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Aos 100 anos, como se mantém a imagem de Nossa Senhora de Fátima? Tinta a óleo para limpar a base e um pano húmido sempre que apanhar chuva

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No ano em que comemora 100 anos da sua criação por José Ferreira Thedim, a imagem que pontifica no santuário com o mesmo nome foi, num período de quase de 30 anos, intervencionada e retocada pelo santeiro e pintor da Trofa que, aos 89 anos, foi ao baú recuperar memórias, procedimentos e detalhes para assegurar que a imagem poderá atingir os dois séculos de existência.

“Fui lá muitas vezes retocar a imagem, mas a primeira intervenção profunda foi em 1973 ou 1974, altura em que lhe tirei todos os dourados e fui até ao primário [tratamento de manutenção que é dado a uma peça após ser extraída toda a tinta]”, relatou Boaventura Matos.

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Pese embora o ano da primeira intervenção não ser preciso da parte do santeiro, o santuário admitiu-o como possível à Lusa.

“Parece-nos verosímil que o Sr. Boaventura Matos possa ter feito intervenção na imagem no cenário que descreve (foi também na Casa Dores que fez a última intervenção, em 2000) e em datas mais recuadas, o que não pode é precisar-se, a partir das fontes documentais, essas informações”, respondeu o gabinete de comunicação do santuário.

A intervenção, disse Boaventura Matos, teve de ser feita em Fátima, “por imposição do santuário “e “não foi um restauro difícil” porque, sublinhou, “tinha conhecimentos para o que ia fazer”.

Mas recorda-se de um “trabalho que exigiu atenção e muito cuidado”.

“Depois de fazer a avaliação, expliquei ao reitor o tipo de intervenção necessária, que era preciso retirar a cercadura, aquilo a que chamamos os dourados, que estavam bastante rasurados por causa das intervenções anteriores, pois tratando-se de folha de ouro, de vez em quando vai engrossando”, descreveu.

Na conversa na sua oficina, na Vila do Coronado, rodeado de santos em fase mais adiantada ou atrasada de criação, Boaventura Matos recordou que antes da intervenção fez “uma cópia do desenho em papel vegetal para que depois o restauro ficasse igual”, confessando que ainda hoje guarda esse pedaço de papel.

O santeiro foi “contratado por um escultor fornecedor das imagens do santuário, Avelino Moreira Vinhas”, para um trabalho que “durou uma semana”.

“O pagamento dessa intervenção foi feito ao escultor, pelo que desconheço quanto custou o restauro, sei que ao dia ganhei cerca de 40 escudos [0,19 euros). Trabalhei sempre sozinho numa sala atrás da Capelinha das Aparições e só lá entrava quem eu autorizasse”, revelou o santeiro, recordando ter aberto uma exceção no final dessa semana a “um grupo espanhol, formado por um professor e meia dúzia de alunos da faculdade, que queriam ver a imagem”.

Tantos anos depois desse primeiro contacto com a imagem da Virgem, é de “prazer” e de “comunhão” que fala quando questionado sobre o que sentiu no restauro.

“A imagem marcou-me e continua a marcar, gosto de a ver todos os dias. É uma peça única do José Ferreira Thedim, com quem trabalhei muitos anos. Ele próprio me confessou várias vezes que nunca lhe saiu uma imagem que ficasse tão a gosto. Tem um rosto diferente. Uma expressão que não sei definir. É algo que nos deixa extasiados”, recordou.

Desse tempo recorda também que as ordens foram para a “embelezar o melhor que pudesse, sem olhar a tempo ou a materiais”, congratulando-se, por isso, por ter saído “tudo bem à primeira”.

Boaventura Matos voltou ao santuário em 1992, para nova intervenção de fundo, e a última vez que teve contacto com a imagem foi em 2000, por isso, a convicção com que ficou nessa altura fá-lo afirmar à Lusa que “a manter-se a qualidade dos restauros”, a imagem da Nossa Senhora de Fátima “poderá durar mais 100 anos”.

“Não vejo que o material que se aplica, os primários, esteja contaminado e faça com que a pintura descasque, a imagem não tem sintomas de nada”, afirmou o santeiro.

Para Boaventura Matos o estado de conservação da imagem da santa decorre também da forma como está preservada, bastando “aplicar um pouco de tinta a óleo para limpar a base” sempre que se “registar desgaste provocado pelo transporte pelos funcionários de e para o andor aquando das celebrações”, e que deve ser “limpa com um pano húmido sempre que apanhar chuva”.

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