Crónicas e opinião
Memórias e Histórias da Trofa: Apontamentos sobre Heliodoro Salgado
Numa das mais recentes inquirições por arquivos e bibliotecas na procura de escrever mais uma biografia sobre uma personagem histórica com ligações à Trofa, referência para Augusto Salgado, irmão de Heliodoro Salgado, surgiram novas informações sobre a vida do recente biografado.
A história é um livro aberto que se vai escrevendo páginas atrás de páginas ao longo das investigações, não sendo uma ciência exata e sobretudo fechada, porque a qualquer momento podem surgir novas fontes de conhecimento para aclarar ideias e conhecimentos.
Camões já escrevia: “Que por valorosos feitos, da lei da morte se vão libertando” e Heliodoro era disso exemplo, em 1913, quando o seu irmão é nomeado Presidente da Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez, por Bernardino Machado, várias foram as referências a Heliodoro, como sendo um dos maiores pensadores do seu tempo, tendo-se destacado, sobretudo, a sua preocupação com os membros das classes mais pobres.
Após quase uma década da sua morte, ainda vários eram os artigos no jornal a enaltecer aquela figura e, inclusivamente como foi relatado noutras crónicas, surgia na galeria de honra de muitas dessas publicações. Comprovando que afinal a morte física é apenas um acontecimento e que quem em vida tenha vivido com honra não é esquecido.
Surgiram novos dados sobre o seu funeral, com notícias que apontavam que o seu cortejo fúnebre rapidamente juntou aproximadamente 50 mil pessoas e que conseguiu ao longo do seu percurso, no global, um número aproximado de 200 mil. Não é um número exagerado se tivermos em conta que a cidade de Lisboa nesta fase da história tinha entre 350 mil a 430 mil pessoas.
Importante referir que a maior parte da sociedade lisboeta era operária, gente de poucos recursos que via em Heliodoro um homem que sempre esteve ao seu lado e como marca do bom ADN português era impensável não irem prestar homenagem a quem tanto os defendeu.
Contudo, a notícia que mais impacto causou, que surgiu nas recentes inquirições, foi a que dava conta de que, no dia da sua morte, enquanto decorria o seu cortejo fúnebre, vários militares da Marinha, ramo do exército mais próximo das lutas operárias nesta fase da história, em sinal de respeito pelo falecido, concederam honras militares, acompanhando o seu caixão até ao cemitério em formatura e com todas as honras militares dadas no funeral das individualidades.
Acabariam por serem avisados pelos organizadores do cortejo fúnebre que aquelas atitudes podiam sair caras, aqueles homens que prestavam homenagem a quem partia e que o aconselhado era que eles desmobilizassem e integrassem o cortejo fúnebre como um qualquer mortal. Não queriam os organizadores que aqueles simples militares sofressem consequências por apoiarem uma figura crítica do poder político. A democracia era algo estranho para aquela fase da história.
Os mesmos recusaram desmobilizar e, segundo os relatos, era uma imagem que impressionava verem aquela dedicação a uma figura e acabariam apenas por abandonar o local, após formatura junto ao cemitério, apenas quando o caixão recolheu até à terra no final do cemitério.
Acabaram por sofrer as consequências daquele ato de honra, de coragem e sobretudo de respeito, não havendo espaço para cobardias.
Relativamente às consequências, é mais um desafio para investigar nas profundezas dos arquivos…
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