Edição 683
A amizade mudou a vida de José Silva
Dezembro é o mês que lembra as pessoas com deficiência. Em duas datas, 3 e 9, assinalam-se o Dia Internacional e o Dia Nacional de quem, apesar das limitações físicas ou psicológicas, merece ser visto como um cidadão de plenos direitos. Alguns guardam histórias de vida inspiradoras, por não se vergarem às dificuldades. A de José Manuel Silva é um exemplo. O NT foi visitá-lo para saber como este guidoense tem vivido, depois de em 2011 ter sido notícia.
Durante quase 20 anos, José Manuel Silva esteve “enclausurado” em casa. A 26 de setembro de 1992, uma hérnia cervical relegou-o para uma cadeira de rodas, mudando a vida deste guidoense para sempre. Foi um dia como tantos outros. “Depois de matar o porco”, José foi “buscar uma arca frigorífica” para “meter a carne” e dirigiu-se depois para “perto de um tanque”, onde estavam “algumas espiguitas de milho”. Aproveitou para fumar um cigarro e pegar nalgumas espigas. Foi quando o corpo falhou. “Caí para o lado. Eram oito horas da noite. A minha mulher estava lá em cima com os meus filhos. Ela chamou por mim, eu respondi, mas não me conseguia mexer”, recordou o homem que, a partir daí, conheceu uma nova realidade: a d de ser deficiente motor. “A minha vida mudou”, reconhece.
A nova condição afetou-o muito psicologicamente. Um homem “de trabalho”, de repente, ficava dependente de terceiros para viver. Depois de se “mentalizar” que nunca mais iria conseguir ter vida profissional ativa, refugiou-se em casa e não saía. “Nem de carro”, conta a filha, que cresceu a ver o pai aprisionado ao corpo e a uma mente incapaz de ver a luz ao fundo do túnel.
A casa, ainda a ser construída, também não estava preparada para uma pessoa com mobilidade reduzida. Foram feitas pequenas alterações, mas as grandes mudanças aconteceram apenas em 2011, quando um grupo de amigos ligados à Comissão Social de Freguesia decidiu juntar-se para dar uma cadeira de rodas elétrica a José Silva. Foram feitas algumas iniciativas de recolha de fundos e houve quem, sob anonimato, também contribuísse com avultadas quantias. José Fernando Campos, um dos envolvidos, contou que “uma pessoa leu a história do senhor José n’O Notícias da Trofa e contribuiu com 2500 euros”.
Incapaz de pagar um equipamento deste calibre, este homem viu na amizade a tal luz que lhe iluminou um novo caminho. “Eles sabem que eu era um homem de trabalho, não era de parar nos cafés a gastar o dinheiro. Eu trabalhava para ter a minha casa”, contou.
Com a nova cadeira, saiu de casa. Dezoito anos depois. A rotina passou de horas recolhido a tempo a passear pela freguesia. Imagens como José Silva ir à missa, à farmácia, ao centro de saúde ou a subir o Monte de Santa Eufémia tornaram-se corriqueiras. “Não preciso de chatear ninguém. Vou onde quero”, referiu.
Aos 66 anos, José Silva tenta governar-se com uma pensão de 400 euros, sendo que, segundo a filha, “por ter herdeiros”, não está isento do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). “Paga três mensalidades de 230 e tal euros”, protesta a filha, que reclama também os tempos da Segurança Social, que o colocou numa lista de espera para obter uma cadeira de rodas convencional, para substituir a primeira que teve. “Tem de estar um ano à espera”, contou. José Silva é mais pessimista e considera que da Segurança Social não virá nada, contando que tem cadeira sanitária “graças à Confraria e ao pessoal da freguesia” e uma cama articulada “graças ao ex-presidente da Junta e outras pessoas”. Depois de um tempo mais resguardado devido a outro problema de saúde, José espera agora que o “bom tempo” regresse para voltar à sua rotina de passear pela freguesia.
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