Ano 2007
A bússola e o leme
O tempo de férias não tem retirado campo de análise política. A situação económica dos portugueses está de tal forma deteriorada, que é difícil olhar para o lado e assobiar. Apesar de ser um chavão, é bem verdade que a crise toca a todos.
E mais não fosse, bastaria atentar na subida vertiginosa de emigrantes portugueses: sobretudo entre os mais jovens, as portas fechadas em Portugal levam-nos a procurar outros destinos que possam oferecer trabalho humanamente remunerado e condições de vida dignas. Outra subida, também ela vertiginosa, que nos faz espécie, é a das taxas de juro, o que necessariamente faz aumentar os encargos com os empréstimos para a aquisição de habitação própria.
Ora, apesar de esta situação ser reflexa de políticas cujas decisões já não se centram em Portugal, mas no seio da União Europeia, o que é certo é que do lado dos nossos governantes, poucas acções se vêem ser tomadas para diminuir as consequências negativas sobre os cidadãos portugueses.
E para além dos governantes, o que se têm visto da oposição?
Ora, os políticos na ribalta devem assumir o ritmo da lua: ora estão presentes e bem visíveis, ora se recolhem ao lado oculto, não cessando, porém, de existir.
Esta foi a lição que a esquerda em Portugal aprendeu nos últimos tempos. À excepção da continuidade de Francisco Louça, todos os outros partidos na esquerda do espectro político português souberam reaproveitar os recursos humanos menos desgastados e trazer novos actores à cena. E apesar de não constituírem qualquer nova geração, lograram, ainda assim, trazer uma nova visão. Não uma nova visão para Portugal, mas sim uma nova visão para a esquerda. Porquê? Pois bem, sem embargo de tomarem em mãos algumas das bandeiras da esquerda moderna (interrupção voluntária da gravidez, casamentos homossexuais, adopção por casais homossexuais, entre outras), na verdade trouxeram para o domínio da esquerda, na essência, o programa político da direita portuguesa. Ou seja, novos actores no mercado (in casu, da política) lançaram uma OPA sobre os ideais de Estado, Defesa, Finanças, Trabalho e Economia da direita em Portugal. E venceram.
Como tal, no presente assistimos a uma batalha redundante: o Governo soube ir procurar as propostas da direita, deram-lhe uma nova roupagem e retiraram capacidade de oposição ao PPD-PSD e ao CDS-PP no Parlamento, limitando as questões à discussão de aspectos formais. À excepção da tendência do PS em regulamentar o exercício do jornalismo em Portugal (o que não é originalidade desta legislatura), e da vontade obstinada em reordenar os sistemas de informação do Estado (Intelegence), atribuindo poderes de direcção directa ao Governo em muitos casos de investigação e olvidando-se os meios de fiscalização com certo grau de independência, em que o que está em causa são, verdadeiramente, visões diferentes das funções do Estado e sua actuação perante os cidadãos, no resto, não existem divergências de vulto na substância.
Dest'arte, permito-me discordar da opinião publicada recentemente por José Miguel Júdice: não me parece que a solução, para a direita portuguesa, seja a criação de um partido político abrangente, que se erga dos escombros do PPD-PSD e do CDS-PP: se bem que em termos económicos as sinergias resultantes das fusões determinem um crescimento exponencial, não creio que seja possível fazer a analogia no campo das ideologias. Júdice tem razão quando afirma que os actuais actores políticos à direita têm a imagem gasta, os movimentos tolhidos e nula manobra de progressão. Mas o tempo é de recolhimento e reflexão. Os dirigentes têm de provir de uma nova geração, indelevelmente ligada à sociedade civil, pouco dependentes do aparelho partidário e sem interesses ou ligações ao sector público. Descomprometidos. Completamente livres…
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