Edição 589
Assembleia do Muro repudia atuação da Câmara no processo da ponte demolida
A sessão ordinária da Assembleia de Freguesia do Muro, que se realizou na noite de terça-feira, 20 de setembro, ficou marcada pela discussão em torno da demolição da Ponte da Peça Má.
A Ponte da Peça Má foi demolida pela empresa Metro do Porto a 2 de setembro, mas ainda promete dar muito que falar, até porque os membros da Assembleia de Freguesia do Muro estão dispostos a não deixar o caso cair no esquecimento e a vê-lo abordado na próxima Assembleia Municipal da Trofa. E é certo que o tema esteja mesmo em cima da mesa, até porque os membros da Assembleia de Freguesia aprovaram, por unanimidade, um voto de repúdio “pela atuação da Câmara Municipal”. Foi o presidente da Assembleia, António Ferreira, que propôs a votação do voto de repúdio, criticando a postura da autarquia no processo, concretamente, pelo silêncio que privilegiou até poucas horas antes da demolição, quando o assunto veio para a praça pública devido à publicação de um anúncio de corte de estrada no Jornal de Notícias. António Ferreira considera que o executivo camarário agiu de “má-fé” quando omitiu à população a decisão da empresa Metro do Porto de demolir a estrutura. “Houve até a coincidência de haver um passeio no dia da demolição”, frisou, em referência ao passeio a Lamego que a autarquia organizou para os seniores do concelho. O presidente da Assembleia confessou que a “mágoa” reside no facto de “a Câmara não ter tido a hombridade de avisar da demolição com antecedência” para que fosse possível agir. “Alternativas (à demolição) havia e são conhecidas, como o estudo feito pelo senhor Eurico Ferreira”, sustentou.
E até os eleitos da coligação “Unidos Pela Trofa” na Assembleia de Freguesia não concordam com a forma como o executivo camarário, sustentado pelas mesmas cores políticas, geriu o processo. António Correia, que foi candidato a presidente de Junta pela coligação, está “indignado”. “O processo foi tratado de uma maneira para nos enganar. O Muro foi esquecido por quem nos devia defender”, afirmou.
Correia não esquece da deliberação da Assembleia do Muro, que decidiu, por unanimidade, que a freguesia não queria a demolição da ponte, por isso, e face ao desfecho, tenciona “repensar” a posição naquele órgão. “Isto só provou que não estamos aqui a fazer nada”, atirou.
Na mesma linha de pensamento, Margarida Pinto, eleita pelo movimento Independentes pelo Muro, questionou a serventia das assembleias de freguesia. “Se não temos poder de decisão com votações unânimes, não sei para que é que existem”, frisou.
Já Pedro Amaro Santos, eleito pelo Independentes pelo Muro, considera que a condução do processo foi “uma canalhice” e que a Câmara Municipal foi “cúmplice” pela morte da ponte. “A culpa está no facto de não ter havido classificação do património e na incompetência com que se fez o Plano Diretor Municipal, está nos técnicos da Câmara e nos autarcas”.
Junta de Freguesia “fez tudo o que estava ao alcance”
O presidente da Junta de Freguesia, Carlos Martins, contou que soube da demolição um dia antes, quando se deparou com “gradeamento” junto à ponte. Vinha de uma “reunião” na Câmara, em que “o presidente (Sérgio Humberto) disse que a ponte ia ser demolida, mas não quando”, e quando viu aquele cenário ligou para a autarquia que confirmou que a destruição ia acontecer naquele fim de semana.
“Eu já tinha viagem marcada para Sevilha e até fui mais tarde que o previsto por causa desta situação”, contou. Na ausência do presidente, ficou Conceição Campos a orientar os passos da Junta de Freguesia, que decidiu avançar com “uma providência cautelar” que não foi aceite pelo empreiteiro. “Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Fazer mais só se fôssemos para cima da ponte”, acrescentou.
Conceição Campos também interveio na sessão para contar que chegou a ligar para o presidente da Metro do Porto, mas este não atendeu. Conseguiu então “falar com o secretário” deste, que lhe deu conta de que “a demolição já era do conhecinento da autarquia” e que “ia ‘reportar’ o descontentamento da Junta de Freguesia ao presidente da Metro do Porto”.
O projeto de Eurico Ferreira
Conceição Campos afirmou que tentou sensibilizar o presidente da Câmara para que assumisse a responsabilidade pela ponte, utilizando como argumento o projeto do empresário Eurico Ferreira para nivelar o piso e permitir a passagem segura dos camiões. “O esboço do projeto referia que com pouco dinheiro era possível manter a ponte, fazendo uma alteração à estrada, indo buscar parte da bouça do professor Moutinho Duarte, que se prontificou a oferecer a parcela de terreno necessária. E o senhor Eurico Ferreira disse que se não houvesse dinheiro, a empresa dele ajudaria nessas obras”, afirmou.
E as outras pontes?
Carlos Martins considera que, agora, a Junta de Freguesia tem de atuar “de forma diferente” relativamente à reivindicação para a reparação das outras pontes do antigo canal ferroviário, sob pena de “a Metro do Porto decidir que também são para demolir”. O autarca defende que é importante perceber se é possível a autarquia intervir naquelas estruturas, à semelhança do que vai fazer num troço do antigo canal no centro da cidade da Trofa, com recurso a fundos comunitários.
O presidente da Junta informou ainda que o executivo murense solicitou ao empreiteiro responsável pela demolição a cedência de algumas pedras da Ponte da Peça Má. O destino ainda não está decidido, mas poderá passar por utilizá-las como peça de arte. Margarida Pinto sugeriu “colocá-las na rotunda que vai nascer no cruzamento da Carriça”, referindo-se a um dos “projetos” anunciados pelo presidente da Câmara Municipal na campanha para as eleições, em 2013, e que surgiram da assinatura de um protocolo com os presidentes das câmaras da Maia e de Famalicão.
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