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Cléofas Silva é o homem mais velho da Trofa (c/ vídeo)

Entre as memórias que guarda estão a festa da Senhora das Dores, que, garante, era bem menos barulhenta do que agora, e os primeiros sinais de progresso conseguido com a linha de comboio, onde, como carteiro, ia “fechar as malas, à noite”.

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É o homem mais velho do concelho da Trofa e se não fosse uma queda dada em dezembro, ainda pela rua andava, como tanto gostou de fazer ao longo dos mais de cem anos de vida.

Cléofas Oliveira Silva foi registado a 19 de maio de 1920, mas terá nascido uns dias antes, em Santiago de Bougado. Com uma lucidez assinalável, tem histórias para contar que ajudam também a perceber a evolução dos tempos na freguesia onde cresceu e constituiu família.

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Irmão mais novo de oito, cresceu com brincadeiras que se perderam no tempo, como “o jogo do pião, do botão, da roda”, atividades que caracteriza “humildes” para diferenciar “daquelas que existem hoje, caríssimas”, conta.

Do tempo vivido há um século, lembra também a forma como as pessoas se movimentavam, quase sempre “a pé”. O pai, “ia à feira, a Famalicão”, e quando comprava um porco, “tinha de o trazer ao colo”, recorda, entre risos.

Entre as memórias que guarda estão a festa da Senhora das Dores, que, garante, era bem menos barulhenta do que agora, e os primeiros sinais de progresso conseguido com a linha de comboio, onde, como carteiro, ia “fechar as malas, à noite”.

Foi na festa em honra de Nossa Senhora do Desterro, em Bairros, que conheceu a esposa, num triângulo amoroso digno de novela. Primeiro, namorou a irmã, mas “como ela era uma cabeça no ar e não queria um lavrador, mas um engenheiro ou doutor”, preferiu dar uma oportunidade àquela que o acompanhou até há pouco mais de uma década. “Foi uma zanga medonha. A irmã zangou-se, porque não queria que ela namorasse comigo, mas ela teimou e eu, depois da festa, fui ter com ela e combinamos logo o casamento”, lembrou.

Verdadeiro homem dos sete ofícios, Cléofas reconhece que teve “uma vida áspera”, mas sem nunca vergar perante o trabalho. Foi barbeiro, alfaiate, carteiro e lavrador. Trabalhei muitíssimo. Antigamente, era tudo cavado à mão”.

Aos cem anos ia ao casino

Com o fruto da labuta, comprou o primeiro carro já lá vão mais de 60 anos. Era um Citroën e foi adquirido ao patrão, que pediu por ele “dois contos e quinhentos”. Depois, comprou um Volkswagen, com o qual passeou muito, em família. Conheceu muitas cidades de Portugal e de Espanha e também passou por França e Marrocos.

Aos cem anos, ainda ia ao casino sozinho de autocarro, até aparecer a Covid-19, que o obrigou a deixar o hobby.

Com duas filhas, Cléofas reconhece a dedicação que a mais nova lhe presta, a quem atribui o segredo para a longevidade. “Tive sorte. É muito minha amiga, faz tudo o que pode e tem-me ajudado muito, porque senão, já não estava aqui”, refere.

“Esquecido por uns, lembrados por outros”, Cléofas partilha uma das principais lições que aprendeu na vida. “Os que foram mais amigos esqueceram-se de mim, e aqueles em que a amizade era pouca, ainda vão ligando”. Futuro é assunto que, num contexto como este, menos importa, mas Cléofas não se faz rogado e até o projeta com boa disposição. “Um dia, uma cigana quis ler-me a sina e disse que eu ia durar até aos 200 anos. Eu estou à espera de lá chegar”, atira.

Aos 104 anos, Cléofas Silva continua a inspirar muitos de que a vida pode ser plenamente vivida, independentemente da idade.

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