Edição 736
Mercearia Solidária: adquirir bens de primeira necessidade em troca de trabalho voluntário
Foi inspirada numa resposta social existente no Alentejo, mas foi adaptada à realidade da Trofa e à intenção de ser também um veículo “agregador” do trabalho feito pelas várias instituições de solidariedade do concelho.
A “Mercearia Solidária”, situada nas instalações da instituição, perto dos Correios, em S. Martinho de Bougado, surgiu de uma candidatura da delegação da Cruz Vermelha Portuguesa ao Prémio BPI “la Caixa”, que começou a operar, oficialmente, esta semana. Contando com um apoio financeiro de 30.100 euros, esta valência visa “facilitar o acesso a bens de primeira necessidade em troca de trabalho voluntário”. Desta forma, considera a Cruz Vermelha, é fomentada a “mudança de comportamentos”, através da promoção de “competências no âmbito da gestão doméstica”.
Este projeto caracteriza-se por, através de uma moeda fictícia, entregar bens alimentares, de higiene e outros a beneficiários que serão “pagos” pelo trabalho que realizarem em prol da comunidade.
A “Mercearia Solidária” não exclui todos os outros apoios sociais dados pela delegação, que “não vai deixar de apoiar as famílias em situação de vulnerabilidade”. Antes quer, com mais esta resposta, “promover uma aprendizagem útil para que, futuramente, apliquem, nomeadamente ao nível da integração na vida ativa”. E, por outro lado, tenta “romper com vícios e dependências instaladas”, que dificultam a mudança de comportamentos.
Além disso, servirá também para retribuir toda a ajuda que os voluntários dão, diariamente, para que a ação da Cruz Vermelha seja o mais eficiente possível. “Temos voluntários que vão recolher os alimentos aos supermercados e gastam entre três a quatro horas para esse trabalho. Agora, podem converter o tempo que dispensaram em géneros”, explicou Daniela Esteves, presidente da delegação.
Este projeto tem ainda outra particularidade: a de permitir que pessoas que, outrora com vidas estáveis, caíram em situação de carência económica, recentemente, alimentando ainda algum pudor de pedir ajuda. “A ideia é que essas pessoas que precisam de ajuda sintam que podem ser úteis, acabando por também ser ajudados”, explicou a responsável.
Num ano, a Cruz Vermelha espera ajudar 150 pessoas. Por uma hora de trabalho, o voluntário receberá cinco “cruzinhas” (moeda fictícia). “Uma lata de atum ou de salsichas valem uma cruzinha. Com cinco horas de trabalho voluntário, a pessoa pode levar um cabaz”, exemplificou Daniela Esteves.
A Cruz Vermelha espera envolver as outras instituições que fazem trabalho social no concelho, esperando que estas remetam a lista de beneficiários que podem ter acesso à mercearia, numa lógica de “confiança institucional”, porque, sublinhou Daniela Esteves, o projeto “não pode servir para substituir mão de obra”.
Voluntária “há alguns anos”, Lina Andrade tomou conhecimento deste projeto com “surpresa”. “É um projeto ótimo para incentivar as pessoas a aderirem ao voluntariado”, diz, sem deixar de reconhecer que, pelo “imenso trabalho” que tem, “às vezes, a instituição tem algumas dificuldades” para conseguir atender a todas as necessidades.
E apesar de sublinhar que “um voluntário não está à espera de ser remunerado”, Lina Andrade admite que este projeto acaba por “ser um miminho, que reconforta”.
Já Luís Machado, voluntário da instituição “há cerca de cinco anos”, considera que a Mercearia Solidária “é um projeto que tem pernas para andar”. “É muito bom, porque vai ajudar muitas pessoas, principalmente aquelas que têm vergonha de pedir, porque vão sentir-se úteis à comunidade”, afiançou.
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