Crónicas e opinião
Crónica: Eu por mim, tu por ti
Dei por mim, recentemente, a pensar naquilo que são as relações de hoje em dia, entre todas as gerações. Se, por um lado, o meu conhecimento de causa incide sobretudo sobre as gerações mais jovens, a verdade é que mesmo as gerações mais velhas parecem ter alguns problemas dentro dos seus relacionamentos, quer amorosos, quer amigáveis, quer profissionais.
Gosto de observar as pessoas na rua, nos cafés, nas redes sociais, fazendo verdadeiros estudos sociológicos off the record, e tento tirar as minhas próprias conclusões sobre o que vejo.
Infelizmente, parece-me a mim que a população vive cada vez mais centrada no eu, cada vez mais egoísta e egocêntrica. E se eu acho que o egoísmo é positivo até certo ponto, pois pode servir como um mecanismo de defesa, a verdade é que também acho que aquilo sobre o qual todo o mundo deve estar subjugado é o equilíbrio. Logo, não podemos passar, como se diz na linguagem corrente, do oito para o oitenta.
A verdade é que isto me parece uma consequência, mais uma vez, de um conjunto de situações que se tornaram banais nestes tempos recentes. Culpo, como sempre, o advento das redes sociais, que nos tornaram egoístas, centrados em nós mesmos, e constantemente à procura de uma gratificação instantânea, nas redes emulado no like. O que falhamos em perceber é que a vida real não tem likes, a vida real não nos dá o que queremos, quando queremos, da forma que queremos. E isto não é uma dissertação de copo meio vazio, mas antes um olhar racional para aquilo que vivemos. Se nos habituarmos a essa sensação falsa de felicidade que vem dessas construções sociais que são o Facebook e os seus amigos, então viveremos para sempre numa espiral de frustração, pois teremos sempre a má mania de esperar resultados iguais de fontes diferentes. Uma espécie de alteração à definição da estupidez de Einstein.
E isto leva-nos a graves perturbações nos nossos relacionamentos, pois esperamos tudo e qualquer coisa dos outros, achando que, para nós, bastar estar presente. Uma ideia semelhante à de “eu posto uma fotografia, tu pões like”. A questão é que a vida real não funciona assim, em nenhuma variável ou parâmetro. E caímos, invariavelmente, numa rotina de expectativas furadas perante as pessoas que gostamos, através do egoísmo que, neste século XXI, pauta as nossas vidas.
Esta perspetiva vem também influenciada por diversos oradores e pensadores atuais, cujas filosofias se centram demasiado no eu, na vontade pessoal, de uma forma extremamente exagerada, que desregula o equilíbrio necessário ao bem-estar. Isto, a juntar à publicidade consumista, que pinta a vida de uma forma enganosa, ao entretenimento na televisão, muito pouco próximo daquilo que são as nossas vidas reais, origina, então, o problema que abordamos.
É necessário que pensemos que precisamos dos outros para sermos felizes. Precisamos da companhia, do contraditório, do colocar em causa que vem de fora, que nos faz sair das nossas visões extremamente personalizadas da vida, que nos alarga horizontes e que, em último caso, nos faz crescer e evoluir. Cheguemos, então, à conclusão de que o equilíbrio de qualquer coisa é o barómetro essencial para uma vida preenchida.
Literariamente, estamos conversados.
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