Crónicas e opinião
Cantinho da Saúde | Exercício físico: 30 minutos por dia, zero motivação por semana
“De forma algo paradoxal, muitos continuam a associar a prática de exercício físico a um esforço intenso, quase punitivo, quando aquilo que mais importa é precisamente o contrário: a regularidade, mesmo que em pequenas doses. “

Com a chegada da primavera, os dias tornam-se mais longos, o ar mais ameno, e a disposição, em teoria, mais leve. Esta é, por excelência, a estação dos recomeços. A luz natural prolonga-se para além do horário de trabalho, e a natureza convida a sair de casa. A paisagem transforma-se e, com ela, muitos sentem também o desejo de transformação pessoal.
É geralmente nesta altura que, assistimos ao habitual renascimento das boas intenções.
Pessoas que durante o inverno se queixaram de fadiga persistente, de algum desânimo ou de dores crónicas associadas ao sedentarismo, regressam agora com um novo plano. O entusiasmo é genuíno. A motivação, no entanto, nem sempre é duradoura. A recomendação da Organização Mundial da Saúde é clara: pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana, o que equivale a 30 minutos por dia, cinco vezes por semana. Os benefícios estão mais do que comprovados. Redução do risco cardiovascular, controlo do peso corporal, melhoria da qualidade do sono, regulação da pressão arterial, aumento da energia e da disposição mental. O exercício físico é, de facto, uma das intervenções com maior impacto positivo na saúde global de qualquer indivíduo.
Apesar disso, a prática regular de atividade física continua a ser um desafio para grande parte da população. Em muitos casos, não é a falta de informação que impede a mudança, mas sim a dificuldade em transformar intenção em ação. Os obstáculos mais frequentemente relatados são a ausência de tempo, a fadiga acumulada, a desmotivação e, não raras vezes, a frustração por não conseguir manter uma rotina consistente.
De forma algo paradoxal, muitos continuam a associar a prática de exercício físico a um esforço intenso, quase punitivo, quando aquilo que mais importa é precisamente o contrário: a regularidade, mesmo que em pequenas doses. Uma caminhada de 15 minutos, subir escadas em vez de usar o elevador, uma breve sessão de alongamentos ao final do dia — tudo isto conta.
O corpo não exige heroicidades, mas sim constância.
O início da primavera pode ser, por isso, uma excelente oportunidade para repensar a relação que temos com o nosso próprio corpo. O ambiente convida ao movimento. A luz natural tem impacto direto no nosso humor e na nossa energia. Estabelecer uma rotina de atividade física nesta fase do ano pode ser mais fácil do que noutras, e mais sustentável a longo prazo.
É importante desmistificar a ideia de que é necessário estar motivado todos os dias para fazer exercício. A motivação é útil, mas não é estável. O que realmente sustenta uma rotina saudável é a criação de hábito e, sobretudo, a consciência de que estamos a investir em bem-estar. Tal como tomamos medicação de forma preventiva, também o exercício deve ser encarado como uma forma de cuidar, e não apenas de reagir.
Cuidar do corpo é um ato de responsabilidade. Não apenas para com o presente, mas com o futuro. A saúde não se conquista num dia, mas constrói-se todos os dias, com escolhas pequenas, mas consistentes. E, nesta primavera, talvez o primeiro passo não precise de ser maior do que uma simples caminhada à luz do fim de tarde.
Porque o verdadeiro objetivo não é alcançar um ideal de forma física, mas sim garantir que nos sentimos bem no corpo em que habitamos. E, por vezes, isso começa com um gesto tão simples quanto sair de casa e deixar o corpo fazer o que ele sabe — mover-se.
