Crónicas e opinião
Tutti Frutti
“Quando a investigação veio por aí acima, em direcção a Barcelos e Famalicão, por força dos negócios que o deputado Carlos Eduardo Reis alegadamente conseguiu, fruto da sua alegada parceria informal com Sérgio Azevedo, um nome emergiu que me chamou a atenção: Telhabel.”
Deu que falar uma investigação conduzida pela TVI, no passado mês, que regressou ao caso Tutti-Frutti e às suas ramificações nas estruturas de PS e PSD.
Apesar de remontar a 2018, o caso ressurgiu pela mão da implacável Sandra Felgueiras, que deixou a nu as limitações e a lentidão da justiça portuguesa, e revelou uma alegada rede de tráfico de influências, corrupção e abuso de poder, alicerçada nas estruturas concelhias do PSD e do PS de Lisboa.
No centro da trama apresentada pela TVI está o antigo deputado do PSD, Sérgio Azevedo, que terá, alegadamente, negociado lugares com Fernando Medina e Duarte Cordeiro, coadjuvado por um conjunto de destacados militantes do PSD, como Luís Newton e Carlos Eduardo Reis. O esquema passaria por dividir as juntas de freguesia da capital entre os dois partidos, o que implicaria, alega a investigação da TVI, que ambos os partidos apresentassem candidatos frágeis nas freguesias onde deveriam perder.
O propósito destas movimentações, segundo a investigação, era o de controlar os negócios e as avenças das juntas, pagando favores, saldando financiamentos eleitorais e distribuindo jobs aos boys e às girls de cada partido. Numa das escutas transcritas pela TVI, entre Sérgio Azevedo e Ivone Gonçalves, do PSD de Loures, nº2 de André Ventura por altura da sua candidatura autárquica, temos um curto diálogo entre os dois que resume bem o caso, mas também aquilo que é a realidade de parte significativa das autarquias portuguesas:
[Sérgio Azevedo] – Ó Ivone, negoceias logo uma coisa para ti a administrar uma merda qualquer.
[Ivone Gonçalves] – Eu estou-me a cagar, quero é ordenado.
No fundo, é isto: eles estão-se a cagar, querem é ordenado. Idealmente com benefícios, regalias, iPhones de última geração, viatura com todas as despesas pagas, almoços grátis e a garantia de um cargo decorativo numa qualquer empresa para acautelar o futuro. Até lá, o erário público resolve. E, se as coisas forem bem feitas, no sentido de inflacionar artificialmente umas quantas obras públicas, enche-se um saco azul, só por precaução.
Neste contexto, foi uma coincidência interessante, aquela que detectei num dos episódios transmitidos pela TVI. Quando a investigação veio por aí acima, em direcção a Barcelos e Famalicão, por força dos negócios que o deputado Carlos Eduardo Reis alegadamente conseguiu, fruto da sua alegada parceria informal com Sérgio Azevedo, um nome emergiu que me chamou a atenção: Telhabel.
Para quem não conhece a Telhabel, trata-se da empresa que construiu o edifício dos Paços do Concelho. E é, segundo o trabalho jornalístico da TVI, uma das empresas investigadas no âmbito do caso Tutti Frutti, por, alegadamente, fazer parte da rede de favores de Sérgio Azevedo, sendo o antigo deputado do PSD, Joaquim Virgílio Leite Almeida Costa, um dos gestores da cúpula da construtora. Ambos surgem nas escutas da Polícia Judiciária.
Ora, num contexto em que se investigam políticos e empresas suspeitas de combinarem adjudicações entre si, ver envolvida a empresa que construiu uma das maiores obras públicas da história do nosso concelho é perturbador. Mais ainda quando sabemos que o orçamento apresentado pela Telhabel foi o quarto melhor, ficando cerca de 400 mil euros acima do valor da melhor proposta apresentada.
Claro que tudo isto, em princípio, não passa de uma triste coincidência. E que fique claro que não é minha intenção acusar quem quer que seja, na CM da Trofa ou na Telhabel. Mas o historial de adjudicações dos vários executivos trofenses deixa-me sempre de pé atrás. Em todo o caso, ver a Telhabel envolvida nesta investigação, e sabendo nós que a obra dos Paços do Concelho foi adjudicada 400 mil euros acima do melhor valor apresentado, a que se somam várias derrapagens que ascendem a quase 2 milhões de euros, o que equivale a cerca de 22% do total adjudicado, esta triste coincidência deixa margem para várias questões.
Tomara que não seja nada. Seria mau demais.
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