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Folha Liberal | Liberalismo e Sindicalismo
“É verdade que o liberalismo defende a liberdade individual, a livre concorrência e a limitação da intervenção estatal. No entanto, isso não significa que seja contra a livre associação de trabalhadores para defender os seus direitos e interesses.”

Há dias, em conversa com um amigo que vive fora do país, ele contou-me que, com o encerramento da empresa em que trabalha, o sindicato estava a fazer um trabalho espetacular ao defender os interesses dos empregados. Disse-me que sabia que eu era liberal e, por isso, não gostava dos sindicatos, mas que, neste caso, o sindicato estava a fazer um trabalho verdadeiramente notável.
Esta conversa fez-me refletir sobre um tema que, à primeira vista, pode parecer paradoxal: a relação entre o liberalismo e o sindicalismo. A sua surpresa ao descobrir que, apesar de me considerar liberal, não ser avesso aos sindicatos, levou-me a perceber que existe um equívoco comum sobre esta questão.
É verdade que o liberalismo defende a liberdade individual, a livre concorrência e a limitação da intervenção estatal. No entanto, isso não significa que seja contra a livre associação de trabalhadores para defender os seus direitos e interesses. Pelo contrário, a liberdade de associação é um princípio fundamental do liberalismo, e por isso nunca poderia ser contra a livre adesão dos trabalhadores aos sindicatos.
Acredito que os trabalhadores têm o direito de se organizar em sindicatos para negociar coletivamente com os empregadores. Essa negociação coletiva pode resultar em melhores salários, condições de trabalho mais seguras e outros benefícios para os trabalhadores.
A intervenção do Estado nas relações laborais, por outro lado, é algo que me desagrada, pois pode distorcer o mercado e criar ineficiências. Acredito que as questões laborais devem ser resolvidas, sempre que possível, entre empregadores e trabalhadores, através da negociação direta ou da mediação de sindicatos.
Em situações como o encerramento de empresas, os sindicatos podem desempenhar um papel crucial na defesa dos direitos dos trabalhadores. Podem negociar indemnizações justas, garantir o cumprimento das obrigações legais da empresa e apoiar os trabalhadores na procura de novos empregos.
No entanto, é importante reconhecer que nem todos os sindicatos são iguais. Alguns podem ser mais eficazes do que outros na defesa dos interesses dos trabalhadores. Conhecemos, certamente, muitas situações em que os sindicatos não demonstram preocupação pelos interesses dos seus associados, parecendo mais interessados em fazer política, usando os trabalhadores como peões.
Da mesma forma, nem todos os empregadores são justos e razoáveis, pelo que a luta dos empregados é, muitas vezes, plenamente justificada.
Fiquei também a pensar como é que eu poderia ser contra uma entidade que está a fazer, nas palavras do meu amigo (a que dou todo o crédito), “um trabalho mesmo muito bom”.
Acredito que o liberalismo e o sindicalismo podem coexistir e complementar-se. O liberalismo fornece o quadro para a liberdade individual e a livre concorrência, enquanto o sindicalismo oferece uma forma de os trabalhadores se protegerem e defenderem os seus interesses.
O importante é encontrar um equilíbrio que permita a liberdade de associação e a negociação sindical, sem distorcer o mercado ou criar ineficiências.
A conversa com o meu amigo levou-me a refletir sobre a minha própria experiência. Como liberal, sempre defendi a liberdade de associação e a negociação com os sindicatos. Acredito que os sindicatos podem desempenhar um papel importante na defesa dos direitos dos trabalhadores e até das empresas, desde que atuem de forma responsável e transparente.
O liberalismo e o sindicalismo não são necessariamente incompatíveis. Acredito que ambos podem desempenhar um papel relevante na promoção da justiça social e da prosperidade económica. O essencial é encontrar um equilíbrio que permita a liberdade individual e a negociação coletiva, sem distorcer o mercado ou criar ineficiências.