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Edição 674

Abade Joaquim Pedrosa Um trofense “pioneiro na arqueologia”

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A Homenagem que falta

Joaquim Augusto da Silva Pedrosa nasceu em S. Martinho de Bougado, a 30 de Novembro de 1848, filho de Joaquim Anacleto da Silva Pedrosa e de Angelina Amália da Fonseca Cruz “…foi baptizado aos dez de Desembro do dito mês e anno pelo Abade de S. Thiago de Bougado, Manuel da Cruz Maia…”(prof. Pereira da Silva-Diplomados naturais de S. M. Bougado, in O Concelho de Santo Tirso…)
Frequentou o liceu de Braga e em 1866, com dezoito anos de idade, pede admissão ao seminário do Porto, sendo admitido em 27/10/1866. Recebe as Ordens Menores, faz exames de Canto, Reza e Cerimónia, e após ter recebido a obtenção do Santo Padre do chamado “Breve Apostólico” e da Permissão Régia para ser presbítero, é ordenado sacerdote em 19/07/1874 pelas mãos do então bispo do Porto D. Américo Ferreira dos Santos Silva. Nesse mesmo ano é nomeado pároco da vila de Santo Tirso, onde se manteve até ao seu falecimento, ocorrido em 9 de Fevereiro de 1920. Os seus restos mortais jazem numa campa rasa no cemitério de Santo Tirso.
O seu perfil humanista manifestou-se em várias áreas do domínio social e humanitário, tendo granjeado ao longo da sua vida uma enorme influência na comunidade científica e cultural da época, como tem sido vincado por vários historiadores desta região…

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Achados/descobertas arqueológicas mais emblemáticas ou desenvolvidas pelo Abade Pedrosa

Há muito poucas fontes para o estudo da actividade de investigação do sacerdote-arqueólogo Joaquim Pedrosa; contudo, não restam dúvidas de que o clérigo trofense foi não só um arqueólogo “amador”, como também um apaixonado pela investigação da história local; assim o atestam alguns estudiosos desta área. Enquanto arqueólogo, foi um destacado colaborador de Martins Sarmento, de Guimarães, tendo-se distinguido pelos inúmeros achados arqueológicos que efectuou, assim como as escavações que dirigiu, sobretudo nas diversas freguesias que compunham à época o concelho de Santo Tirso. Foi sócio da Associação dos Arqueólogos e Arquitectos Civis desde 1895. Quatro anos, volvidos é integrado na Sociedade Martins Sarmento, na classe de Sócios Correspondentes…
Da sua vasta actividade em prol da arqueologia nesta região nortenha, salienta-se a seguir as “descobertas” mais importantes, sobretudo as referentes às freguesias trofenses, embora tivessem sido muitos os seus trabalhos arqueológicos efectuados nas freguesias do concelho tirsense:
Em 1883, Martins Sarmento, numa das visitas à vila de Santo Tirso, dá uma volta ao Mosteiro com o Abade Pedrosa e“identifica a lápide romana dedicada a Turíaco, que analisa detalhadamente, dando início ao processo de desmistificação da lápide do ‘soldado que venceu Viriato, da qual publicaria uma extensa nota, utilizando os documentos fotográficos disponibilizados pelo Abade (Sarmento 1884, 303-304)”. Sarmento, referirá mais à frente sobre este assunto que ficou surpreendido, pois não imaginaria que “houvesse em Santo Tirso uma inscrição romana. O Sr. Abade Pedrosa…avivou-me a memória, dizendo que era esta a lápide, em que os nossos epigrafistas viam o soldado que venceu Viriato”. A referida inscrição romana encontra-se incrustada na parede norte do primeiro claustro do antigo mosteiro beneditino.
O ano de 1888 é pródigo em descobertas/achados realizados pelo Abade Pedrosa: Assim, este descobre um esconderijo de fundidor no lugar de Abelheira-S. Martinho de Bougado. É aqui que “graças à intervenção” do Abade de Santo Tirso, “…a Sociedade Martins Sarmento fez a aquisição de machados de bronze apparecidos há tempo em S. Martinho de Bougado. Segundo parece, o número de machados de bronze subia a trinta e quatro…” Nota: Em referência a estes machados, quem visitar a “Sociedade Marrtins Sarmento”, hoje Museu Martins Sarmento, poderá localizar na “Vitrina 3” da Secção de Indústrias pré e proto-históricas” uma numerosa colecção de machados de bronze, composta por 28 ‘Palstaves’, de duas aletas, e fragmentos de mais um, provenientes do esconderijo de Abelheira, S.M. Bougado…”
No mesmo ano de 1888 há a descoberta de duas Mamoas em Ervosa. Foram descobertas “numa bouça próxima da estrada da Trofa para Santo Thyrso…”
Entretanto, e ainda em 1888 (mês de Agosto), o Abade Pedrosa desenvolve diligências no sentido de evitar a destruição dos marcos miliários descobertos na Trofa Velha, no momento da reconstrução da ponte sobre o rio Sedões.
Em 1894, em carta, datada de 06.05.1894, o Abade Pedrosa informa Martins Sarmento do aparecimento e natureza de espólio numismático: São moedas de prata, descobertas no Castro de Alvarelhos e da época de Augusto…
1894-3 Monumentos: uma Ara e Dois Pilares em Guilhabreu.
Em 1898, a Direcção das Obras Públicas encarregou o Abade Pedrosa do serviço de colocação dos marcos miliários da Trofa Velha (que haviam sido roubados) no respectivo lugar, pondo à sua disposição os funcionários que fossem necessários. Martins Sarmento, em reconhecimento deste grande empenho a que se propôs, à causa pública o Abade de Santo Tirso, fez a seguinte declaração laudatória:”Este serviço e não poucos mais, têm os amigos da antiguidade de os agradecer ao snr Abade de Santo Thyrso, um modesto e infatigável trabalhador, a quem devo valiosos obséquios, que folgo muito de tornar públicos.”
O Abade Pedrosa, ainda em vida, teve ocasião de “ver algum do seu trabalho” reconhecido pelos seus paroquianos e também das autoridades civis da altura. Assim, em 1915 houve uma grande exposição dos seus trabalhos, apelidados na altura de “espécies arqueológicas” nos claustros do Mosteiro de S. Bento tendo o “evento” sido notícia no “Jornal de Santo Thyrso”.
Os achados arqueológicos do Abade Pedrosa e a criação do Museu Municipal Abade Pedrosa
Após o falecimento do Abade Pedrosa, aparece uma proposta da criação de uma Biblioteca Municipal e Museu Regional (20 de Abril de 1933) anexo em carta dirigida ao Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Mário Faria Carneiro Pacheco. A proposta veio do advogado e poeta tirsense Alexandre Córdova. A proposta foi aceite e em 1940 o Presidente Mário Pacheco, negociou com os herdeiros do Abade Pedrosa “ os termos da doação do espólio arqueológico que compunha a sua colecção…”
Deliberação (Acta de 4 de Março de 1940, item f )que se passa a transcrever:
“(…) Comunicou o senhor Presidente que entabulara negociações com a excelentíssima família Pedrosa, desta vila, herdeiros e representantes do falecido pároco Joaquim Augusto da Fonseca Pedrosa, a fim de se transferir para o museu municipal o curioso fundo de fósseis, minerais e objectos pré-históricos e históricos que aquele apaixonado tirsense e distinto arqueólogo recolheu e coligiu com destino a um museu local, que iniciou e se encontra em precárias circunstâncias de segurança e em risco de destruição e desaparecimento, nos claustros do convento Beneditino,(e tem comunicação)digo tem satisfação de comunicar que a Excelentíssima irmã e os escelentíssimos sobrinhos do fundador generosamente ofereceram ao município aquela colecção, com a condição de, depois de inventariada, ser conservada e patente gratuita ao público no Museu Municipal e jamais ser negociada ou por qualquer forma diminuída ou dispersada. A Câmara congratula-se com tão meritória resolução e deliberou aceitar reconhecida a oferta nas condições indicadas, incorporar desde já o valioso espólio no Museu Municipal, dando, em homenagem ao infatigável investigador o nome de Abade Pedrosa ao dito museu, o que tudo se comunicará à família e se dará à publicidade(…)”. Em 10 de Março de 1989 seria inaugurado oficialmente o Museu Municipal Abade Pedrosa pelo então Vice-Primeiro Ministro Engº. Eurico de Melo.

A. Costa

Bibliografia consultada: Biblioteca de Santo Tirso-Museu Municipal Abade Pedrosa: Colecção Arqueológica; Município da Trofa: Cadernos Culturais (O Abade Pedrosa – Um Arqueólogo Trofense)

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