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Caos, indisciplina e uma bomba de gasolina

“Urbanisticamente falando, estamos perante mais um atentado contra a Trofa, já de si demasiado fustigada por anos de crescimento desordenado que coloca o interesse económico de uma pequena minoria à frente do bem-estar da esmagadora maioria dos trofenses.”

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Quando cheguei à universidade, os amigos que fiz no curso de Geografia diziam-me sempre o mesmo, quando descobriam que eu era da Trofa:

– Da Trofa? Estudei a Trofa como exemplo de urbanismo a não seguir.

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Ocorreu-me esta memória quando descobri, há dias, que o executivo camarário licenciou uma bomba de gasolina na Rua Costa Ferreira, em frente às galerias Opala, paredes meias com várias habitações e a poucos metros da E.B. 2/3 Napoleão Sousa Marques.

Urbanisticamente falando, estamos perante mais um atentado contra a Trofa, já de si demasiado fustigada por anos de crescimento desordenado que coloca o interesse económico de uma pequena minoria à frente do bem-estar da esmagadora maioria dos trofenses.

Do ponto de vista da utilidade, importa sublinhar que existem 8 postos de combustível num raio de 2 quilómetros, o que levanta sérias dúvidas sobre a necessidade de instalar aquele equipamento naquele lugar.

Acresce a isto que a proximidade de casas e prédios nas imediações, algumas literalmente coladas ao terreno onde decorrem as obras aprovadas pelo executivo, parece violar a legislação que regulamenta a distância mínima entre um posto de combustível e uma habitação.

Claro que já nada disto surpreende. Estamos perante uma decisão do mesmo executivo que tentou instalar um aterro sanitário em Covelas, nas costas de todos os trofenses. Liderado pelo mesmo Sérgio Humberto que defendeu, apaixonadamente, as vantagens desse aterro. E que só mudou de discurso quando foi apanhado com a boca na botija.

Mas a parte mais interessante deste caso, em que o interesse económico de um punhado de pessoas se sobrepõe ao interesse da sociedade trofense, sobretudo daqueles que vivem junto ao novo posto de combustível, é, simultaneamente, uma finíssima ironia e um espelho perfeito da classe política que temos.
Confuso, caro leitor?

Recuemos, então, 23 anos. Até 10 de Julho de 2000.
Nessa data, a Comissão Instaladora do Município da Trofa, liderada por Bernardino Vasconcelos (que tinha o jovem Sérgio Humberto como assessor pago a peso de ouro, note-se), emite um comunicado em que literalmente se indigna contra a construção da bomba de gasolina da BP, junto à Igreja Nova.

A Comissão dava então conta de uma batalha legal contra o proprietário do posto, para o qual não havia emitido qualquer licença, tendo mesmo embargado a obra. O comunicado, com 6 pontos, termina da seguinte forma:

“6. O concelho novo, que a Trofa é, impõe uma política urbanística de rigor e qualidade que, de uma vez por todas, ponha ponto final na situação de caos e indisciplina que este Município herdou, mas que, para bem de todos, não pode continuar.”

Contudo, 23 anos depois deste comunicado, a “situação de caos e indisciplina que este Município herdou” continua.

E continua não porque fosse necessário um posto de abastecimento naquele local, que efectivamente não é, mas porque se trata de um investimento rentável para os seus promotores. E o executivo Sérgio Humberto, chamado a decidir entre os interesses dessas pessoas e os interesses do concelho da Trofa e dos seus habitantes, escolheu quem tem mais poder. 

Como sempre faz.

E por algum motivo o fará.

Resta saber onde está o PSD que, há 23 anos, se indignou com a construção da bomba da BP junto à Igreja Nova, colada a zero casas. E perguntar-lhe o que mudou. E cronometrar o tempo que decorre entre a pergunta e a acusação de “ser do contra” ou de “não gostar da Trofa”, tão comuns na propaganda do actual regime, quando os factos anulam todos os argumentos possíveis.

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