Edição 663
A afirmação da mulher é uma luta que (ainda) se justifica – “Nunca senti qualquer constrangimento na execução das minhas funções”
“Claro que as mulheres ganham menos que os homens. Elas são mais fracas, mais pequenas e menos inteligentes”. As palavras do eurodeputado polaco Janusz Korwin-Mikke, em pleno século XXI, mostram que a luta pela igualdade de género é mais atual do que aquilo que possamos pensar e mais universal do que o que parece.
Podemos viajar até 1857 para encontrar o início de uma luta, que se prolongou ao século XX, por melhores condições de trabalho, salários baixos, excessivas horas de trabalho ou o direito ao voto. Em 1975, a Organização das Nações Unidas decretou oficialmente o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher.
Algumas das mulheres contemporâneas vestem a pele de várias mulheres e usam uma capa quase que de super-heroínas que lhes permite realizar várias tarefas diárias e quase em simultâneo. De forma a homenagear as mulheres em geral, fomos à procura de alguns exemplos que marcam a diferença a nível pessoal e profissional e que nos mostram que esta é uma luta que valeu e continua a valer a pena, todos os dias do ano.
“Nunca senti qualquer constrangimento na execução das minhas funções”
Poucas são as pessoas que não a conhecem ou que não tenham ouvido falar dela, uma vez que ajudou a trazer ao mundo grande parte dos trofenses das últimas gerações. Maria Adelaide Matos trabalha “há 40 anos” como enfermeira especialista de Saúde Materna e Infantil: 38 anos no Hospital de Vila Nova de Famalicão, 20 anos na Misericórdia da Trofa, 22 anos na Clínica Senhora das Dores e 19 anos no Hospital Privado da Trofa, onde ainda exerce como Chefe e Enfermeira Especialista na área da mulher e da criança. Mãe de três filhos e avó de quatro netos, Adelaide Matos descreve-se como “uma mulher de convicções fortes”, sentindo-se “realizada quer a nível familiar, profissional ou social”, pois “sempre” foi “determinada e atenta às transformações contínuas” que lhe apareciam, “respondendo com audácia, atitude, partilha e paixão”. “Sou católica e tenho uma fé inabalável. A minha Fé é o motor da minha vida”, frisou, destacando que a sua “relevância” é o facto de “estar sempre disponível para abraçar projetos” que lhe são solicitados. Um dos últimos foi ser presidente da Comissão de Festas de Nossa Senhora das Dores. Profissionalmente, Adelaide afirmou que “nunca” sentiu “qualquer constrangimento na execução” das suas funções, por ser mulher, mas que “sempre” foi “respeitada e valorizada como profissional e mulher”. Apesar de existir “momentos na vida que, muitas vezes, temos de optar pela vida familiar ou profissional”, a enfermeira garantiu que isso “não” aconteceu consigo, porque teve “uma família (filhos e marido) que sempre a apoiou” e “muito estável”, tendo a certeza que “Deus” a “protegeu”. A enfermeira “não” é da opinião que haja cargos/profissões que sejam mais bem executadas por mulheres ou homens, porque, “nos dias de hoje, com o acesso à formação e informação que existe, qualquer homem ou mulher poderá munir-se das competências para desempenhar qualquer profissão de forma exemplar”. Quanto à institucionalização do Dia Internacional da Mulher, Adelaide referiu que é “mérito de valor e relevante na sociedade hoje”, apesar de, para si, esta data comemorar-se “todos os dias”, pois a sua profissão é “essencialmente cuidar da mulher”. “O papel da mulher na sociedade é determinante na família, na profissão, no progresso e na vida social. A nossa partilha, o nosso testemunho e a nossa ação podem e devem ser nucleares na construção de todas as vertentes. As mulheres portuguesas já se destacam pela audácia, afeto, beleza, partilha, e atitude. É importante que continuem a acreditar e assim o nosso país será, com certeza, um país melhor”, mencionou.
Entrevista completa
NT: Nota biográfica
AM: Maria Adelaide Rodrigues Silva Matos, casada, mãe de 3 filhos e 4 netos. Enfermeira Especialista de Saúde Materna e Infantil. Trabalho há 40anos, 38 anos no Hospital de Vila Nova de Famalicão, 20 anos na Misericórdia da Trofa,22 anos na Clinica Sr.ª das Dores, 19 anos no Hospital Privado da Trofa, onde ainda hoje exerço como Chefe e Enfermeira Especialista na área da mulher e da criança.
NT: Alguma vez se sentiu prejudicada no exercício das suas funções por ser mulher?
AM: Nunca senti qualquer constrangimento na execução das minhas funções. Sempre fui respeitada e valorizada como profissional e como mulher.
NT: Foi difícil chegar onde conseguiu chegar a nível profissional?
AM: Não, sempre fiz o meu trabalho com atitude, coração, paixão… tudo foi acontecendo de uma forma natural.
NT: Considera que há cargos/profissões que são mais bem executadas por mulheres/homens?
AM: Nos dias de hoje com o acesso à formação e informação que existe, qualquer homem ou mulher poderá munir-se das competências para desempenhar qualquer profissão de forma exemplar, respondendo à sua questão: Não.
NT: Alguma vez sentiu pressão para conseguir dar a mesma atenção à vida profissional e à vida familiar?
AM: Há momentos na vida que muitas vezes temos de optar pela vida familiar ou profissional não é o meu caso porque tive uma família que sempre me apoiou (filhos e marido), muito estável graças a Deus e tenho a certeza que Deus me protege.
NT: Como se descreve enquanto mulher?
AM: Sou uma mulher de convicções fortes. Sinto-me realizada quer a nível familiar, profissional ou social, pois fui sempre determinada e atenta às transformações contínuas que me foram deparando, respondendo com audácia, atitude, partilha e paixão. Sou católica e tenho uma fé inabalável. A minha Fé é o motor da minha vida.
NT: O que sente por ser uma mulher de relevo no seu concelho?
AM: Todas somos importantes no lugar em que estamos inseridas, temos de nos interligar estar atentas e dar o melhor de nós. Os talentos não se escondem mas sim multiplicam-se. Ninguém faz nada sozinho, mas sim com todos os que nos rodeiam.
A minha relevância é estar sempre disponível para abraçar projetos que me são solicitados.
NT: Como vê o contributo que dá à sociedade?
AM: Ao cumprir o meu dever como pessoa já sou obrigada a respeitar o outro com todos os princípios que a Dignidade Humana exige. Tenho a obrigação de me interligar com todas as vertentes da sociedade, pois só assim irei de encontro com meus valores e contribuir de forma positiva.
NT: O que acha do Dia Internacional da Mulher? Como vive esta data?
AM: O dia da mulher para mim é todos os dias pois a minha profissão é essencialmente cuidar… da mulher. Mas ter um dia reconhecido como dia da mulher é um mérito de valor e relevante na sociedade hoje.
NT: Como vê o papel da mulher na sociedade atual?
AM: O papel da mulher na sociedade é determinante na família, na profissão, no progresso e na vida social. A nossa partilha, o nosso testemunho, a nossa ação, podem e devem ser nucleares na construção de todas as vertentes.
NT: O que falta às mulheres portuguesas?
AM: As mulheres portuguesas já se destacam pela audácia, afeto, beleza, partilha, e atitude. É importante que continuem acreditar e assim nosso país será, com certeza um país melhor…
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