Ano 2007
CAVACO ESQUECEU SOARES – Presidente de todos os portugueses?
A propósito do 50.º aniversário do Tratado de Roma, que deu origem à actual União Europeia, o Presidente da República organizou uma cerimónia comemorativa, em Lisboa, no Palácio de Belém, e convidou aqueles que considerou os executivos mais representativos.
Foram convidados todos os Ministros dos Negócios Estrangeiros, Secretários de Estado da Integração Europeia, Comissários, Altos Funcionários, e Directores-Gerais que estiveram na Comissão.
Foram convidados muitos ex-ministros, ex-qualquer coisa, desde que ligados à adesão e integração europeia.
Nesses critérios, o Presidente da República, como que num golpe da amnésia, esqueceu-se daquele que foi o principal impulsionador da adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia.
Cavaco Silva esqueceu-se que, na época, colocou em causa a adesão à CEE porque isso lhe interessava porque pretendia romper a coligação governamental da altura.
Na época, havia um Governo do bloco central que teve como principal prioridade a recuperação económica do país que tinha sido depauperada por uma governação desastrada do anterior Governo do PSD.
Essa recuperação económica teve custos polìticos e Cavaco estava ansioso por romper o acordo de governo.
Mário Soares, como todos os grandes líderes, tem os seus detractores. Todos os grandes líderes são polémicos. Porque tomam opções, às vezes difíceis, e não vivem de pequenas vinganças ou invejas.
Cavaco Silva comportou-se agora com um sectarismo que em nada abona, sobretudo nas funções que desempenha.
Não é por este gesto tremendamente infeliz de Cavaco que Soares deixa de ser um dos portugueses mais importantes do século XX e até do século XXI.
Tudo indicava que Cavaco Silva, enquanto Presidente da República, ia ser diferente daquele Cavaco Silva que foi Primeiro-Ministro.
Cavaco Silva, Primeiro-Ministro, foi uma personalidade sectária que chefiou um Governo sectário.
Este acto foi impróprio de alguém que pretenda ser o Presidente de todos os portugueses.
Os tiques de sectarismo acabaram por se revelar e, afinal, Cavaco Silva não tem a pretensão de ser o Presidente de todos os portugueses, mas sim aquele mesmo que descriminava descaradamente as autarquias que lhe eram adversas.
Quem se lembra ainda de o Governo liderado por Cavaco Silva ter mandado a Polícia Judiciária às Câmaras adversárias levantar as célebres antenas parabólicas, esquecendo-se de fazer as mesmas visitas às Câmaras do seu partido que tinham também antenas parabólicas?
Nessa época, houve grandes problemas com o sinal de televisão e muitas Câmaras Municipais colocaram antenas para que o sinal chegasse em melhores condições `população.
Aquele Cavaco Silva autoritário parecia ter desaparecido e dado lugar a um Presidente ponderado e figura pacífica na nossa classe política.
Afinal, enganei-me. Guardou bem guardado o seu grande ódio de estimação e, na primeira oportunidade, permitiu que o seu sectarismo viesse ao de cima.
Esse gesto só o diminui.
Quanto a Mário Soares, até por não se ter manifestado, sai engrandecido.
Os grandes homens não necessitam destes convites para se afirmarem. A afirmação de Soares foi feita pelo tempo e constará da História.
Cavaco, com este gesto mesquinho sai diminuído e nunca será homem para ficar na História, até porque não se lhe conhece obra ou iniciativa que o justifique.
Estas pequenas vinganças mesquinhas não engrandecem quem quer que seja.
Afonso Paixão
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