Muito linda está a festa este ano, comentou o meu amigo e conterrâneo Ferreira, quando Sábado de manhã entrámos no maravilhoso recinto da Atalaia, onde se realizou a festa do Avante do Partido Comunista Português. A surpresa veio pela tarde e noite.
Não me recordo de ver tanta gente na festa, nem tanta juventude. O meu amigo Ferreira disse-me: amanhã vou comprar o “Noticias” para ver o que dizem e o que trazem. Nada, respondi-lhe.
É impossível, retorquiu, com esta multidão…! estão aqui muitos estádios de futebol repletos, é impossível não haver referências. No dia seguinte, Domingo, constatou o meu amigo que eu tinha razão. O periódico nada trazia sobre o Sábado da Festa do Avante. Sem dúvida que não há liberdade, nem democracia nem imparcialidade nos grandes órgãos de comunicação social. Não temos dúvida em afirmar que, fosse a festa do Avante de qualquer outro partido, a cobertura jornalística seria exaustiva. Mas como é do Partido Comunista Português dá jeito omiti-la, desvalorizá-la.
É a constatação da luta de classes. Afinal a quem pertencem os grandes órgãos de comunicação? Ao grande capital económico e financeiro e ao governo, no caso dos órgãos de comunicação do Estado. Mas como este se encontra subalternizado ao capital…está tudo dito. Seguem a política da autêntica lavagem cerebral de repetirem tantas vezes tanta mentira que esta passa a ser verdade. Não dão informação. Apenas desinformação. Assim, logo relevaram as intervenções de Ferreira Leite e de Santos Silva sobre “ o nada” e posteriormente as dos comentadores e fazedores de opinião sobre esse mesmo “nada”, que resultou em “nada”. Porque soluções, propostas e outros caminhos desses lados, não existem. A única coisa que distingue PS de PSD é o D do último. E a representação teatral. A política é a mesma, o objectivo o mesmo e a representação, é só para enganar o povo. A solução e as propostas para uma política diferente vinham da Atalaia, na festa do Avante, expostas pela voz de Jerónimo de Sousa no comício de Domingo à tarde, mas também de diversos colóquios, conversas e debates que decorreram nos três dias do evento.
Houvesse comunicação a sério e liberdade de informação e as iniciativas políticas da festa do Avante constituiriam um manancial a transbordar de notícias, debates e propostas ideológicas e políticas. A título de exemplo saliento os debates sobre o Código do Trabalho e sobre o agravamento da exploração e degradação das condições de vida e o condicionamento do desenvolvimento do País com Francisco Lopes, Arménio Carlos e Mariza Gonçalves; sobre os 160 anos do Manifesto do Partido Comunista com Barata Moura, reitor da Universidade de Lisboa, Domingos Abrantes e Ana Sofia Correia; sobre a crise económica e a exploração capitalista e os perigos, ameaças e possibilidades que desafiam os trabalhadores e os povos com Sérgio Ribeiro, Agostinho Lopes e Carlos Carvalhas e o debate sobre o Tratado de Lisboa e a soberania nacional e a luta por uma Europa dos trabalhadores e dos povos com Ilda Figueiredo, Pedro Guerreiro e Maurício Miguel. Além disso existiram muitas conversas com diversos e diversificados temas : «Sobre Rogério Ribeiro – o artista, o militante, o construtor da Festa», «O PCP no Parlamento Europeu – defender os interesses dos trabalhadores e a soberania nacional», «Direito à saúde – direito de Abril»; «Vozes e lutas das mulheres», «Médio Oriente – Resistência e luta contra o imperialismo»; «Cuba – 50 anos de Revolução Socialista»; «A crise económica e financeira internacional e o papel dos países em desenvolvimento», «Saúde e sentidos – as políticas necessárias», «Ciência e Tecnologia ao serviço dos sentidos» e «O universo com sentidos». Conversas e debates em que todos intervieram abertamente, exprimindo as suas ideias e os seus conhecimentos que fazem de facto deste PCP “ um partido com paredes de vidro “, transparente, amplo espaço de debates e ideias, forjado na unidade de aço da resistência e laboratório vivo, activo, não dogmático para transformação da sociedade.
Mas a festa é muito mais do que isso. É espaço de desporto. Competitivo, mas salutar, fomentador de amizade e respeito. Espaço do teatro, do cinema, do livro e do disco. Espaço da música. Espaço internacional, solidário e fraterno. Espaço de gastronomia…eu sei lá. Não há em Portugal, nem na Europa, festa semelhante com tamanha dimensão. Mas, de superior relevância, como salientou o meu camarada José Saramago na mensagem em vídeo que enviou à festa durante a singela homenagem invocativa dos 10 anos do prémio Nobel «…a festa do Avante passou a fazer parte da existência da vida de milhares e milhares de camaradas e amigos nossos que todos os anos aparecem como voluntários, sem retribuição, para trabalhar. No fundo, ao trabalharem para a festa trabalham para o país, trabalham para o futuro e trabalham para um sentimento de comunidade e de solidariedade daquilo que o Partido é o exemplo mais flagrante de toda a sociedade portuguesa».
Guidões, 9 de Setembro de 2008.
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Atanagildo Lobo