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Edição 668

Crónica: O Facebook é uma janela escancarada

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O desejo e o prazer são a combinação perigosa, para que os utilizadores do Facebook fiquem num elevado grau de dependência desta rede social virtual mais utilizada no mundo, criada pelo norte-americano Mark Zuckerberg em 4 de fevereiro de 2004. Tal viciação é originada por uma sensação de bem-estar, uma sensação de prazer que é acionada quando o facebookiano se expõe à rede social, o que provoca um desejo forte de voltar a visitar o Facebook, o mais rapidamente possível.
A sensação de bem-estar do utilizador quando regressa à rede social, associada à combinação dos dois fatores – desejo e prazer – são as razões pelas quais é tão difícil resistir ao Facebook. Quando as pessoas se dispõem a abandonar a utilização desta rede social perdem a referida sensação de prazer e sentem um sentimento de culpa, o que resulta no desejo dum regresso que lhes dará como recompensa a sensação de bem-estar que tinham perdido.
As redes sociais exploram vulnerabilidades na psique humana e estão a destruir as bases da sociedade, pois fomentam a mentira e a desinformação, e formatam o cérebro dos utilizadores de uma forma que elimina a convivência social, a cooperação e a cidadania ativa. Para combater os efeitos nefastos das redes sociais, os utilizadores devem dedicar mais tempo de forma interativa ficando conectados com familiares, amigos e colegas da escola e do trabalho, que provoca alegria e fortalece o sentido de comunidade até porque foram estes os motivos que levaram muitas pessoas a utilizarem as redes sociais, a serem facebookianos.
Para além dos efeitos nefastos e do elevado grau de dependência da utilização das redes sociais é a possibilidade de usurpação dos dados pessoais inseridos em sistemas de tratamento automatizado. Esses dados que deviam ser confidenciais podem ser usados para a manipulação de pessoas, para fins comerciais e até políticos, colocando em risco a liberdade e a democracia.
Quando está na agenda política a proteção de dados pessoais, a importância e a urgência em assegurar a integridade, disponibilidade e confidencialidade dos dados pessoais, começou a ser revelada a verdadeira dimensão do escândalo Facebook/Cambridge Analytica (empresa privada especialista em tratamento e análise de dados para processos eleitorais). O Facebook é uma janela escancarada, pois nas últimas eleições presidenciais norte-americanas foram roubados dados pessoais de 87 milhões de utilizadores, para serem trabalhados pela empresa que esteve envolvida na propaganda de Donald Trump.
Só recentemente é que Zuckerberg assumiu os erros e o referido roubo, embora tenha sido avisado em 2015, mas manteve o segredo até agora e não informou os utilizadores que os seus dados tinham sido usados para condicionar resultados eleitorais. O Regulamento Geral da Proteção de Dados, que tem regras exigentes vai entrar em vigor já no próximo dia 25 de maio e vai obrigar o Facebook a adaptar os seus procedimentos de forma a poder continuar a operar na União Europeia.
O Facebook nunca teve uma política transparente de privacidade e sempre se aproveitou para espiar os seus utilizadores. O responsável máximo do Facebook já pediu desculpas públicas e anunciou que vai adaptar os procedimentos, mas só dentro do espaço europeu. Apenas!

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