Edição 732
Obelisco para eternizar origem da imagem de Nossa Senhora de Fátima
Desde 28 de dezembro que mora em S. Mamede do Coronado um monumento evocativo do centenário da imagem de Nossa Senhora, que foi esculpida por José Ferreira Thedim e colocada na Capelinha das Aparições.
Apesar de simbólica, a inauguração do obelisco, obra assinada pelo artista De Velasco e situada perto do Largo de Feira Nova, foi apadrinhada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santo Silva, e pelo bispo do Porto, D. Manuel Linda.
Com a presença no evento, o governante quis relevar a importância que a arte relacionada com a imaginária religiosa tem na forma como Portugal é visto no mundo, ao contribuir “para a afirmação da cultura” lusa na “dimensão religiosa”. “É também importante como elemento vivo das tradições locais e das artes tradicionais. Trata-se de uma referência popular aqui no Coronado, através dos chamados santeiros, que continua a verificar-se e que é preciso acarinhar e preservar”, acrescentou.
Para D. Manuel Linda, este momento “feliz” que viveu ao testemunhar a inauguração de um monumento que assinala os cem anos da imagem de Nossa Senhora de Fátima destaca-se também pelo reconhecimento da “identidade” de uma comunidade, feita “em torno da dimensão religiosa, cultural e económica”.
“Esta é uma terra estritamente religiosa e muito ligada a Nossa Senhora. O escultor da imagem de Fátima, ao fim e ao cabo, materializou com as suas mãos aquilo que já estava no seu imaginário. Esta dimensão continua nas gentes da Trofa e, concretamente, no Coronado e se for expressa na escultura, com a dimensão económica e artística, juntam-se aqui três setores que são muito bons e que dão cunho de desenvolvimento local”, sublinhou.
Com um investimento de “sete mil euros” e o apoio de “muitos mecenas que contribuíram para a conceção e elaboração desta obra”, a Junta de Freguesia do Coronado materializou a obrigação que sentia em contribuir para perpetuar, junto da comunidade, o facto de “a imagem que, hoje, tem o significado que tem, que ultrapassa fronteiras e que é uma das imagens de marca de Portugal, nasceu aqui (S. Mamede), em 1920”.
“São cem anos que muito contribuíram para que a comunidade e a freguesia de S. Mamede do Coronado sentissem repercussões desse feito, tanto a nível económico, como na proliferação e crescimento da produção da arte religiosa, que foi, até ao início da década de 90, muito significativa”, sublinhou o presidente da Junta, José Ferreira.
A passar por um “momento letárgico”, a arte sacra precisa, defende o autarca, de medidas que contribuam para a sua longevidade. “É um marco histórico da nossa freguesia. Se pudermos fazer alguma coisa para a prolongarmos no tempo, estamos dispostos a pôr mãos à obra”, adiantou José Ferreira, que, nesse sentido, anunciou a criação de uma outra obra de arte, “muito direcionada para os santeiros”, para homenagear todos aqueles que passaram pelo ofício.
“Este é um recado que se deixa para os vindouros”
O obelisco, inspirado nos monumentos típicos do Antigo Egito, constituídos por um pilar de pedra em forma quadrangular alongada e uma pirâmide no topo, não foi escolhido por acaso. Ao NT, o autor da peça, De Velasco, explicou que, tal como aquela figura de pedra estava associada às crenças dos povos egípcios, também este tem uma forte componente “religiosa”, por assinalar o centenário da imagem de Nossa Senhora de Fátima. Mas mais importante que marcar a efeméride, era importante deixar “um recado” para “os vindouros”. “As pessoas têm de saber que há pessoas, cujos nomes não devem ser apagados, devido aos feitos que protagonizaram. Este monumento assinala um facto que muita gente, ainda hoje, desconhece, e outra gente que conhece e adultera, ao ponto de se fazer passar por autor de coisas que não fez”, atirou.
Na base do obelisco, há uma forma que imita “uma mola” que, “em vez de pendurar num sítio qualquer, está fixo para que todos saibam que, nesta terra, houve uma pessoa com valor”.
“Serve também para contrariar aquilo que se passa, hoje, a nível mundial e não só em Portugal, em que se valoriza aquilo que não se deve valorizar e aquilo que é valorizável, muitas vezes, fica no esquecimento e as pessoas morrem no anonimato”, concluiu.
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