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Correio do Leitor: A Ponte Pênsil no Ar

“Apesar de muito se falar sobre a reconstrução da Ponte Pênsil há um facto que vem sendo menos bem informado ao grande público – a sua localização.”

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Nos últimos tempos temos ouvido o executivo camarário falar recorrentemente da reconstrução da Ponte Pênsil entre a Trofa e Ribeirão. O assunto está hoje “no ar” e em todo o lado. Das comemorações oficiais dos 25 anos do concelho da Trofa, às mesas dos cafés do concelho. Das longas homilias nas assembleias municipais às conversas informais entre amigos.

Mais um sonho de todos os Trofenses e Ribeirenses, cuja ideia e desejo da sua reconstrução nos remetem para o dia seguinte à demolição da Ponte Pênsil original. Um inegável marco identitário da nossa região e das nossas gentes que está hoje plasmado em lugar central nos brasões de ambas as freguesias.

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Apesar de muito se falar sobre a reconstrução da Ponte Pênsil há um facto que vem sendo menos bem informado ao grande público – a sua localização.

Obtive recentemente junto de várias fontes a informação que a última localização prevista é a montante da atual ponte da N14, junto à Azenha Nova, no seguimento do percurso que hoje liga o Aquaplace ao Parque das Azenhas. Essa é no meu entender uma localização quase do domínio do surreal (pois penso não servir minimamente os atuais e futuros movimentos pendulares entre a Trofa e Ribeirão, onde já existem e vão existir outras pontes no raio de apenas 1 km) e o que me leva a escrever este artigo, antes que o “erro” seja irremediavelmente cometido.

Inspiro-me mesmo na letra surrealista de uma conhecida canção dos GNR “… a corda bamba da cultura, a ponte pênsil no ar …” para dar título a este artigo.

Mas, muito mais importante que discordar é expor os fundamentos que me levam a não concordar com esta localização e a escrever este artigo, “antes que seja tarde demais”.

Entendo que a decisão de reconstruir um importante marco histórico e cultural deve ser essencialmente uma decisão cultural e utilitária, não somente baseada em calculismo político ou técnico.

A reconstrução de marcos históricos e turísticos impactantes para as comunidades onde se inserem, devem respeitar sempre – e acima de tudo – a sua herança histórica (arquitetura, localização, materiais, dimensões, enquadramento paisagístico), mas também estarem devidamente enquadrados com as reais necessidades atuais das suas comunidades (neste caso de mobilidade) e serem igualmente potenciadores de vantagens várias no futuro. Não se devem limitar a meras bras de fachada, fundamentadas por um qualquer parecer técnico, mas que na prática apenas servem para “inglês ver” quando daqui por uns anos passar na futura nova ponte da variante à N14 (apenas umas dezenas de metros a montante).

É incompreensível como a montante da atual ponte da N14, num raio de pouco mais de 1 km, passarão a existir 4 travessias do Ave (atual ponte à N14, nova ponte pênsil, nova ponte da variante à N14 e ponte de ferro (com travessia pedonal e ciclável) e que a jusante da atual ponte só mais de 12kms depois encontramos a primeira travessia do Ave em Macieira da Maia!

Tal localização, poderá até servir para realizar cruzeiros das 4 pontes no Ave, mas certamente não estará de acordo com as reais necessidades de mobilidade das populações de ambos os lados do rio.

Pior que o erro do passado de demolir a Ponte Pênsil original, é gastarem-se hoje uns milhões de euros na sua reconstrução num local errado e que não permitirá extrair todo o seu potencial turístico, assim como, da sua utilidade futura.

Nesse sentido, sugiro que seja equacionada a alteração da localização da nova ponte pênsil para o lugar de Finzes (a meio caminho entre o lugar do Estreu e o lugar da Barca – onde hoje existe um pequeno passadiço de madeira – em frente à foz do rio Veirão).

Esta localização além de um muito melhor enquadramento paisagístico, permitiria tornar a futura Ponte Pênsil, num efetivo elo de ligação entre as várias freguesias de ambos os lados do Ave (S. Martinho e Santiago de Bougado a sul e Ribeirão a norte), servindo as atuais e futuras necessidades de movimentos pendulares e incentivando a mobilidade verde entre ambos os lados do rio.

São já hoje centenas as pessoas que utilizam diariamente meios de locomoção leve, para as deslocações pendulares entre a Trofa e as muitas empresas sediadas na zona industrial de Sam (e vice-versa), circulando pelas movimentadíssimas estradas N14 e Av. das Indústrias em Ribeirão, colocando diariamente a vida em risco dada a total inexistência de alternativas seguras. A localização aqui sugerida permitiria também minorar este problema.

Esta nova localização, permitiria ainda a implementação futura de um corredor verde (com cerca de 2 kms), ligando por arruamentos já existentes o centro da Cidade da Trofa , o centro da freguesia de Santiago de Bougado e centro da Vila de Ribeirão, utilizando-se aí as margens do Rio Veirão como base para um corredor verde que ligaria o centro da Vila de Ribeirão à Ponte Pênsil e atual e futuras áreas de lazer junto ao Ave.

Seria um excelente catalisador para a promoção e a valorização urbanística em ambos os lados do rio.

No que ao concelho da Trofa diz respeito, não só permitiria a valorização e requalificação de toda a zona envolvente à Urbanização da Barca, da área ribeirinha junto à Barca da Trofa e da sua Azenha histórica, mas também do lugar de Finzes como um todo, que apesar de ser uma das áreas mais populosas do nosso concelho têm sido continuamente esquecida pelos sucessivos executivos camarários.

Na esperança que a localização aqui proposta seja devidamente atendida, analisada e reequacionada pelas entidades competentes, e apesar do desejo inato de todos os Trofenses e Ribeirenses de verem um dia reconstruída a sua desaparecida Ponte Pênsil, tal só faz sentido se for respeitada a sua arquitetura original, a localização, o enquadramento paisagístico, a potencialidade turística, mas sobretudo a sua real utilidade atual e futura.

Gualter Costa

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