Crónicas e opinião
Memórias e Histórias da Trofa: O Américo de Guidões
“O nosso Manel foi um dos 2 mil europeus que perderam a vida neste conflito provocado pelos senhores da guerra, num panorama cada vez mais parecido com a atualidade que não parece ter retorno, mas, vai-se alimentando desta instabilidade.”
Decorria o primeiro quartel do século XX e a situação política na Europa era cada vez mais insustentável. Vivia-se um pouco como se vive hoje, concretamente a necessidade de afirmação de diversos regimes políticos, as rivalidades crescentes, os jogos cada vez “mais apertados” no xadrez político e, fundamentalmente, a indefinição relativamente ao futuro.
Os senhores da Europa estavam em postura permanente de querer entrar num jogo de disputa da política que iria provocar a 1.ª Grande Guerra num futuro a curto prazo, concretamente em 1914, lançando para o caos este velho continente conhecido como Europa.
Os vários países começaram a sua preparação para o conflito que incluía o recrutamento de elementos para o seu exército e assim, o nosso Américo, nome completo Américo Moreira Gomes, da freguesia de Guidões, era recrutado para o exército português.
O nosso Américo ficava alistado no regimento de infantaria n.º 31 que era localizado na cidade do Porto, teve num primeiro momento a felicidade de estar próximo de casa, mas a bonança iria terminar rapidamente.
Acabaria por ser deslocado para Moçambique para defender a nossa colónia dos ataques dos alemães que eram constantes no desejo desse país tentar aumentar o seu poderio colonial que se revelavam difíceis de travar com várias vítimas mortais e constantes derrotas bélicas.
As tropas portuguesas mal preparadas, mal alimentadas, mal equipadas e preparadas em termos de saúde partiriam para aquele território de forma quase clandestina e também percorrendo riscos bastante elevados roçando um pouco a insanidade.
A postura das autoridades portuguesas era de tentativa de ser discreto neste plano militar para talvez não alarmar a população do nosso país que se via envolvida numa guerra que até então era algo que apenas acontecia a milhares de quilómetros de distância.
O nosso conterrâneo iria ter uma participação no conflito bastante curta, iria morrer no dia 21 de julho de 1917, em Mocimboa da Praia, sendo vítima de paludismo intenso no estado tifoso.
Além do paludismo iria evoluir para tifo e, seguramente, morreu num estado febril que, seguramente, lhe provocava delírios e perturbava a sua vivência.
O clima tropical e as suas doenças deixavam a sua marca, Américo morreria no decorrer de um conflito bélico, sem ser pela força da bala, mas pela fragilidade da sua saúde em muito potenciada pela falta de preparação para aquele conflito, onde a saúde tropical ainda trilhava os seus primeiros passos nesta nação.
A referida localidade ainda hoje é vítima de ataques bélicos, conduzidos pelo Estado Islâmico.
Relativamente à 1.ª Guerra Mundial, para a história deste conflito, apenas ficou construído um mausoléu em 1956 pelo Estado Novo.
O nosso Manel foi um dos 2 mil europeus que perderam a vida neste conflito provocado pelos senhores da guerra, num panorama cada vez mais parecido com a atualidade que não parece ter retorno, mas, vai-se alimentando desta instabilidade.
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