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Trofa, capital da Propaganda

“A verdade é que a Trofa de Sérgio Humberto não é diferente da Trofa de Joana Lima ou Bernardino Vasconcelos, na medida em que nenhum dos três conseguiu libertar o concelho do estatuto de cidade-dormitório. “

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Um dos embustes mais delirantes que a propaganda dedicada a glorificar Sérgio Humberto nos tentou impor este ano foi a ideia da Trofa como capital do Norte. A fazer lembrar o SNS ou a escola pública que António Costa nos tenta vender nas suas entrevistas.

Para a claque partidária, contestar esta fantasia equivale a não gostar da Trofa. Como se o nosso amor à terra estivesse vinculado aos delírios políticos do gabinete de comunicação do autarca.

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No fundo, é mais ou menos a mesma retórica usada pela extrema-direita: ou estás connosco em tudo e sem questionar, e és virtuoso, ou estás contra nós e não és um trofense de bem.
Esta retórica de infantilização, contudo, funciona com muita gente. Não me refiro a todo o universo de 11.898 eleitores que votaram na coligação em 2021, até porque muitos deles o fizeram por falta de alternativa ou de uma proposta sólida na oposição, mas muitos acreditam e comungam destes delírios que servem um propósito único: promover a imagem de um político.

A verdade é que a Trofa de Sérgio Humberto não é diferente da Trofa de Joana Lima ou Bernardino Vasconcelos, na medida em que nenhum dos três conseguiu libertar o concelho do estatuto de cidade-dormitório. O autarca bem pode tentar convencer alguns que requalificar parte do centro da cidade e fazer mais um par de obras coloca a Trofa no patamar dos concelhos vizinhos, mas a realidade não se vai alterar por isso.

A Quadra Natalícia foi um bom exemplo do atraso da Trofa face à vizinhança.

Julgo ter sido a primeira vez que não existiu iluminação natalícia nas ruas do concelho, desde que sou nascido. A própria Aldeia de Natal, que já aqui saudei noutra ocasião, ficou muitos furos abaixo de projectos idênticos em concelhos vizinhos. E esteve, note-se, quase sempre às moscas.

Porquê?

Porque a Trofa é uma cidade-dormitório.

Aliás, o próprio Sérgio Humberto teve que contratar animação e convocar várias associações trofenses, que trouxeram os seus jovens para diferentes actuações e familiares para assistir, para criar a ilusão de enchente no dia em que foi inaugurar a Aldeia de Natal. Um truque que é, aliás, muito comum no modus operandi deste executivo.

Contudo, nos restantes dias, o cenário foi desolador. Com raras excepções.

E porque é que isto acontece?

Porque é que não nos libertamos desse estatuto de cidade-dormitório?

Porque não existe uma política estruturada e de continuidade que promova o envolvimento da comunidade.

E quem vai a Santo Tirso, Famalicão ou Maia percebe a diferença. Há movimento nas ruas. O comércio é dinâmico. E, sobretudo, as pessoas têm o que fazer.

Aqui despejam-se coisas, sem grande planeamento, arte ou visão de longo prazo, e seja o que Deus quiser. Se vier alguém, perfeito. Se não vier, culpem-se os “do contra” e siga a Marinha.

Esta Trofa não é nem será capital de coisa nenhuma. Mas pode sê-lo.

Contudo, tal implica uma mudança que não se faz apenas com betão e propaganda.

É preciso dinamizar o concelho, é preciso dar motivos aos trofenses para saírem de casa na Trofa, é preciso criar uma agenda cultural de continuidade que os motive para tal, é preciso dinamizar e promover essa agenda e é fundamental que tudo seja planeado com tempo e critério, e não feito em cima do joelho para mostrar serviço e fotografar políticos vaidosos que cortam fitas e desaparecem.

É igualmente necessário criar iniciativas permanentes com capacidade de atrair pessoas de fora. O Belive foi uma aposta ganha, mas são precisas mais iniciativas idênticas que se prolonguem durante o ano.

No fundo, é preciso mostrar aos trofenses que, quando chega o final do dia ou o fim-de-semana, existe mais para fazer do que ir ao café ver a bola e beber uns finos.

É preciso mostrar-lhes, sobretudo às gerações mais novas, que não precisam de ir para Famalicão para se divertirem.

E é igualmente preciso parar de iludir os trofenses. E motivá-los a fazer parte da mudança, apoiando projectos locais que podem suprir parte destas necessidades ao invés de perseguir associações com provas dadas para satisfazer vinganças pessoais de políticos sem escrúpulos.

É preciso uma mudança.

De outra forma, a única capital que aqui terá sede será a da propaganda.

Que 2024 seja o ano em que essa mudança se inicia.

Um bom ano para todos, com felicidade, alegria, prosperidade e saúde!

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