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Folha liberal: Quando o sábio aponta para a lua,o tolo só vê o dedo

“O Primeiro-Ministro demitiu-se, a sua demissão foi aceite pelo Presidente da República, mas ele continuará à frente do governo por um período que pode, facilmente, ser superior a 5 meses. Ao mesmo tempo, o Presidente da República decidiu dissolver a assembleia da República, mas só quando der jeito.”

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Quando o sábio aponta para a lua, o tolo só vê o dedo. Este antigo provérbio oriental adapta-se de forma notável à situação que vivemos no nosso país. Desde o início, este governo esteve associado a práticas menos claras e transparentes, conseguindo, no entanto, que a atenção se fixasse no dedo em vez da lua.

Na última semana, as suspeitas atingiram níveis sem precedentes em Portugal, com a detenção de várias pessoas, incluindo o ex-melhor amigo do Primeiro-Ministro e o seu chefe de gabinete, assim como a constituição como arguido, de um ministro. Pela primeira vez, a residência oficial do Primeiro-Ministro foi alvo de buscas, resultando na descoberta de uma quantia considerável, em dinheiro, na sala do chefe de gabinete.

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Dias antes, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Henrique Araújo, denunciou em entrevista, a “corrupção instalada” em Portugal e a falta de vontade do poder político em resolver este problema. Ao ver o cerco apertar, o Sr. Primeiro-Ministro aproveitou para “saltar fora”, invocando um parágrafo do comunicado do Ministério Público, que interpretou como lhe deu jeito, usando-o como pretexto para se demitir.

O que se seguiu a estes factos é absolutamente incrível e inadmissível. A máquina socialista começou rapidamente a desvalorizar e desacreditar o Ministério Público, menosprezando tudo o que vem no despacho de pronúncia e começando a fazer aparecer minudências, tentando caricaturar esse mesmo despacho.

Vimos, por exemplo, um advogado a referir-se às declarações do presidente do Supremo Tribunal de Justiça como “conversa de tasca ou de café”, vimos esse mesmo advogado trazer para a ribalta e hipervalorizar uma gralha… Vimos outro advogado com desculpas muito “esfarrapadas” a tentar desvalorizar a apreensão de mais de 75.000 euros em dinheiro. Fazem isso porque querem que fiquemos como tolos, a olhar para o dedo, distraindo-nos do verdadeiramente importante.

A última semana ficará na história por várias razões, cada uma delas mais inacreditável que a outra. O Primeiro-Ministro demitiu-se, a sua demissão foi aceite pelo Presidente da República, mas ele continuará à frente do governo por um período que pode, facilmente, ser superior a 5 meses. Ao mesmo tempo, o Presidente da República decidiu dissolver a assembleia da República, mas só quando der jeito.

Entretanto, fica tudo na mesma. O Sr. Primeiro-Ministro, demitido, continua em funções e usará o seu cargo para, também ele, desacreditar o Ministério Público. Isso era esperado, mas ouvi-lo, durante o seu “comício” de sábado em “prime time” em todas as televisões e rádios, dizer que o governo fez o que fez, como fez, porque há muita burocracia em Portugal, é de uma falta de vergonha inconcebível.
Montesquieu dizia que “a lei deve ser como a morte, não abre exceções para ninguém”. Contudo, para o nosso Primeiro-Ministro, parece que não é bem assim. É lamentável que ele tenha renunciado com o pretexto acima referido, pois o que deveria era, deixar o governo devido ao que fez a Portugal. O país enfrenta a maior carga fiscal de sempre, o maior número de portugueses sem médico de família, mais de 40% da população em risco de pobreza antes das transferências sociais, o menor número de processos findos nos tribunais desde 1985, o pior mês da história do SNS (nas palavras do próprio governo), 583.000 utentes em lista de espera para consultas, 235.000 inscritos em lista de espera para cirurgias, 32% dos utentes a serem atendidos para lá do tempo recomendado, médicos e enfermeiros em guerra, assim como professores e auxiliares, forças armadas em processo de falência e uma crise total na habitação.
Assim, dependendo do que acontecer neste processo, ainda o vamos ver como vítima!

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