Ano 2007
Andores são ex-libris da Festa
Os andores da festa de Nossa Senhora das Dores, apesar de não serem os únicos no país, são, em quantidade os mais representativos. Este ano serão dez os enfeitados para manter a tradição, que é quase secular, mas que continua a atrair milhares de forasteiros à Trofa.
Têm cerca de 13 metros de altura, dividem-se em base, oratório e coroa e todos atraem milhares de forasteiros à Trofa todos os anos. Os andores de Nossa Senhora das Dores são o ex-libris da festa que se realiza todos os anos e transportam a memória de outros tempos para o presente.
Numa tradição quase secular, muitos gostam de ver, apreciar e comentar os enfeites de cada andor, mas nem todos estão dispostos a dispender várias horas, dias a fio, para fazer com que estejam prontos no terceiro domingo de Agosto. Aliás, são cada vez menos, aqueles que se "atrevem" a manejar com quilos de alfinetes e metros de cetim. Mário Silva, responsável pelo andor de Nossa Senhora das Dores há 30 anos, da comissão da Aldeia de Paradela, é um dos "sobreviventes", que não pretende ver esta tradição desaparecer com "os novos tempos", apesar de estar "cansado" da "falta de compreensão" das pessoas. "Gosto muito disto, mas este é o último ano para mim. Dá muito trabalho e também fico descontente com a atitude das pessoas que, ao invés de apoiar ou apenas dizerem que não estão dispostas a colaborar, apenas se limitam a espreitar pelo visor da porta e nem sequer aparecem", afirmou entristecido.
Difícil também se torna a tarefa para solicitar a pessoas que estejam disponíveis para transportar os andores no dia da procissão. "São cada vez menos os que querem transportá-los. Este ano tivemos que falar com indivíduos de nacionalidade ucraniana para serem eles a pegarem nos andores", referiu.
Ao todo são gastos cerca de 3000 mil euros, que comportam os gastos da feitura dos andores, que estão compreendidos entre os 1150 e os 2000 euros, e uma contribuição para os homens que pegam nos andores na procissão.
Este ano a procissão contará com dez andores. Para facilitar o seu transporte e evitar constrangimentos, os andores vão ser transportados por carrinhos com rodas, pois carregar aos ombros mais de 400 kilos de fita de cetim e alfinetes não é tarefa fácil. E como a tradição já não é o que era, a coroa do andor da Senhora das Dores é, pela primeira vez construída em fibra e metal, substituindo assim a madeira, tornando o andor "mais leve e mais seguro", assegurou Mário Silva.
Responsável pela decoração dos andores há 3 décadas, José Silva, afirmou que o trabalho desenvolvido pela Funerária Trofense, é todo o manual e conta com materiais novos e outros que já existem há anos. "Em cada ano gastamos cerca de 6 quilos que alfinetes só para o andor de Nossa Senhora das Dores. Temos tecido de várias cores, fitas e outras coisas antigas que já foram feitas há várias décadas, umas que têm à volta de quarenta anos".
Os padrões utilizados são sempre os mesmos, a cada ano que passa, pode-se mudar o local de um ou outro tecido, mas o importante é que tudo "fique a combinar". O andor de Finzes utiliza o amarelo, azul e branco e o da Esprela é ornamentado com tecidos de cor azul, branco e cor de rosa.
No dia da procissão José Silva "levanta-se cedo para organizar o material. Tiramos tudo para fora, em peças e depois deitados encaixamos tudo em cada andor para depois levantá-los". Finda a procissão "o cetim de cor é lavado e passado a ferro para guardar, enquanto que o cetim branco tem de se deitar fora, porque já está picado e não serve para o ano seguinte".
No passado a competição era um estímulo. "Cada um queria que o seu andor fosse o maior e o mais bonito", face ao bairrismo e amor, que as pessoas demonstravam pela sua aldeia. "Até os armadores acabavam por entrar na disputa", referiu. Actualmente a competição já não existe, mas os armadores que se responsabilizam por manter esta tradição viva executam o seu trabalho com a mesma postura com que o faziam há 30 anos atrás, "com a mesma devoção, porque o amor à terra e à festa prevalece".
José Silva, apesar de defender a continuidade desta tradição, também prevê um desfecho para a procissão com os andores "enquanto houver gente antiga não acaba porque isto é uma tradição preciosa da festa da Senhora das Dores. Mas temo que mais ano menos ano isto acabe por desaparecer, e se isso acontecer, as Festas de Nossa Senhora das Dores nunca mais terá o mesmo brilho"conclui.
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