Crónicas e opinião
Correio do Leitor: A prepotência do homem afasta o Natal da sua essência
“Nos tempos difíceis que atravessamos, necessitamos de esperança, paz e alegria. Isso é Natal! “
O homem atual é promotor de progresso tecnológico e científico como nunca aconteceu na sua história, mas viu e vê esfumarem-se as suas grandes conquistas na tragédia do Holocausto e nas guerras atuais. Está aberto a espirais de inovação e grandeza, mas também pratica monstruosidades cruéis, impensáveis neste início de milénio. O homem é aquele que invoca a paz e os direitos humanos, mas viola sistematicamente as tréguas nos incontáveis conflitos armados. Fomenta a corrupção, o ódio e a vingança. O armamento bélico, o petróleo e a droga, são o seu favoritismo que fere toda a humanidade sem escrúpulos. O homem devia ter consciência histórica, mas parece não ter aprendido muito com os dramas do passado. No contexto em que vivemos, há uma necessidade urgente de esperança, que torne possível dar sentido à vida e à história, valorizando o ser humano, a comunidade e a proteção da Natureza.
Nos tempos difíceis que atravessamos, necessitamos de esperança, paz e alegria. Isso é Natal! O nosso percurso não tem sido fácil. Primeiro, foi a Covid-19 que nos atingiu e veio colocar em causa os nossos anseios e convicções; veio pôr em causa tudo aquilo que tínhamos por segurança inabalável, deixando-nos mergulhados na inquietação e timidez diante do futuro. Superada a pandemia, quando esperávamos tempos melhores, a Rússia invadiu a Ucrânia. Este ato veio ensombrar de novo as nossas vidas ainda frágeis, colocando diante dos nossos olhos os horrores de uma sangrenta guerra, originando alta inflação, que provocou um aumento do custo de vida e uma crise económica em que imensas famílias se vêem agora mergulhadas. Esta crise acentuou as crescentes discrepâncias que afetam a nossa sociedade.
Seguidamente acresce, a nível eclesial, o terrível crime dos abusos sexuais contra crianças na Igreja Católica em Portugal, atingindo a sua credibilidade. Houve ocultação dos abusos da hierarquia da Igreja. Esta devia ser local de oração, de perdão e de fé em Deus, e não um covil de abusadores de crianças, desde há décadas, não só no país, como em toda a Igreja Católica mundial. Esta indignação levou ao descrédito e fuga de católicos com as igrejas cada vez mais vazias. Vários padres foram suspensos, mas agora estão a ser admitidos, criando assim uma onda de descontentamento. Quem é cúmplice, por consciência, devia demitir-se e não vestir pele de cordeiro. Estes crimes são imperdoáveis. “Ai dos escandalosos”, disse Jesus!
Uma outra guerra surgiu entre Israel e o Hamas, que também dizima soldados e populações perseguidas nas suas próprias casas. O Hamas é um grupo terrorista, que fez um ataque surpreso em Israel causando mais de 1200 mortos civis. A retaliação não se fez esperar por parte de Israel, iniciando grandes bombardeamentos com destruição de edifícios e causando muitas vítimas, incluindo crianças. O Médio Oriente nunca teve paz, é um puro ódio entre rivais. Os palestinianos deviam ter direito à sua pátria, tal como Israel, mas a dissonância falou sempre mais alto. Aqui as guerras têm origem muito antiga por grupos tribais e como vemos ainda hoje perduram e continuaram sem cessar. Por aqui nasceu e viveu Jesus de Nazaré, mas depois deram Lhe a morte por maldade…
Não é animador o momento que vivemos. Milhões de pessoas são confrontadas com situações muito difíceis, que podem levar ao desespero, à perda da esperança, da alegria e da felicidade. O “maldito” dinheiro é a ambição e o fracasso da Humanidade. Infelizmente, as guerras e a malvadez são tão antigas como o homem na Terra. As ditaduras, sejam da esquerda ou da direita, não servem os interesses dos povos, porque ficam privados da sua Liberdade e dos Direitos Humanos consagrados em todo o Mundo. A falta de diálogo é uma causa negativa nos nossos dias. Quantos problemas se poderiam resolver através da negociação responsável e de humildade sincera. Veja-se a COP 28 sobre o clima: os magnatas do petróleo não cedem ao fim dos fósseis que lhes dá chorudos lucros, mas representa o declínio do Planeta já moribundo que é a casa de todos nós.
Estamos a celebrar o Natal, uma grande festa de paz, amor e muita alegria, apesar das adversidades. Jesus encarnou, veio ao mundo pobre e aconchegado numa manjedoura, e o mundo não O reconheceu, por isso sente um vazio, um caminho tortuoso e sem esperança para seguir em frente. Perante um universo cruel e incerto como vivemos, não é fácil falar de Natal aos que não têm qualquer razão para festejar. Há povos eternamente submetidos à escuridão moderna, à fome e à guerra. Há presépios ao vivo em campos de refugiados e em bairros de lata. Os sem abrigo, as crianças mal-amadas e a solidão não param de crescer. Vamos acreditar num mundo melhor para todos, sem deixar ninguém para traz, apesar de se verificar muitas vezes o contrário.
Desejo a todos um Santo Natal e votos de um ano de 2024 repleto de saúde e felicidades.
Firmino Santos
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