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No Pó dos Arquivos: O Reitor Francisco Moreira Azenha

Após esta leitura, ninguém ficará indiferente. Honremos a memória do Reverendo Francisco Moreira Azenha.

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O mês de Novembro levou-me, em visita, ao cemitério de Santa Maria de Avioso. Aí estão sepultados muitos familiares meus, pelo lado paterno: uns que não conheci, pois nele jazem logo após a data da construção deste campo sagrado (1882); outros, que bem conheci e muito amei! E também alguns, que não sendo meus familiares ou conhecidos, merecem me curve perante a sua memória, pelo que sei quem foram e o que fizeram.
Hoje pretendo homenagear o Reverendo Francisco Moreira Azenha, pároco de São Cristóvão do Muro, entre 1860 e 1916 (reitor aposentado).
Nascido na aldeia de Cidadelha (Santa Maria de Avioso), o Reverendo Francisco Moreira Azenha era filho de José Francisco Moreira Azenha e de Maria Eugénia de Lima. O pai foi ouvidor na Câmara da Maia e, depois, fiscal da Câmara Municipal, em vários quadriénios. A mãe, Maria Eugénia de Lima, era irmã de Francisco de Moura Coutinho, Morgado da Casa da Carrriça, em São Cristóvão da Muro. Entre os vários filhos, o Francisco ordenou-se presbítero, em 1851, em 1860 colou-se reitor em São Crstóvão do Muro, onde passou a residir com a irmã, Maria, no estado de solteira.
Das “Memórias Paroquiais, de1758” constam apontamentos que nos dão conta das obras promovidas pelo reitor, na igreja paroquial.
Parece que em 1766 se procedeu a uma restauração (da igreja), mas tão modesta seria que, em 1860, quando tomou posse o actual pároco, Reverendo Francisco Moreira Azenha achou o templo completamente arruinado, quase indigno do culto. “Por isso, este zeloso sacerdote empreendeu uma larga restauração, aumentando a capela mór e o corpo da egreja, apainelando o tecto, fazendo uma nova tribuna, uma elegante torre, mandando dourar a brunido toda a capela mór e os altares colaterais, onde já existiam quatro colunas de talha em cada um, único ornato que, apesar de muito deteriorado, pôde aproveitar-se do antigo templo. Falta ainda dourar e pintar o corpo da egreja, porque, não obstante a boa vontade e zelo do pároco, a restauração que principiou em 1860 ainda não está concluída.”
Acresce que, também sob a égide do reitor, se procedeu ao entalhamento e douramento das colunas e sanefas da igreja. Para isso, foi contratado o trabalho do entalhador António Ferreira Aleixo, natural de Moreira da Maia, que passara a viver no lugar da Igreja (Muro), após 1896, data do seu casamento com Rosa da Silva Santos. Foi ainda contratado o seu filho José Ferreira Aleixo, de Vila Nova da Telha, “por serem os únicos, por estes sítios, habilitados para isso.”
Também no tempo do reitor, “recorreu-se ao sineiro de Rio Tinto, Alexandre António de Leão, para saber o quantitativo necessário para material de um novo sino, de treze arrobas, para a fundição do velho quebrado.”
Fora da Igreja paroquial, a caminho do Monte de São Pantaleão e no recinto da Capela, as datas inscritas em 9 cruzeiros da Via Sacra recaem na paroquialidade do reitor.
Como terá sido possível obter receita para custear tudo isto? Mais estranho por saber que, anos antes, em 1814, foi declarada a total impossibilidade.
Numa determinação deixada nos livros paroquiais, o Visitador ordenava que no tempo de um ano, impreterivelmente, se procedesse às obras de restauro. “E para se fazer esta obra com maior comodidade, atenta a pobreza que me informam haver nesta freguesia e os poucos lavradores abonados que tem, determino que todas as Confrarias darão de esmola para as ditas obras tudo aquilo que costumam gastar nas suas festas, visto que melhor serviço fazem ao Divino Nosso Senhor com lhe prepararem a casa da sua habitação que em ornatos e feitios que, bem longe de Lhe dar honra e louvor, antes Lhe servirão de ofensa.” Não aceitando esta imposição, os paroquianos responderam que “muitos dos principais não queriam dar as esmolas, dizendo que só as dariam havendo festas.”
“Às onze horas do dia sete do mês de Março do ano de mil novecentos e dezasseis, numa casa do lugar do Cabo, da freguesia de São Cristóvão do Muro, faleceu um indivíduo do sexo masculino, de nome Francisco Moreira Azenha, de oitenta e sete anos de idade, de profissão pároco aposentado. Foi sepultado no cemitério de Santa Maria de Avioso. A declaração de óbito foi feita por António de Sousa Moreira, sobrinho do falecido e morador no lugar do Vale, freguesia de Alvarelhos.” Este António de Sousa Moreira era descendente dos proprietários da Casa de Sousa Moreira, da aldeia de Vilares (Muro) e casara com Leopoldina Moreira Azenha, sobrinha do reitor.
Deixo uma sugestão aos meus conterrâneos. Entrem no cemitério de Santa Maria de Avioso, pelo portão principal, percorram o arruamento até ao conjunto de três capelas jazigos. Na do meio, datada de 1889, podem ler esta inscrição pintada na parede do fundo:
CATACUMBA PERPTUA
DO R.o REITOR DE SAM CHRISTOVÃO
FRANCISCO MOREIRA AZENHA
NASCEU a 1 de Maio de 1828
FALLECEU a de Março de 1916
Após esta leitura, ninguém ficará indiferente. Honremos a memória do Reverendo Francisco Moreira Azenha.

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