Crónicas e opinião
Linha do Equilíbrio: Memória in(falível)!
Memorizar é uma das funções exclusivas do cérebro, sendo essencial para a sobrevivência do ser humano.
Às vezes, sentimos que a nossa memória prega-nos algumas “partidas e sustos”, dignos do Halloween. Nestas alturas, fruto desses esquecimentos, refletimos na importância deste processo cognitivo ou pensamos se estaremos com algum “problema”.
Ao longo dos anos, muitos são os estudos que procuram explicar como funciona a memória, nomeadamente como temos a capacidade para formar, reter, aceder e usar este processo cognitivo.
Memorizar é uma das funções exclusivas do cérebro, sendo essencial para a sobrevivência do ser humano. Assim, a memória poderá ser descrita como uma sequência de processos, sendo a primeira fase a aquisição. Esta fase consiste na “entrada” no cérebro de um evento, situação, som, objeto, emoção, pensamento, etc, durante o qual se faz uma triagem para formar, através dos aspetos mais relevantes, uma memória. Posteriormente, esta memória será armazenada, por um período de tempo variável. Este processo de armazenamento/retenção da memória permite que o evento esteja disponível para ser lembrado. A retenção não é um processo permanente, depende da utilização que fazemos de cada memória, ou seja, com o passar do tempo, alguma informação do evento ou o evento poderá ser esquecido, desaparecendo da memória.
Portanto, conseguimos lembrar uma informação simples, como lavar os dentes, e complexas, como uma matéria aprendida na escola. Em contrapartida, esquecemos outras coisas e, até, conseguimos criar “falsas” memórias. Então, como esquecemos algumas memórias e conseguimos reter outras?
Esquecer é um procedimento fisiológico normativo, pois evita a sobrecarga do cérebro, bem como facilita a seleção do que é mais importante de cada evento. Assim, reter informação depende da atenção que damos a um evento e também da ordem que a informação é transmitida, pois tendemos a reter a informação quando não há elementos distratores e quando a informação é dada no início.
Após o processo de retenção e se o evento é memorizado, passa a estar consolidado, podendo as memórias permanecerem toda a vida, sendo este outro dos processos da memória. Há um ditado popular que “valida” esta informação quando queremos dizer que uma memória armazenada é difícil de esquecer: “é como andar de bicicleta”. Por fim, o processo final da sequência de memorização é a evocação (recordação), que nos permite aceder e usar a informação consolidada.
Esta é uma explicação simples da criação de memórias, na qual verificámos que os esquecimentos são comuns e normais. Contudo, há esquecimentos patológicos, que não advêm apenas de pequenas falhas na nossa memória, mas de falhas em todo o processo, nomeadamente na retenção de informação. Há doenças, tal como a demência; algumas perturbações, como a depressão; algumas fases da vida, como o envelhecimento; entre outros, que comprometem a memória, sendo fundamental estar atentos aos pequenos sinais para que cedo se possa intervir. Os sinais mais visíveis são a repetição das mesmas perguntas, o esquecimento de como se fazem tarefas simples, esquecer os nomes de familiares próximos ou de palavras, incapacidade para seguir indicações verbais ou escritas, mudança na expressão e comportamentos, entre outros.
Algumas das estratégias para manter a nossa memória saudável são utilizar mnemónicas, fazer repetições para consolidar a informação e, ainda, manter uma alimentação equilibrada, beber água, respeitar a rotina de sono, diminuir as horas de exposição aos ecrãs, evitar o sedentarismo, evitar o isolamento social e praticar técnicas de relaxamento. Simultaneamente, manter o cérebro ativo, com atividades de estimulação cognitiva, em todas as fases da vida, em especial na fase sénior, e ter redobrada atenção aos rastreios anuais de saúde.
Cabe-nos estar atentos e perceber como está a nossa memória, identificando possíveis perturbações de memória, quer as nossas, quer daqueles que nos estão próximos. Prevenir continua a ser o “melhor remédio”!
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