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Política siciliana

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Existem vários casos, de norte a sul do país, transversais a vários partidos políticos, ainda que com especial incidência nos dois suspeitos do costume. Entre eles, o caso de Isaltino Morais é, na minha opinião, aquele que melhor ilustra um dos maiores problemas que a nossa democracia enfrenta, e que diz respeito à forma como somos permissivos para com os abusos dos autarcas portugueses, o que os motiva a fazer mais e pior. E a comportarem-se como pequenos ditadores.

Isaltino Morais filiou-se no PSD ainda na década de 70. Serviu como ministro no governo de Durão Barroso, exerceu funções no Conselho da Europa e no Comité das Regiões da União Europeia, teve cargos em diferentes organismos públicos e foi, desde 1985, presidente da CM da Oeiras, não se tendo apresentado como candidato às Autárquicas de 2013, por se encontrar preso, eleição que acabaria por ser ganha pelo seu delfim, Paulo Vistas. Em 2017, já depois de ter cumprido o tempo de prisão, Isaltino Morais regressou às vitórias, desta vez com uma esmagadora maioria absoluta.

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É inegável que o concelho de Oeiras cresceu e evoluiu positivamente durante os seus mandatos, sendo hoje uma referência nacional a vários níveis. A obra foi feita, as empresas fixaram-se e a qualidade de vida da população aumentou substancialmente. Como é evidente, não fez mais que a sua obrigação: um autarca é eleito para trabalhar, não para fazer um favor à população, e recebe, em troca, um salário muito acima da média, com inúmeras regalias, algumas vitalícias, amplamente conhecidas por todos.

Não obstante, desempenhar um bom trabalho à frente de uma autarquia não legitima um autarca a cometer crimes no exercício das suas funções. Não legitima que possa gerir negócios públicos com e para os seus amigos e colegas de partido, não legitima que possa dar (ou criar de raiz) tachos para os seus boys, não legitima que possa usar recursos que são de todos em benefício da sua pessoa, dos seus e do seu partido.

E não só não legitima como deve ser severamente punido, com penas de prisão pesadas, sem prescrições, e impedimento vitalício de exercício de funções públicas. Mas isto sou eu, que não aprecio políticos corruptos, por muitas estradas que pavimentem, obras que construam ou empresas que, durante o seu mandato, se fixem no concelho em causa. Na minha opinião, não há rigorosamente nada que legitime a continuidade de um político criminoso em cargos electivos. A gestão pública não é a máfia siciliana. Apesar das semelhanças.

Portugal, infelizmente, está repleto destes cancros autárquicos. Uns são perfeitos incompetentes, incapazes de arranjar um passeio, outros mais dotados, ou mais capazes de se fazer rodear de pessoas capacitadas, mas, no fundo, não deixam de ser farinha do mesmo saco. São criminosos, ponto. E não existem bons criminosos. Um criminoso é um criminoso. E deve ser exemplarmente punido. Lamentavelmente, ainda há muito quem neste país venere criminosos, quem esteja disposto a votar em criminosos, mesmo quando os seus crimes são evidentes demais para serem ignorados. É a velha história do “rouba, mas faz”. Ou do “eles são todos iguais e a corrupção está-lhes no sangue”.

Discordo de ambas as premissas. Se rouba deve ir para a prisão, faça o que fizer. E não, eles não são todos iguais. E essa falsidade, que nos garante que são todos iguais, só beneficia os criminosos, pelo que é meu entendimento que deve ser combatida. Como devem ser combatidos, sem tréguas, todos estes mafiosos, que só contribuem para descredibilizar ainda mais a política portuguesa, que nos custam, todos os anos, vários milhões de euros, e que nos provam, todos os dias, que a igualdade de oportunidades não passa de uma farsa para enganar os mais ingénuos. Pena sermos tão mansos.

Temos o que merecemos.

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