Crónicas e opinião
Memórias e Histórias da Trofa: A Feira de Santiago de Bougado
“As primeiras referências nos documentos da própria Junta de Freguesia empurram-nos para 1874, em que a referida feira já era uma realidade com alguns anos”
As feiras, como tem vindo a ser descrito em várias crónicas, eram frequentemente locais de convívio, através dos quais se realizavam a maioria dos negócios. Muitas delas, por razões várias, eram, inclusivamente, feiras francas, não pagando impostos das transações que eram efetuadas.
Podemos identificar as feiras como barómetros para a atividade económica, uma vez que a sua existência era, obviamente, sinal de vitalidade, como tem sido explicado em crónicas anteriores e eis que, anteriormente à realização da feira em S. Martinho de Bougado, as feiras na outra freguesia de Bougado eram já uma realidade.
Analisando de forma sumária os dois parágrafos precedentes, pode tornar-se evidente para o leitor que este território de Santiago de Bougado deveria deter alguma atividade económica de realce. Até a sua própria localização geográfica entre dois importantes mosteiros, o de Santo Tirso e o de Vila do Conde, poderia e deveria ser uma das molas impulsionadores desse desenvolvimento.
A origem da feira não foi possível apurar, todavia, as primeiras referências nos documentos da própria Junta de Freguesia empurram-nos para 1874, em que a referida feira já era uma realidade com alguns anos, sendo referida como uma tradição e inclusivamente já tinha mudado de lugar, até porque se realizava no Souto de Bairros, tendo sido transportada, posteriormente, para o lugar da Igreja.
A referência à tradição, como também a uma mudança de sítio são sinais inequívocos que aquele evento se realizava precedentemente e com bastante antiguidade, podendo, no campo da suposição obviamente, empurrar para o século XVIII o seu surgimento.
Assim, podemos perceber rapidamente que o Souto de Bairros é um local com bastante história e tradição na comunidade, não sendo apenas um local de acampamento das tropas do invasor francês como é associado na cultura popular e nos exercícios mais sintéticos de escrutinar a história.
Alegava-se que a transferência para o adro da Igreja de Santiago de Bougado, era prejudicial para os interesses da comunidade, inclusivamente os rendimentos que os feirantes recebiam eram diminutos quando comparados com a localização anterior.
A nova localização parecia “não cair no goto” dos bougadenses, que não queriam sair do Souto de Bairros, muito provavelmente também seria de maiores dimensões do que o largo da Igreja.
O Regedor Manoel da Costa Araújo colocava uma grande pressão junto das entidades superiores para que fosse revista essa situação, sempre com a esperança que todos conseguissem tirar proveito daquele acontecimento económico.
No seguimento do que tem sido descrito é evidente que Santiago de Bougado tinha capital importância na região com a sua feira a ser bastante antiga, como já foi especulado. Recordo os leitores mais distraídos com a história que este evento apenas estava à altura de algumas localidades.
Assistimos a um crescimento assimétrico dos dois “Bougados”, enquanto um ainda dava os primeiros passos na sua atividade económica, até à chegada do comboio, seria Santiago de Bougado o dominador e também dinamizador económico da região.
A chegada do comboio iria virar o jogo por completo em termos económicos, políticos e sociais.
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