Edição 554
Duas ou três notas sobre 2016
Depois do habitual e saudável estado de embriaguez típica do Natal e do ano novo, o ano de 2016 aí está e a reactivação de todos os nossos sentidos e faculdades, juntamente com a ressaca inevitável, leva-nos a ter logo nos primeiros dias do ano de construirmos mentalmente os nossos desejos e projectos e a escrevê-los mentalmente (se forem como eu, o melhor mesmo é escreverem numa agenda daquelas que se vendem em livrarias).
Depois das uvas passas e de todos gritarmos que vamos tentar ser melhores pessoas (eu por mim peço sempre para não piorar) ou dizer que nos vamos inscrever no ginásio (desejo que dura até Fevereiro), a chapada do mundo, acompanhada no nosso caso de chuva e frio, é uma inevitabilidade como as reportagens da neve a cair na Serra da Estrela (tenho para mim que é sempre a mesma reportagem todos os anos). As primeiras semanas de Janeiro serão marcadas com a campanha presidencial e a saída do fatigante Cavaco Silva, sendo eu adepto de uma acção de crowdfunding para ajudar o casal Cavaco e Maria a comprar uma pequena pirâmide no Egipto decorada pela Joana Vasconcelos, pois a reforma de dez mil euros não dá para a renda. Saído este, temos em curso a beatificação de Marcelo, de forma a ser levado em andor para a cadeira de presidente. Depois de vários anos de evangelização dominical, o homem que agora parece um acérrimo defensor do Serviço Nacional de Saúde, da Educação Pública e da Segurança Social, mas que nunca deixou de apoiar as matrizes da sua área política que levaram à degradação destes mesmos pilares da sociedade portuguesa, quer transmitir um (falso) distanciamento da sua matriz ideológica. Por falar em televangelismo, não podemos esquecer as sempre muito esperadas entrevistas (?) a José Sócrates.
Depois do quadro parlamentar saído das últimas eleições legislativas, o parlamento teve um novo fôlego. Se para muitos é uma geringonça, para mim chama-se discussão, avanços, cedências, acordos. Chama-se democracia.
O plano internacional será marcado por dois acontecimentos que marcarão a política internacional dos próximos anos: as eleições nos EUA e a contínua baixa do crude. Para os europeus, as primárias do Partido Republicano parecem uma stand-up comedy de Donald Trump. O problema é que muitos americanos, como se pode ver pelas sondagens, parecem levar a sério esta personagem que inalou laca em excesso.
A baixa do petróleo terá como consequência problemas políticos, sociais e económicos nos países que têm como principal fonte de receita a exportação desta matéria-prima, com destaque para o Médio Oriente, Brasil e Angola, estes dois com laços fortes com Portugal.
E agora para algo completamente diferente, aconselho os que estão a ler estes caracteres a comprar mais jornais, ir ao cinema, comprar música em formato físico e redescobrir o que é um álbum ou tirar cinco minutos diários para ler um bom livro. Sei que é difícil conciliar tempo e disponibilidade financeira, mas experimentem entrar num alfarrabista ou numa loja de música em 2ª mão. Sem querer entrar na porta da nostalgia, vão ver que alguns hábitos antigos ainda fazem sentido.
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