Crónicas e opinião
Linha do Equilíbrio: Encarar o futuro com borbulhas no rosto!
A adolescência é um período de grandes transformações físicas, emocionais, comportamentais, cognitivas e sociais. Podemos afirmar que é uma fase marcada por uma transição da infância para a idade adulta, onde se assinalam ruturas de comportamentos e pensamentos da infância e a emergência de uma identidade. Com todas estas mudanças, o adolescente é muitas vezes caracterizado como um ser problemático, com explosões de emoções e com as quais não sabe lidar (nem os seus pais). Desta forma, falar da adolescência é sempre uma árdua e desafiadora tarefa.
Em várias culturas esta fase é marcada através de rituais de maturidade, que facilitam a entrada do adolescente nas decisões da comunidade, no entanto, na nossa sociedade esses rituais deixaram de fazer sentido, apostando-se em deixar o adolescente “ao livre-arbítrio”, admitindo ser essa a melhor estratégia.
Sabemos que os adolescentes são um dos grupos sociais que mais recebe influência dos seus pares, pois passam a maior parte do tempo com os amigos na escola, identificando-se e sentindo-se compreendidos por estes. Em contrapartida, na grande parte das vezes, acreditam, erradamente, que são incompreendidos pelos seus pais. Por outro lado, os adolescentes acreditam que só serão independentes conseguindo libertar-se da dependência dos pais, contestando as regras e autoridade dos adultos, reagindo intensamente e defendendo as suas razões como sendo as certas. Nesta ordem de ideias, os filhos entendem que precisam da sua independência e os pais desejam que eles sejam independentes, porém, os pais tendem a evitar esta “fuga”, com receio dos perigos. Esta dualidade cria uma confusão de sentimentos, em ambos os protagonistas, dificultando a distinção entre comportamentos “típicos” da adolescência e os sinais de sofrimento.
Os recentes estudos apontam para esse sofrimento e para grandes vulnerabilidades na saúde mental dos jovens. Existem múltiplos fatores que poderão conduzir a este sofrimento, tais como: o aspeto físico, a mudança de escola ou o bullying, os relacionamentos amorosos, a popularidade ou a falta dela, as avaliações, a autoestima, o futuro profissional, as dificuldades no relacionamento dos pais e as dificuldades na regulação das emoções, entre muitos outros.
O sofrimento traz com ele sinais visíveis, como: a falta de apetite, o isolamento, a tristeza, a sonolência ou a insónia, a preocupação excessiva, a falta de ar, o roer as unhas, os comportamentos autolesivos e, até mesmo, os pensamentos suicidas.
Percebemos então que os adolescentes, se por um lado procuram a sua identidade, por outro esta gera conflitos (externos e internos) com a família e amigos. Emergem dúvidas quer com o início da sexualidade ou de questões de identidade de género, quer com a autoimagem, para além de sentirem uma grande pressão social, bem como um maior questionamento de “antigas” verdades absolutas, ideologias e crenças da família. Desta forma, o adolescente foca-se em encontrar o seu próprio equilíbrio, procurando perceber e compreender “quem é”. Todas estas transformações são necessárias para que o adolescente comece a posicionar-se de maneira cívica e refletiva sobre o que experiencia em sociedade, passando a exprimir a sua opinião fundamentada na sua reflexão.
Compreendemos que a família é a base de todo este processo e é onde o adolescente encontra a segurança para construir a sua identidade. Neste sentido, os pais devem promover a melhor relação e uma comunicação positiva com os seus filhos, evitando o conflito. Devem, ainda, ser os pais a estabelecer regras, horários e comportamentos aceitáveis, bem como as consequências para o seu incumprimento. Cabe aos pais manterem a serenidade, fazendo o esforço de voltar atrás no tempo e recordarem a sua própria adolescência e de como era difícil (muito difícil) “encarar o futuro com borbulhas no rosto”. Os filhos só precisam de serem compreendidos e amados.
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