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Em defesa da Democracia Liberal

“A democracia liberal, que deu ao Ocidente o período de maior prosperidade e paz da sua história, está a ser posta em causa por forças políticas poderosas e bem financiadas, com pouco apreço pelos valores europeus e por instituições como a UE e a NATO.”

João Mendes

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Quando Donald Trump afirma, publicamente, que não só apoia a invasão de membros da NATO, como até a incentiva, envia sinais muito concretos sobre o futuro do Ocidente.
Diz-nos, em primeiro lugar, que, com o seu regresso à Casa Branca, a parceria estratégica entre os EUA e a Europa não tem futuro. E abre o flanco ao soft power chinês no velho continente. Ainda mais.

Diz-nos, igualmente, que está disponível para abdicar da posição hegemónica ocupada pelos EUA desde o final da Segunda Guerra Mundial, criando um vazio de poder que, inevitavelmente, será ocupado pela China.

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E em Pequim não governam fanfarrões como Trump, Gaetz ou Taylor Green. Governam tiranos calculistas, com uma economia poderosa, dotados de imensa paciência e inteligência.

Adiante.

Outro efeito das declarações de Trump, talvez o mais importante e perigoso, é o reforço da posição de Vladimir Putin. Péssimas notícias para Ucrânia, encurralada numa guerra interminável, e para todo o Leste europeu, com os Bálticos e os Balcãs à cabeça.

Especificamente sobre a Ucrânia, julgo que estas declarações são cristalinas sobre o futuro do país ocupado. Se Trump está disponível para entregar aliados da NATO ao Kremlin, a Ucrânia não poderá contar mais com os EUA. E a Europa não tem força suficiente para lhe valer.

Podemos achar, porventura, que Putin parará por ali, caso consiga ocupar parcialmente a Ucrânia e colocar um fantoche seu em Kiev. Mas mesmo que Trump recue e se mantenha fiel à Aliança Atlântica, Moscovo tem outras formas de penetrar no espaço europeu, sem necessitar de atacar qualquer membro da NATO.

Uma delas, cozinhada há vários anos em lume brando, passa por trazer governos europeus para a sua esfera de influência. Putin financiou os principais partidos da extrema-direita europeia, como o Rassemblement National de Marine Le Pen, ou a Lega de Matteo Salvini, e tem outros aliados mais ou menos assumidos, como Geert Wilders (PVV) na Holanda ou Tino Chrupalla (AfD) na Alemanha. Todos com possibilidades de chegar ao poder (Salvini já chegou).

Já no poder, há vários anos, está Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, que tem sido uma espécie de emissário dos interesses do Kremlin no Conselho Europeu. Orbán, que transformou a Hungria numa autêntica oligarquia, foi notícia há dias, após uma investigação que revelou que está a usar os recursos do Estado húngaro para disseminar propaganda através de universidades e órgãos de comunicação social, tendo inclusive usado um testa de ferro português para comprar a Euronews por 45 milhões de euros.

O que une todos estes aliados de Vladimir Putin em solo europeu?

Várias coisas.

São eurocépticos, abertamente homofóbicos, têm um discurso anti-imigração (apesar das economias dos seus países precisarem da mão-de-obra imigrante como de pão para a boca), querem impor um pensamento único sobre temas como a Família ou a Educação e desejam cancelar a emancipação da Mulher, remetendo-a para um lugar de dona de casa, submissa e obediente ao Homem. Eis a agenda ideológica de Putin, decalcada ao mais ínfimo detalhe.

E quem é o mais recente membro deste grupo?

Exactamente: André Ventura.

Seria, por isso, importante, que a comunicação social e a sociedade portuguesa, em geral, questionassem as intenções do CH relativamente à Europa. Em Portugal, 64% da população afirma ter uma “visão positiva da União Europeia”, contra apenas 7% que tem a opinião contrária. Mas o partido de Ventura faz parte do Identidade e Democracia, a família política mais anti-europeia do Parlamento Europeu, e ninguém parece preocupado em saber quais as intenções do terceiro maior partido político português para o futuro da União.

A democracia liberal, que deu ao Ocidente o período de maior prosperidade e paz da sua história, está a ser posta em causa por forças políticas poderosas e bem financiadas, com pouco apreço pelos valores europeus e por instituições como a UE e a NATO.

André Ventura e o Chega estão do lado delas.

Cabe a todos os democratas responder adequadamente nas urnas, no próximo dia 9 de Junho.

Antes que seja tarde demais.

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