Edição 660
(Re)encontrar o amor do outro lado do ecrã
O Notícias da Trofa assinala o Dia dos Namorados com a história de uma mulher, vítima de violência doméstica, que depois de anos a pensar que nunca mais iria confiar em alguém, reencontrou o amor de forma inusitada.
A 14 de fevereiro celebra-se o Dia dos Namorados. Para uns, a data rainha dos clichés, para outros mais um motivo para celebrar o amor. Este ano, o jornal O Notícias da Trofa decidiu assinalar a efeméride confrontando-a com uma realidade que tem feito correr muita tinta nos últimos anos: a violência doméstica. Este é, de resto, um tema que nos entra em casa pelas televisões, jornais, revistas ou internet, através de diversas campanhas que têm sido levadas a cabo por entidades e autoridades que lutam para que o número de vítimas às mãos dos companheiros (ou companheiras) desapareça.
Só para enquadrar o leitor, nos últimos 14 anos – e segundo dados da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) -, cerca de 490 mulheres foram assassinadas pelos companheiros, 18 das quais em 2017. Este foi o ano, dos últimos 14, em que se registaram menos homicídios por violência doméstica, no entanto, estamos longe de comemorar seja o que for. “É o terceiro ano que registamos uma diminuição na incidência de femicídio (…) Congratulamo-nos com o facto e achamos que é uma evolução muito positiva, mas ainda é muito cedo para falarmos de uma tendência”, disse à Lusa a diretora da área de violência da União de Mulheres Alternativas e Resposta (UMAR), Elisabete Brasil.
Números expostos, está na altura de contar a história de Ana (nome fictício), da Figueira da Foz, que viveu um relacionamento de nove anos, amaldiçoados pela violência.
Depois de conseguir “acordar” do pesadelo e libertar-se do agressor, Ana pensava que nunca mais conseguiria relacionar-se com alguém. Mas a natureza humana é ávida de partilha e relação social. Ana decidiu, então, proteger-se dos outros atrás do computador e relacionar-se através do Clube da Amizade, site de encontros dado a conhecer por uma amiga. “Andei, meses a fio, a falar com desconhecidos. Era fácil relacionar-me assim, atrás de um monitor e sem saber quem estava do outro lado”, contou em entrevista ao NT.
Depois de algum tempo de resistência, aventurou-se pela fase seguinte, de encontros marcados, mas “muitas desilusões”… até encontrar Carlos (nome fictício), da Trofa. “Tinha uma fotografia bonita, mas nem sequer sabia se era verdadeira. Durante meses alimentamos muitas conversas e percebemos que tínhamos imensas coisas em comum. Tornou-se num hábito, à mesma hora, lá estávamos os dois à frente do monitor”, relatou.
Mas, um dia, “a conversa acabou num telefonema” e do outro lado, Ana encontrou “uma voz simpática e meiga”. Nesse mesmo dia, noite dentro, ele queria vir ter com ela, mas Ana recusou. Acabaram por marcar para outro dia, mais concretamente a 23 de dezembro de 2004. “Encontrámo-nos às 22 horas, na Figueira da Foz. Eu levei duas amigas. Tinha medo. Os outros encontros tinham sido desastrosos, sempre com gente que só queria uma noite, nada mais”, contou.
Mas desta vez foi diferente. Depois do primeiro encontro, sucederam-se outros e o namoro oficializou-se até ao casamento, em 2008.
Ana é a prova viva que as regras do passado não servem para o futuro. “Depois de tudo por que passei, pensei que nunca mais ia acreditar em ninguém, mas o amor fez-me perceber que vale sempre a pena lutar pela felicidade”, confessou.
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