Edição 597
Concelho da Trofa: 18 anos é mesmo muito tempo!
É no perscrutar a janela do tempo, que se chega à conclusão que o dia 19 de novembro de 1998 é um dia distante, e se considerarmos que foi no século passado a nossa mente empurra-nos para um tempo ainda mais longínquo. Tudo isto porque vamos a toda a velocidade pela vida fora, temos a fantasia de dominar o tempo, como se o tempo tivesse rédeas e as pudéssemos agarrar, dando por nós, às vezes, encerrados no nosso próprio pensamento, e quando damos por ela já vamos longe, muito longe no tempo.
Se viajarmos para lá do tempo e recuarmos à época pré-Concelho da Trofa damos conta que existem umas coisas na vida que levam tempo, existem outras que o tempo as faz «hibernar» e existem ainda outras que o tempo leva. Leva mesmo muito tempo a apagar o sonho de o Concelho da Trofa ser um concelho exemplar, pois existe o facto de que as infraestruturas estruturantes para o desenvolvimento necessitarem de um prazo dilatado para serem concretizadas. Mas é verdade que os trofenses entraram numa letargia profunda provocada pelo “crime social e político” hediondo que foi o propósito de conduzir o povo para uma descrença tal, ao ser decapitado o saudável ”trofismo”, que levou mais de dez mil pessoas à festa da “Ida a Lisboa Buscar o Concelho”. Também é verdade que os 18 anos de Concelho, o tempo já os levou e não há hipótese de voltarmos atrás «remendar» o que de mal foi feito ou para fazer o que ainda não foi feito.
A vida ensina-nos a fazer bom uso do tempo, enquanto o tempo ensina-nos o valor da vida e ensina também que é preciso ter paciência e saber esperar o tempo certo, para plantar e para colher. A dúvida está no semear. Será que semeamos? Será que semeamos a semente certa, no tempo certo?
Faz-se um esforço para perceber tudo isto, embora o ponteiro do tempo ande sem parar, e se olharmos para trás no tempo ele indica-nos que 18 anos de Concelho é mesmo muito tempo. Também nos mostra que é tempo de ousarmos ser maiores e melhores, sem perder tempo, nem forças, a tentar mudar o que não muda, mas assumirmos publicamente que temos o nosso coração rasgado pela tristeza que o tempo tem dificuldade em cicatrizar. É verdade que o tempo passa e leva-nos com ele, mas também é verdade que merecemos muito mais. Por isso a luta por um concelho modelo vai continuar. É o impulso típico de quem sonha, de quem pretende evoluir, de quem acredita no futuro, de quem sabe que as coisas grandes chegam sempre de forma simples.
Não compliquemos o que é simples. Desligue-se o «complicómetro»! Temos o vício de o ligar quando acordamos e só o desligamos quando adormecemos. O truque para a resolução dos grandes problemas chama-se: simplicidade! Neste tempo sem tempo para quase nada, quase todos os dias, hora atrás de hora, somos empurrados para bem longe por algo frenético, que nos leva sem sabermos para onde, mas que nos faz parecer que a vida tem pressa. Talvez seja por isso que transformamos o simples em complicado. É uma obstinação dos inaptos, dos fracos e dos frágeis? Talvez não. Talvez sejamos assim! É nos dias que vestem o tempo, nos acasos que vestem os dias, que está a resolução dos nossos problemas. É aí que nos devemos situar, na persistência das nossas escolhas. E nós escolhemos ser Concelho! Mesmo perante um tempo que se destruiu e não volta a surgir, sem qualquer dúvida valeu a pena Trofa ser concelho! E até se sente um tempo novo e um novo tempo há de vir!
Sentimos o tempo, neste tempo que há em nós e quando chove e uma nuvem paira sobre a nossa cabeça largando gota a gota uma lágrima de tristeza atrás da outra de desilusão, quando a mágoa é maior do que o tempo, temos de encontrar forças dentro de nós para suportar aquilo que no momento nos parece insuportável. Quando parece que o mundo vai desabar sobre a nossa cabeça, o tempo se encarrega de colocar tudo no lugar, mas enquanto isso não acontece precisamos de sabedoria, muita paciência e levantar a âncora do barco da vida e zarpar a um novo rumo, que nos leve à concretização dos nossos belos sonhos, que continuam a ser muitos. Este tipo de discórdia que saltou para o espaço público, onde durante muito tempo parece que foi propositadamente silenciado serve para ilustrar o imenso embuste dos tempos em que vivemos e de alguns habilidosos, que ao leme do nosso barco, não souberam acentuar a semelhança na diferença, nem estabelecer pontes de criatividade conjunta e pensavam que sofríamos de cegueira de um olho e tínhamos cataratas no outro. Foi um «regabofe», um esbanjar de muitos milhões, para uma mão cheia de nada e outra mão repleta de pouca coisa. E assim se destroem os sonhos originando, por vezes, uma fúria incontida. Mas o tempo que agora faz é um tempo algo diferente, é um tempo especial que pode abrir a porta do tempo à esperança!
Esta cogitação foi provocada pela constante pressão do tempo, que nunca nos larga e nos persegue como um capataz com um chicote na mão. Mas não é o menor dos tormentos, embora deixe de nos perseguir quando nos livramos do que nos faz mal, do medo e da incerteza. E assim se concretizam os sonhos, com abnegação!
É verdade que nunca temos tempo para esperar o tempo passar e até queremos esquecer o tempo, mas acabamos por ser engolidos por ele. O certo é que o nosso sonho se realizou, mas outros sonhos nasceram! Por mais que se queira que os segredos que amontoamos na cave da consciência não saiam dentro do nosso tempo, não devemos desistir dos nossos sonhos. Nunca!
moreira.da.silva@sapo.pt
www.moreiradasilva.pt
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