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Crónicas e opinião

Escrita com Norte | Febre de sábado à noite

“Já passou uma eternidade desde os meus tempos de “morcego”… já não sei aonde ir! Tinha que perguntar.”

José Calheiros

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Logo vou jantar com a A, com a B, com a C, com a D e com a E. Queres vir? Não queres pois não?

Não. Vai tu! – respondo.

A pergunta a condicionar a resposta, poderia ser apenas a transmissão do facto, “Logo vou jantar com as minhas amigas e tu não vens.”.

Nos últimos tempos as minhas noitadas de sábado são no máximo até às sete e meia da tarde, quando prolongo um pouco mais o meu treino no ginásio, mas hoje, só hoje, seria diferente e a noitada seria de arromba, quem sabe até à meia noite!

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Depois de jantar vou para o quarto de vestir onde me preparo: cinto castanho, da cor dos sapatos com fivela, calças de ganga de modelo bonito, camisa e blazer azul.

Olho-me ao espelho, a cara brota um sorriso e sinto-me em modo “pito”.

Vou sair. – digo a mim mesmo e de imediato pergunto-me – Mas como é que se sai?

Já passou uma eternidade desde os meus tempos de “morcego”… já não sei aonde ir! Tinha que perguntar.

Telefono ao meu amigo Miguel, solteiro, que não me atende, mas mais tarde envia-me uma mensagem a dizer que está numa festa em Santo Tirso. De seguida telefono ao meu amigo Nando, divorciado e a morar em Famalicão… não atendeu e iria telefonar-me no dia seguinte, não lhe atendi! Deveria querer saber aonde se vai ao domingo à tarde, vou-lhe dizer amanhã, segunda-feira!

Saio de casa e ao entrar no carro decido ir a Santo Tirso, ao fundo da minha rua mudo de ideias e, decidido, corto para Famalicão e ao cimo da estrada faço inversão de marcha e retomo a estrada para Santo Tirso.

Chegado à cidade estaciono o carro no sítio do costume, quando lá vou durante o dia, e dirijo-me para o centro, uma zona de bares e esplanadas. O tempo estava agradável e muita gente passeava na rua, novos, velhos, grupos de amigos e casais, alguns a correr num jogging nocturno e outros a passearem os cães. Decidi-me por uma esplanada, dirijo-me ao balcão e peço um café à menina que me atende, que sorriu… e eu sorri e sentia-me… bem… tinha vinte anos outra vez e a aliança no dedo anelar era mais um acessório como o cinto castanho!

Paguei e saí… depois de cinco passos, bem contados, olhei para trás e a miúda estava a atender outra pessoa, de perfil para mim, quase que olhou… a noite era minha!

De regresso à Trofa e com o ponteiro das horas quase a bater as doze, passo no café/bar Malte, que fica a caminho de minha casa e que apenas conheço na dimensão “café”, quando lá passo durante o dia para tomar… café.

Havia um concerto acústico e pela primeira vez, neste espaço, peço uma cerveja. Encontrei gente amiga que não encontro durante o dia e que os conheci, há muitos anos, depois das vinte e três horas. Ao balcão e convicto que elas não me queriam ver só de costas olhei para as mesas… as miúdas estavam felizes, bem acompanhadas pelos namorados e amigas!

Num momento em que olhava para as minhas mãos, sinto um chapadão nas costas acompanhado por um viçoso:

CALHEEEIIIIIROSSS!

Era o meu amigo Mário Velhote, personagem que conheço há mais de trinta anos e já na altura tinha este nome. O Mário é simpático, nas discotecas passava o tempo na pista a dançar (para mim a tentar não cair) e sempre que o encontro, desde o dia que o conheci, está bêbado.

Na conversa possível, entre alguém sóbrio e um amigo bêbado, o Mário diz de forma bem audível para quem quisesse ouvir:

O Calheiros era o rapaz mais bonito da Trofa!

Com a frase fiquei mais embriagado que o próprio Mário e, como um adolescente numa saída de sábado à noite, digo-lhe:

Queres curtir comigo?

O Mário, que só gosta de cervejas, vira-me costas e vai-se embora!

Esqueci-me que além de meu amigo, o Mário só é bêbado! Olho para o relógio e é meia noite e quinze.

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