Ano 2012
Atacar o cerne do problema
A situação atual do país, em que mais de um quinto da população portuguesa vive em situação de pobreza, perto de um milhão não tem trabalho e mais de quatro milhões de portugueses estão em risco de pobreza, exige uma redobrada atenção dos governantes, para que as medidas de combate ao défice e ao descalabro das contas públicas não tenham como destinatários perto de metade dos portugueses.
Pelo contrário, deverão ser tomadas medidas urgentes para a resolução efetiva deste grave problema nacional. O défice público ocorre quando o valor das despesas de um governo é maior que as suas receitas. O mesmo acontece às pessoas que gastam mais do que aquilo que ganham e começam a contrair empréstimos e a endividarem-se. A dívida pública de um ano é a dívida pública do ano anterior mais o défice do ano corrente. A dívida do estado português é, grosso modo, o défice acumulado das quatro últimas décadas.
Portugal, num passado recente, endividava-se 48 milhões de euros por dia. Endividava-se dois milhões de euros por hora! Atualmente devemos perto de 200.000 milhões de euros. É mesmo muito dinheiro!?! Os juros da dívida pública são atualmente a maior despesa do estado e consomem cerca de nove mil milhões de euros por ano.
Representam mais do que todo o serviço nacional de saúde. Portugal tem estado a fazer o rollover de muitos milhares de milhões em dívida, que são as condições impostas, que tem de cumprir, antes de ter acesso ao dinheiro necessário para pagar salários, pensões, reformas, subsídios de doença, subsídios de desemprego e também para desenvolver o país, ativando a economia real, que é geradora de emprego. Os governantes precisam de entender o quanto são importantes as empresas e a riqueza que elas criam.
Não se deve diabolizar quem tem ajudado o país a sair do atoleiro em que alguns néscios o colocaram. Os mentecaptos nunca devem ser governantes dos dinheiros públicos. Portugal está cheio de “gorduras”, atolado em dívidas, mas também infestado de Institutos Públicos, Fundações Públicas e PPP – Parcerias Público-Privadas.
Os encargos brutos com as PPP ascendem a perto de dois mil milhões de euros e garantem-se rentabilidades obscenas às concessionárias, da ordem dos 17%; os apoios às Fundações rondam os mil milhões de euros; os Institutos Públicos são às centenas e também custam milhões de euros ao erário público. É um país com vícios de rico, mas em estado de insolvência. Portugal tem uma necessidade premente de baixar o seu défice e nada melhor que atacar o cerne do problema. O governo anunciou, que vai começar a cortar nas “gorduras” do estado. Finalmente! É verdade, que demorou muito tempo a atacar esta “doença”, já há muito diagnosticada, mas mais vale agora do que tarde de mais.
É preciso que os governantes compreendam que foi o estado que viveu muito acima das possibilidades e não a maioria dos portugueses, e que o caminho é estreito entre a austeridade e a democracia. Os governantes devem tudo fazer para que as medidas de austeridade não recaiam sobre os mais necessitados e que a redução do défice seja acompanhada de medidas de crescimento da economia. Sem medos, nem complexos!
José Maria Moreira da Silva
moreira.da.silva@sapo.pt
www.moreiradasilva.pt
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