Edição 506
Como anda a assistência hospitalar?
A assistência hospitalar tem sido cabeçalho de diversas notícias nas últimas semanas, tendo como balanço trágico, “conhecido”, os cinco utentes que acabaram por falecer a aguardar por assistência médica nos corredores das urgências hospitalares em Portugal.
Falar do País e das opções puramente economicistas que se verificam na política da Saúde em Portugal, é ouvir o bastonário da Ordem dos Médicos, Dr. José Manuel Silva, que afirma “entre Março de 2013 a Março de 2014, houve uma redução de 420 camas hospitalares” e que “existem profissionais disponíveis, mas não podem ser contratados”.
Felizmente está consagrado na nossa constituição, o direito à assistência na saúde primária e como contribuintes que somos, através dos nossos impostos, acrescidos de taxas moderadoras já pouco simpáticas, detemos como referência o Centro Hospitalar do Médio Ave com a unidade de Famalicão. A esta, acresce a de Santo Tirso, pese embora esta última, hoje, já sem diversas valências e com o futuro preocupante dada a muito provável transferência da sua gestão para fora do foro público.
No município da Trofa, detemos uma unidade hospitalar com serviço de urgência, mas privada, o que leva a que quem não possua subsistemas de saúde ou seguros, a tenha como última opção, face ao curto orçamento familiar que possuem.
Assim, para muitos, a solução é a unidade de Famalicão, onde pude pessoalmente constatar aquilo que temos lido de outras unidades hospitalares.
No passado dia 6 janeiro, uma utente deu entrada às 21.41 horas tendo sido, após triagem por um enfermeiro, atribuída a “pulseira amarela” da Triagem de Manchester e foi “depositada” numa maca até as 3.45 horas do dia 7. Durante estas 6 horas de espera, sem nunca nenhum clínico a ter observado, e com mais de uma dezena de pessoas que pura e simplesmente abandonaram a urgência sem ser assistidas, ela esperou com dores violentas e nenhuma possibilidade de se movimentar. Porque percebo que somos impelidos a considerarmo-nos mais urgentes que os restantes, aguardamos, e nas 6 horas de espera, que levou a pessoa a suplicar-me que a levasse daí, mas que por impossibilidade de mobilidade não o fizemos, abordei por duas vezes os médicos de serviço a solicitar que a observassem face às dores que possuía, sem sucesso, o que no final se revelou demorar cerca de 10 minutos.
Curioso… O Ministério da Saúde faz agora conhecer por despacho, a atribuição de competências aos enfermeiros para na triagem pedir exames complementares de diagnóstico e darem analgésicos para controlar a dor. Ou seja, se não detêm médicos suficientes, os utentes saberão pelo menos que estão a fazer exames e com menos dores (mesmo que tal oculte sintomas de algo mais grave).
Mas voltando ao exemplo, não mais do que isso, quando solicitado um cobertor para a utente, a resposta da equipa de enfermagem e auxiliares, em número bem mais ajustado e sempre prestativos, foi não temos. “Os cobertores vão para lavar e não voltam”, afirma um destes elementos.
Convenhamos, que a saúde em Portugal vai muito mal, e verificamos que na unidade pública que nos serve, a mesma política de gestão de recursos humanos nacional, causa forte impacto. Sei que os meios serão sempre insuficientes, mas é patente que estas situações já ultrapassam a imprevisibilidade e se deve apenas e só à falta de gestão e planeamento de quem detém poderes e responsabilidades na política da saúde.
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