Edição 609
Ainda é «chique» ser de esquerda?
Já caminhamos para o final da segunda década do século XXI, mas ainda existem muitas pessoas no nosso país, que continuam a tentar vender uma imagem que não é a sua. Já vem do tempo em que o «cravo vermelho ao peito» ficava bem e continuam sem coragem para mudar, mesmo estando na sua essência que são o oposto daquilo que querem mostrar ser. Obviamente, essas pessoas não são sinceras nas suas crenças e, por isso, tudo ou quase tudo que fazem ou dizem cheira a fingido. É um fingimento tremendo!
Ainda são muitas as pessoas que se dizem de esquerda e não passam de fervorosos adeptos do conservadorismo e altamente materialistas e individualistas, que gostam de colocar o cravo vermelho na lapela, principalmente em dias festivos, como o 25 de abril ou o 1º de maio, para mostrarem aos outros que são «verdadeiros revolucionários». Alguns até afirmam que são assim, desde o tempo da ditadura!
Esta marca que já tem mais de quatro décadas está enraizada nessas pessoas, por isso é muito difícil a mudança. Muitas delas, até acreditam piamente que são mesmo de esquerda. É como o mentiroso compulsivo, que de tantas vezes dizer uma mentira começa a acreditar que é verdade. É a confirmação da lógica de Joseph Goebbels (ideólogo da propaganda de Hitler) de que «uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade».
O «cravo vermelho ao peito» que muitas pessoas usam ocasionalmente é só para a fotografia da praxe, pois em nada se identificam com revoluções ou com essas datas e, muito menos, com o que elas significam, mas falta-lhes a coragem necessária para assumirem o que realmente são: conservadores que rezam para que as ideias liberais de Adam Smith vinguem e simultaneamente vão caminhando na estrada da vida acenando com «O Capital» de Karl Marx e citando-o constantemente.
É a dita esquerda caviar, que proliferou como cogumelos, que se está a «borrifar» para a miséria que grassa pelo país, que se está a «marimbar» se ao seu lado vive uma família que está a passar por grandes dificuldades. A única preocupação dessas pessoas é aproveitarem-se do sistema, para fazerem «engordar» a sua conta bancária e, assim, sustentarem a sua vida faustosa ou a vida de luxo e glamour que gostam de ter.
Muitas dessas pessoas, que se dizem de esquerda e que tanto criticam os partidos à sua direita de colocarem os amigos em lugares públicos, são eles os primeiros, mal são colocados politicamente em lugares com algum poder, que tratam logo de arranjar colocação para a sua filha, filho, mãe, irmão, afilhados e apaniguados, em detrimento de outras pessoas mais capacitadas para exercerem esses lugares. Primeiro eles, depois os seus e a seguir aqueles que o ajudaram a «guindar-se» ao poder.
Algumas dessas pessoas são gananciosas e antipáticas, nunca trabalharam em prol dos outros, nunca deram nada à sociedade e não conhecem na prática a palavra solidariedade, que tanto apregoam. Alegam, para nada fazerem, que o que deve ser feito é atacar a origem do problema (com razão), só que é uma maneira ardilosa e fugidia para nada fazerem em prol dos outros, em prol dos mais carenciados, dos mais necessitados. Este tipo de pessoas como têm medo da mudança, pois são fervorosos conservadores (sem o admitirem) é natural que a sua mudança seja feita gradativamente e de forma lenta. Só que muitos já não vão a tempo de mudar, pelo menos em vida!
Essas pessoas até deixam de cumprimentar os vizinhos e conhecidos, com vergonha de si próprios ou para que estes não lhes peçam um qualquer favor. Só voltam a lembrar-se deles, e vão-lhes pedir «batatinhas», nas campanhas eleitorais. Nessas alturas de «caça ao voto» tentam ser simpáticas, sorriem, reconhecem os vizinhos e até os tratam pelo nome e os cumprimentam de mão ou até de beijinho na face. É a «caça» ao voto! É a hipocrisia levada ao extremo!
Atente-se às palavras altamente elogiosas do banqueiro Ricardo Salgado, em «modo» de discurso fúnebre, quando se referiu a Mário Soares, que vem corroborar e reforçar tudo aquilo que atrás foi afirmado. Depois desta afirmação, pouco mais há a dizer!
Estas pessoas, que se dizem de esquerda, ainda pensam que ser conservador é «démodé» e que ainda é «chique» ser de esquerda. É uma moda que há de passar!
moreira.da.silva@sapo.pt
www.moreiradasilva.pt
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