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Trofa

26 anos depois, o futuro ainda não passou por Trinaterra

“Seja na localização das obras públicas, seja nas escolhas para administração pública, seja em certos concursos e procedimentos pouco dados à transparência, a verdade em que nem todos emergimos ainda da noite e do silêncio.”

João Mendes

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No dia em que estas palavras chegarem até si, caro leitor, o aniversário do nosso concelho já terá passado. No dia em que as escrevo, porém, ainda não. Motivo que me leva a usar esta crónica para desejar um feliz aniversário ao concelho da Trofa, a todos os trofenses, com votos de mais crescimento, mais prosperidade para todos e mais democracia. Que o nosso concelho conte muitos e bons. E certamente irá contar.

Todos os anos assinalamos os feitos do passado, o desenvolvimento de uma terra que começou por ser pequena, a força das suas gentes que a engrandeceram e que lutaram pela autonomia, e aquela madrugada que todos esperávamos, que se fez dia inicial inteiro e limpo, para sempre guardado na memória daqueles que, como eu, tiveram o privilégio de lá estar, em frente à Assembleia da República, até ao histórico anúncio que nos chegou da varanda do hemiciclo.

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A Trofa emergiu da noite e do silêncio. Os trofenses tomaram as rédeas do seu destino. A nossa economia e empresas expandiram-se. A infraestrutura pública desenvolveu-se de tal forma que, para os nossos bisavós, seria, em parte, irreconhecível. Somos mais, temos mais e podemos mais.

No entanto, e apesar das muitas vitórias colectivas, ainda nos deparamos com situações que, 26 anos depois, há muito deveriam estar corrigidas. Exemplo disso são as muitas famílias de Trinaterra, em São Mamede do Coronado, a quem o abastecimento público de água ainda não chegou.

Famílias que, sendo tão trofenses como qualquer família de São Martinho de Bougado, dependem, em 2024, de um poço gerido pela junta de freguesia.

Famílias que, ao contrário da esmagadora maioria dos trofenses, têm um depósito de água no telhado para as suas necessidades.

Famílias que chegaram ao ponto de ficar 3 dias sem água, no Verão, dependendo de terceiros para tomar banho e de garrafões de água para cozinhar.

É vergonhoso que, num concelho onde se executam obras que derrapam mais de um milhão de euros, onde se gastaram centenas de milhares de euros em veículos de propaganda política, como o defunto Correio da Trofa, e onde se torram milhares de euros em cortes de fitas, favores e viciações, estas pessoas continuem a depender de sistemas arcaicos para ter água em casa.

E tudo isto, note-se, num dos concelhos do país onde, apesar das reduções irrisórias que não pagam os outdoors de propaganda, se continua a pagar uma das mais elevadas facturas de impostos locais.

Mas sim, eu sei. Também foi nisto que os trofenses votaram, e a decisão colectiva, expressa na soberania da maioria, é quem mais ordena.

Mas não deixa de ser triste, e digno de registo, que o futuro continua a ser demasiadamente selectivo na forma como passa por aqui. Seja na localização das obras públicas, seja nas escolhas para administração pública, seja em certos concursos e procedimentos pouco dados à transparência, a verdade em que nem todos emergimos ainda da noite e do silêncio.

É pena. O concelho da Trofa tem tudo para dar certo. E vai dar.

Feliz aniversário, “rainha de toda a terra que o Douro tem”.

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