Edição 658
A máquina de propaganda – Parte 2 – Porquê
Não que eu me sinta na obrigação de justificar as minhas iniciativas na busca de respostas e transparência, que a sociedade democrática da qual faço parte me permite levar a cabo, mas sinto que ainda pairam algumas nuvens de suspeição sobre as forças que movem um indivíduo exterior ao sistema político-partidário para se envolver, em certa medida, numa arena que uma certa tradição tacanha queria reservar para os profissionais da política partidária. Outros tempos.
Assim, decidi introduzir um capítulo extra nesta história que tenho para vos contar, na tentativa de esclarecer quem acompanha e acompanhará este conjunto de crónicas sobre as minhas motivações e a importância que considero ter o caso em questão.
A Oxford Dictionairies escolheu “pós-verdade” como palavra do ano de 2016. Para a editora, o termo traduz-se numa conjuntura em que apelos de natureza emocional se sobrepõem a factos objectivos na formação da opinião pública. E se há momento durante o qual o emocional se impõe de forma musculada à razão, esse momento é o da campanha eleitoral. A publicação britânica define ainda “propaganda” como “informação, em particular de natureza tendenciosa e enganadora, usada para promover uma causa ou ponto de vista político”. Pós-verdade, campanhas eleitorais e propaganda. Manipulação emocional, informação tendenciosa e causas políticas.
A campanha eleitoral de 2013 ficou marcada por uma manobra que na Trofa não tem precedentes, e que encerra em si a pós-verdade, a manipulação emocional e a informação tendenciosa. Não satisfeita com a contratação de uma empresa de assessoria de imprensa, a coligação Unidos pela Trofa decidiu apadrinhar a criação de um órgão de comunicação social, o Correio da Trofa, cuja equipa consistia num misto entre membros da empresa de assessoria contratada e elementos ligados ao PSD e ao CDS-PP. A então esposa do proprietário da empresa, Zita Formoso, presença assídua durante a campanha eleitoral, viria a tornar-se posteriormente chefe de gabinete de Sérgio Humberto.
Nos meses que antecederam a eleição, o jornal foi afinado com precisão para destruir Joana Lima. Havia um editorial que ninguém assinava e que servia essencialmente para lançar suspeitas e fazer ataques pessoais contra a autarca, ao mesmo tempo em que eram conduzidas entrevistas cujos destaques iam no mesmo sentido. Paralelamente, a glorificação do candidato Sérgio Humberto, cujo percurso político era exclusivamente interno, com a excepção de uma avença muito bem paga para poucas horas de trabalho semanais do tempo do executivo Bernardino Vasconcelos, bem como daqueles que o rodeavam, foi exímia.
Chegados ao dia da eleição, com muitos dos boatos e dos ataques pessoais laboratorialmente criados no Correio da Trofa transformados em verdades absolutas nas bocas e mentes de muitos trofenses, a coligação PSD/CDS-PP derrotou o PS nas urnas. Desde então, entre proprietários e colaboradores, ajustes directos e publicidade, mais de 100 mil euros fluíram dos cofres da autarquia para o bolso de pessoas que participaram activamente na eleição de Sérgio Humberto.
O fluxo do dinheiro, os felizes contemplados e as ligações menos óbvias serão alvo de análise nos próximos capítulos. Hoje pretendo apenas sublinhar que os trofenses têm o direito de saber como é gasto o seu dinheiro, principalmente se e quando ele serve interesses que não os da Trofa, como é o caso, mas os de políticos ambiciosos e pouco dados à transparência. E numa era de mentiras rebaptizadas de pós-verdades, esclarecer a opinião pública com factos é, no meu entender, de absoluta importância. É a minha motivação. A minha luta.
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