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Crónicas e opinião

A história da festa de 4 horas que custou 17.500€ aos contribuintes trofenses

“Como é que se gastam 17.500€ numa festa que dura 4 horas?”, questiona João Mendes no seu espaço de opinião.

João Mendes

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As Jornadas Mundiais da Juventude trouxeram inegável projecção internacional para Portugal, reunindo mais de 1 milhão de peregrinos que aqui chegaram de todos os cantos do mundo.
Apesar de se tratar de mais um evento promotor do centralismo que atrofia o país, a verdade é que a festa dos jovens católicos se alargou a vários concelhos do país, onde milhares estiveram alojados nos dias que antecederam o grande acontecimento.
A Trofa foi um deles.

Durante vários dias, a Escola Secundária da Trofa, a EB 2/3 e Secundária de São Romão do Coronado e vários cidadãos trofenses receberam, nas suas casas, largas centenas de jovens que por aqui passaram alguns dias. E isso, julgo eu, foi positivo para o concelho, que teve aqui uma oportunidade de se dar a conhecer a visitantes oriundos de diferentes países.
O investimento, contudo, foi suportado pelos impostos dos contribuintes trofenses. Segundo o site da Câmara Municipal da Trofa, foram investidos cerca de 57 mil euros, entre apoios e iniciativas promovidas pela autarquia, que incluíram a oferta de 2000 refeições por dia, no período de 26 e 31 de Julho, transporte de ida e volta para Lisboa e um kit de boas-vindas e informação sobre o concelho para cada peregrino.

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No fundo, e à imagem daquilo que aconteceu no resto do país, mas que não aconteceu, por exemplo, em Espanha – os 50 milhões gastos por Madrid na organização das Jornadas Mundiais da Juventude de 2011 foram suportados pelos peregrinos (70%) e por patrocinadores (30%) – a Igreja Católica organizou e as autarquias gastaram o dinheiro dos contribuintes como bem entenderam. Algo que, segundo a organização Transparência e Integridade, aconteceu de forma “descontrolada” e “opaca”.

Não sei como se terão processado os gastos relacionados com as várias iniciativas da autarquia trofense, uma vez que a informação é escassa e os ajustes directos, à excepção de um, não aparecem ainda na plataforma Base. A tal opacidade que refere a Transparência e Integridade.
No entanto, esse ajuste directo solitário que está disponível na plataforma, levanta algumas dúvidas. Sobretudo o valor: como é que se gastam 17.500€ numa festa que dura 4 horas, sendo claro que o preço de mercado dos artistas presentes, agregado, não ultrapassa os 1500, 2 mil euros (estou a nivelar por cima), que um porco no espeto não ultrapassa os 400€ (uma vez mais, arredondado para cima) e que o sistema de som para suportar um DJ, um saxofonista e alguns microfones, com transporte e montagem, dificilmente ultrapassará os 2 mil euros, importa perguntar o óbvio:
O que aconteceu ao resto do dinheiro?
Foram gastos mais de 10 mil euros em brindes?
Comeram-se mais de 20 porcos no espeto?
Dificilmente saberemos. 

O que sabemos, a menos que andemos a dormir, é que raro é o evento público, suportado pelos nossos impostos, que não é transformado num comício destinado a promover Sérgio Humberto e, de há uns tempos para cá, o seu mais que óbvio sucessor. 
É assim em inaugurações públicas, em qualquer iniciativa camarária e, claro, em eventos festivos. Chega-se ao ponto de se encomendarem conteúdos para a autarquia que surgem primeiro na página pessoal do presidente da CM da Trofa, e só depois na página da própria autarquia, que os paga. Sérgio Humberto é o dono disto tudo.

Não admira que, em declarações ao site da CM da Trofa, tenha afirmado que a “Trofa sabe receber”. E de facto sabe. Mas os trofenses recebem e assumem os custos. Sérgio Humberto recebe, como quer e bem entende, e envia a conta aos contribuintes trofenses, que continuam a pagar uma das facturas de impostos municipais mais elevadas do país. Contribuintes que, na sua esmagadora maioria, não ganham 17.500€ num ano de trabalho. E que ainda têm que entregar parte do fruto do seu trabalho para alimentar a máquina de propaganda do regime, enquanto assistem a casos de despesismo como este. O poder absoluto tem destas coisas.

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