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Ana Moura e António Zambujo no Coliseu do Porto Foto-Reportagem

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O Coliseu do Porto esgotou na noite de sexta-feira para ver, ouvir e aplaudir Ana Moura e António Zambujo, que esta semana se voltaram a juntar em palco. A ideia deste formato de concerto surgiu quando em 2013 o Museu do Fado fez o convite aos fadistas para a realização de um espetáculo a dois no âmbito das comemorações da elevação do Fado a Património Imaterial da Humanidade. A reação do público foi tão avassaladora e estrondosa, que o CCB esgotou com muitos meses de antecedência. Seguiram-se agora os Coliseus, depois de apelos insistentes de fãs de ambos para que o concerto fosse reposto, tendo sido esta uma oportunidade maravilhosa para ver juntos e ao vivo os dois artistas nacionais de maior sucesso em 2013.

A noite no Coliseu abriu com o palco envolto em pouca luz e com as duas vozes a cantarem Despiu a Saudade do álbum Desfado de Ana Moura, tema com letra escrita por Zambujo, que ontem acompanhou a fadista à guitarra. Os músicos foram explicando a viagem que fariam pelas influências comuns, começando pelo fado tradicional, dos tempos em que ambos começavam a dar os primeiros passos na casa Senhor Vinho. Chegado o momento de viagem ao mundo quente das mornas, e com a presença do cabo-verdiano Jon Luz em palco com o seu cavaquinho, Moura e Zambujo cantaram em crioulo Queria Ser Poeta (Paulino Vieira) e Lua Nha Testemunha (popularizada por Cesária Verde). A certa altura, os dois músicos deixaram as cadeiras onde estavam sentados e ensaiaram breves passos de dança, enquanto a banda alargada (juntando músicos de ambos) continuava a tocar. Nesta parte do concerto, fado e morna, inspiração comum aos dois artistas, uniram-se num só corpo. 

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Numa noite especial, houve tempo para uma homenagem a Fausto, uma influência de Ana Moura, que muito divertiu o público que entoou o coro da música em uníssono. Zambujo encantou com A tua Frieza Gela, em moldes arriscados mas belos, com os instrumentos da seção de metais num frenesim. Pelo meio ecos de Caetano Veloso. Numa grande surpresa, a sempre divertida Flagrante de Zambujo foi cantada pela voz quente da fadista. Na troca, Búzios ouviu-se na voz do cantor alentejano. Muito aplaudidos foram entregues ao belíssimo Amor Afoito (do álbum Desfado, com letra de Pedro Abrunhosa) e Algo Estranho Acontece (do álbum Quinto de Zambujo), bem como a E tu Gostavas de Mim com letra de Miguel Araújo. Aliás, de seguida, Araújo por chamamento de Zambujo, dar-se-ia a conhecer numa das tribunas do Coliseu, e o fadista cantaria Reader’s Digest, do letrista dos Azeitonas. Pouco depois, Desfado, o tema que dá nome ao último trabalho de Moura poria todos a cantar, e seria o antecessor da despedida e da saída dos músicos do palco. De pé, o Coliseu do Porto exigiu o encore. Ninguém arredou pé em direção à saída. Zambujo voltou ao palco sozinho para cantar a sua Lambreta, apelando a que se acendessem isqueiros para criar ambiente no interior da sala. Mais tarde Moura cantaria um avassalador Fado Loucura.

Quem esteve no Coliseu do Porto assistiu a um belo concerto, com dois músicos que têm um pé no fado e outro fora, e que são atualmente dois nomes enormes da música portuguesa, que preservam o que de melhor temos na tradição artística nacional dando-lhe novas roupagens e experimentando, numa criação de dois universos que se complementam. Ana Moura grave, com uma voz quente e forte, e António Zambujo o mestre da beleza na fragilidade, na doçura, numa quase inocência (atrevida). Belos.

Texto: Joana Vaz Teixeira
Fotos: Miguel Pereira

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