Edição 568
João Soares e Sérgio Humberto
Não havia outro desfecho possível para o caso das declarações inaceitáveis de João Soares. Um ministro não se pode comportar como um fanfarrão prepotente. A sua conduta deve ser absolutamente exemplar e o respeito pela liberdade de expressão não pode ser circunstancial. Soares foi indigno e desrespeitou o país. Abandonar as funções governativas era um imperativo ético.
Importa recordar que este caso, apesar do tom ameaçador, não é novidade por cá. Antes de João Soares, já outros responsáveis políticos, como José Sócrates ou Miguel Relvas, apenas para citar dois exemplos, tentaram condicionar a imprensa. E quem não se lembra do pontapé de Zeca Mendonça, assessor de longa data do PSD, a um repórter de imagem? Enfim, são casos que se sucedem e que nos dizem muito sobre a cultura democrática de nosso país. Casos que devem ser denunciados e combatidos.
Mas não precisamos de ir ao centro do império para nos depararmos com casos desta natureza. Durante o ano de 2015, por duas ocasiões, o presidente da CM Trofa desrespeitou a liberdade de imprensa, sendo que numa das ocasiões tentou mesmo boicotar o trabalho deste jornal. A outra situação foi apenas um episódio de má educação, que o levou a lançar lama sobre uma série de pessoas de forma indiscriminada, em plena Assembleia Municipal (AM) e sem que os titulares deste órgão tivessem tido o bom senso de admoestar um comportamento indigno por parte de um responsável político eleito.
O primeiro momento a que me refiro acontece durante a AM de 27 de Fevereiro, durante a qual Sérgio Humberto usou da palavra para dizer que “também a população da Trofa não é enganada por jornais locais que a única verdade que lá vem é a data. Se fosse hoje, era 27 de Fevereiro de 2015. É a única verdade que lá está.”. De uma assentada, o autarca desrespeitou toda a equipa deste jornal, bem como os colunistas que todas as semanas dão o seu contributo. O valor da humildade, tantas vezes cuspido para o ar para inglês ver, não teve aqui lugar e o autarca foi incapaz de endereçar um pedido de desculpas aos visados.
O segundo remonta a Outubro passado, quando tentou boicotar o trabalho deste jornal, exigindo a saída dos profissionais do Notícias da Trofa/Trofa TV da apresentação pública do metro no Muro, apresentação para a qual tinham sido oficialmente convidados a estar presentes. Sérgio Humberto teve um comportamento inaceitável, atentando contra uma liberdade fundamental prevista na lei portuguesa, e não teve, uma vez mais, humildade para pedir desculpa. Já assistimos a demissões por muito menos.
Falamos do mesmo Sérgio Humberto que, na já referida AM de Fevereiro de 2015, afirmava, em tom desafiador, que “a ditadura aqui na Trofa também acabou em 28 de Setembro de 2013”, numa alusão ao momento da sua eleição. E se tais afirmações mais não foram do que um exercício de propaganda barata, populista e demagógica, não seria demais recordar que os casos acima descritos tem um certo odor salazarento. Mas desengane-se quem ache que o nosso autarca tem aversão à comunicação social. Que o digam os antigos proprietários do outro jornal local que foram agraciados com um ajuste directo superior a 24 mil euros para um concurso de fotografia marcado pela mediocridade e a produção de uma revista que poucos ou mesmo nenhuns viram. É apenas uma questão de dualidade de critérios.
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