ao novo concelho, ao mesmo tempo que iam sendo desenvolvidos contactos com os partidos políticos.
Em Fevereiro de 1998 foi dado um passo decisivo, quando foram entregues no parlamento vários projectos de lei para a criação de novos concelhos.
Nove meses depois, a 19 de Novembro de 1998, quase duas centenas de autocarros partiram da Trofa com destino a Lisboa.
A cidade ficou quase deserta e as lojas fecharam, ostentando orgulhosamente nas montras um cartaz onde se podia ler a razão do encerramento: “Vamos todos buscar o concelho”.
Em Lisboa, onde foram ‘buscar’ o concelho, mais de 10 mil trofenses assistiram, num ambiente de grande festa, à criação daquele que é o mais novo município português.
Lusa
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