Edição 592
Contradições para lá da ponte da Peça Má
No passado dia 20 de Setembro, a Assembleia de Freguesia (AF) do Muro reuniu para sessão ordinária e, entre outros temas que ali foram discutidos, foi aprovado, por unanimidade, um voto de repúdio pela actuação da Câmara Municipal da Trofa (CMT) no polémico caso da demolição da ponte da Peça Má, tema dominante na sessão. Significa isto, portanto, que todos os membros ali presentes, representando não apenas a candidatura Independentes pelo Muro (IPM) mas também a coligação PSD/CDS-PP, sem excepção, se uniram em torno de um sentimento de indignação pela forma como o processo foi conduzido.
Segundo a peça publicada neste jornal, os elementos que compõem a AF do Muro manifestaram intenção de não deixar cair o caso no esquecimento e de o ver abordado na Assembleia Municipal (AM) que se realizou dez dias depois. António Ferreira, presidente da AF do Muro, afirmou mesmo que o executivo agiu de má-fé por ter omitido a decisão da Metro do Porto, da qual os trofenses acabaram por ter conhecimento através de uma publicação no Jornal de Notícias, acrescentando mesmo que “Houve até a coincidência de haver um passeio no dia da demolição” e demonstrando alguma mágoa por “a Câmara não ter tido a hombridade de avisar da demolição com antecedência”.
Entre os representantes da IPM, Margarida Pinto questionou a validade das deliberações daquele órgão: “Se não temos poder de decisão com votações unânimes, não sei para que é que existem”. Já Pedro Amaro Santos, incisivo, considerou a condução do processo “uma canalhice”, acusando o executivo de cumplicidade com o desfecho do caso sem deixar de alargar o leque de responsáveis: “A culpa está no facto de não ter havido classificação do património e na incompetência com que se fez o Plano Diretor Municipal, está nos técnicos da Câmara e nos autarcas”. Conceição Campos, a quem a batata quente caiu nas mãos na ausência do presidente da junta, revelou ter tentado contactar, sem sucesso, o presidente da Metro do Porto. Acabou por ser atendida por um secretário que lhe fez saber que a autarquia já tinha conhecimento da decisão.
Do lado dos representantes da coligação Unidos pela Trofa, António Correia mostrou-se “indignado”, indo ao ponto de afirmar que “O processo foi tratado de uma maneira para nos enganar. O Muro foi esquecido por quem nos devia defender”. Em jeito de conclusão, aludindo à posição daquele órgão que, também por unanimidade, se uniu em torno da ideia de que a freguesia não queria aquele desfecho, António Correia rematou com um revelador “Isto só provou que não estamos aqui a fazer nada”.
Carlos Martins, presidente da junta do Muro, afirmou ter ficado a saber da demolição no regresso de uma reunião na câmara municipal, na qual Sérgio Humberto o terá informado que a demolição iria acontecer, apesar de não haver ainda data definida. No entanto, ao passar junto à ponte, apercebeu-se da existência de um gradeamento, tendo contactado a autarquia que confirmou a demolição no fim-de-semana seguinte.
Dez dias depois da realização desta AF, teve lugar a AM na Vila do Coronado. E apesar de tudo o que foi dito no Muro, apesar da indignação e da unanimidade, apesar da injustiça que uniu o poder e a oposição do Muro, apesar da coragem – e, por estes dias, é mesmo preciso tê-la – dos eleitos pela coligação naquela freguesia, o representante do Muro na AM, Carlos Martins, não pediu explicações ao executivo. Nem uma frase sobre o assunto. Nada. Só mesmo a jovem Margarida Pinto teve a coragem de subir a um palanque hostil e confrontar o executivo com as questões que se exigiam, pagando o preço de uma repreensão incompreensível e, a meu ver, desnecessária da parte da presidente da AM. Serei só eu a achar que algo aqui não bate certo?
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