Edição 568
Rio Ave com bactérias resistentes a antibióticos
Foram descobertas quatro estirpes de bactérias na água do Rio Ave, todas ‘Escherichia coli’, com grande capacidade de resistência aos antibióticos, incluindo aqueles que se usam exclusivamente nos hospitais para tratamento de infeções graves (carbapenemos).
“As estirpes eram resistentes a todos os 20 antimicrobianos testados, incluindo o imipenem, um antibiótico de última linha que se usa com muita contenção e apenas quando o tratamento com outros antibióticos de primeira e segunda linha não é eficaz”. A descoberta decorreu no âmbito de uma investigação desenvolvida em parceria entre o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e a Universidade de Friburgo na Suíça.
À Agência Lusa, Paulo Martins Costa, um dos membros da investigação, médico veterinário e professor no ICBAS, afirmou que os genes responsáveis pelas resistências das bactérias descobertas “são idênticos aos identificados em bactérias isoladas em hospitais, como, por exemplo, a ‘Klebsiella pneumoniae’, no Hospital de Gaia”.
A recolha de amostras de água foi feita em seis pontos do rio Ave, desde a nascente até um troço abaixo de Santo Tirso, onde já em 2010 a mesma equipa tinha isolado uma outra estirpe (também resistente ao imipenem), portadora do mesmo gene identificado na bactéria responsável por um grave surto de infeção no Hospital de Vila Nova de Gaia em agosto 2015.
Os investigadores ficaram impressionados pelo “isolamento simultâneo de diversas estirpes multirresistentes num pequeno volume de água (200 mililitros), recolhido num açude em Azenha Velha (Riba D’Ave), sendo legítimo extrapolar que estas perigosas bactérias estivessem presentes em grande número no caudal do rio, devido às chuvas de inverno”.
E admitindo que os exemplares encontrados no Ave possam ter origem em pessoas que estiveram em países em que estas bactérias têm vindo a ser encontradas (EUA, Colômbia ou França), fica por explicar a “abundância” num caudal de inverno, segundo o especialista. Outra hipótese remete para a possibilidade de aquelas bactérias poderem ser enriquecidas por algum poluente químico existente no rio.
Segundo Paulo Martins Costa, o objetivo da investigação passa por traçar “a contaminação fecal” do rio Ave e “qual era o paralelismo entre essa contaminação orgânica e a presença de macroinvertebrados, pequenos animais que são indicadores da qualidade da água”. O estudo conclui que à medida que as recolhas de água no rio Ave se vão aproximando da foz daquele curso de água, há “mais presença de contaminação fecal”.
O presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso, Joaquim Couto, mostrou “grande preocupação” com esta descoberta para “a saúde pública”, uma vez que “a existência de bactérias resistentes, causada por fatores que ainda se desconhecem, pode estar relacionadas com efluentes hospitalares e com poluição química do rio Ave”. Enquanto presidente da Associação de Municípios do Vale do Ave (AMAVE), Joaquim Couto referiu que “as estações de tratamento que compõem o Sistema de Despoluição do Ave são das poucas do país com capacidade para o tratamento químico e bacteriológico”, fazendo seguir para a Águas do Norte, para a entidade gestora do sistema de despoluição do rio Ave e para o Ministério do Ambiente, um ofício sobre este problema. “Por informação da Águas do Norte, a empresa já está a desenvolver um processo com vista a contra-análises que confirmem ou desmintam o estudo realizado”, adiantou.
Já fonte da Câmara de Vila Nova de Famalicão referiu que está “naturalmente preocupada” com esta situação, estando a ser desenvolvido um conjunto de diligências junto das entidades competentes para obter mais informação, nomeadamente junto da Agência Portuguesa do Ambiente.
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