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Marcha do Orgulho LGBTQIA+ para “dar abanão” à Trofa

Apesar do pequeno número de participantes, o impacto da marcha foi sentido, pelas ruidosas palavras de ordem, que fizeram muitas pessoas saírem à rua para perceber o que estava a acontecer. Os comentários depreciativos também se ouviram, aqui e ali.

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A Trofa fez história a 7 de setembro, com a realização da primeira Marcha do Orgulho LGBTQIA+. Organizado por um pequeno grupo local, o evento reuniu cerca de 20 pessoas e foi seguida de perto por um forte dispositivo de segurança, com a presença de militares da GNR e agentes da Polícia Municipal, devido a preocupações com eventuais retaliações.

João Silva, conhecido pela sua personagem drag “Kristall Queen”, foi um dos rostos mais visíveis na organização do evento. Em entrevista, explicou que a ideia de trazer a marcha para a cidade surgiu da perceção de que “a Trofa precisava de uma manifestação assim”. “Ainda há muita homofobia e transfobia por aqui, tanto nas escolas como nos locais de trabalho. A nossa marcha é uma forma de chamar a atenção para estas questões”, afirmou.

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Apesar do pequeno número de participantes, o impacto da marcha foi sentido, pelas ruidosas palavras de ordem, que fizeram muitas pessoas saírem à rua para perceber o que estava a acontecer. Os comentários depreciativos também se ouviram, aqui e ali.

“A nossa esperança é que esta manifestação ajude a mudar mentalidades. Queremos mostrar que temos o direito de ser quem somos, sem invadir a liberdade de ninguém”, reforçou João Silva.
A organização da marcha, contudo, não esteve isenta de críticas. “Vimos comentários desagradáveis nas redes sociais quando a marcha foi anunciada”, relatou João. Este tipo de hostilidade reflete um ambiente social que, segundo o jovem, ainda é profundamente intolerante. João, que cresceu e trabalhou na Trofa, revelou ter sido vítima de vários episódios de homofobia. “Trabalhei numa pastelaria onde, apesar de os meus patrões serem cinco estrelas, os clientes frequentemente me insultavam. Uma vez, um cliente pediu que o ‘paneleiro atrás do balcão’ o fosse atender”, recordou.

Para o ativista, a presença de uma forte segurança durante a marcha foi essencial, considerando o medo que ainda persiste entre a comunidade LGBTQIA+. “Até a GNR nos perguntou se esperávamos algum tipo de violência ou preconceito. Infelizmente, é uma possibilidade sempre presente, e muitos de nós têm medo de andar livremente nas ruas”, lamentou.

“O ativismo começa em casa”

“Sem ódio, sem dor, queremos nossos filhos educados com amor”. A frase proferida dezenas de vezes naquela tarde surgiu por iniciativa de Eulália Almeida, uma veterana ativista pelos direitos LGBTQIA+ e membro da Associação de Pais e Mães pela Liberdade e Orientação Sexual (AMPLOS), que fez questão de marcar presença na marcha. Aos 73 anos, tornou-se uma figura proeminente no apoio aos jovens LGBTQIA+ e às suas famílias, uma luta que começou após descobrir que o seu filho era homossexual.

“Quando soube da orientação do meu filho, a minha primeira reação foi tentar compreendê-lo e apoiá-lo. Desde então, jurei que seria uma defensora dos direitos desta comunidade. Hoje, sou ativista para valorizar esta rapaziada e fazer a sociedade perceber que eles têm de ser respeitados”, disse Eulália.

A ativista sublinhou o papel crucial dos pais no processo de aceitação. “O ativismo começa em casa. Aceitar os filhos como eles são pode ser difícil, mas é essencial para que eles se sintam seguros e aceites. Senão, continuarão a viver com medo”, alertou.

Apesar dos avanços na legislação e na aceitação social da comunidade LGBTQIA+ em Portugal, Eulália acredita que ainda há muito trabalho a fazer, especialmente no que diz respeito à aceitação das pessoas transgénero. “Os trans enfrentam os maiores desafios, porque, ao contrário dos homossexuais, a sua identidade muitas vezes é visível. Isso faz com que sejam alvo de discriminação mais facilmente”, destacou.

A ativista também apontou a crescente presença de grupos xenófobos e anti-LGBTQIA+ que, segundo ela, estão a aumentar a pressão sobre a comunidade. “Temos de estar atentos a essas organizações que nos perseguem. Não podemos aceitar essa intolerância”, concluiu.

Eulália Almeida
Ativista pelos Direitos LGBTQIA+

“O meu filho emigrou, pensava eu, para trabalhar normalmente, mas descobri, pelas redes sociais, que era ator de filmes pornográficos e homossexual. Como nunca perdemos um filho, fui atrás dele, falamos sobre o assunto e eu disse-lhe que só tinha de me ter dito a verdade, porque eu tinha de respeitar. Ele respondeu que foi para me respeitar que saiu sem me dar explicações. Eu, então, disse-lhe que ele ainda ia ter muito orgulho na mãe, porque eu iria ser uma grande ativista dos direitos LGBTQIA+. Foi há dez anos. Filiei-me na Associação de Pais e Mães pela Liberdade e Orientação Sexual (AMPLOS), que faz uma obra divinal. Quando entrei, éramos meia dúzia e hoje somos dezenas. O meu papel de estar numa marcha é simplesmente valorizar esta rapaziada, e de fazer ver à sociedade que eles não são bichos e que têm de ser respeitados, porque têm o direito de ser o que quiserem”.

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