Edição 555
Sobre o eterno problema das cheias
A Trofa, à semelhança da quase totalidade do norte do país, tem sido assolada por violentos temporais que, sem grande surpresa, voltaram a alagar várias zonas do concelho, provocando avultados prejuízos, em estruturas públicas como em propriedades privadas, congestionando ainda mais o já congestionado trânsito no centro da Trofa, com especial destaque para a EN14, situações que perturbam o normal dia-a-dia dos trofenses.
A zona das Pateiras e da Lagoa são dois dos pontos mais críticos em toda esta complicada situação. Um clássico que, propaganda política à parte, tem origem num passado não muito distante e, dizem os antigos e os entendidos, deriva do tapamento de cursos de água para a construção de alguns edifícios que remontam ao tempo em que o território do nosso concelho era ainda parte integrante de Santo Tirso. Estas construções, aprovadas pelo executivo liderado por Joaquim Couto de forma a servir os interesses de alguns, possivelmente financiadores de campanhas eleitorais, ousaram desafiar a mãe-natureza. E nestas coisas dos desafios à mãe-natureza, o resultado costuma ser o previsível: a mãe-natureza leva a melhor. Como referiu outro cronista desta casa, João Pedro Costa, numa recente crónica, o importante era “construir, legalizar, receber comissões, cobrar mais impostos”. Quem viesse atrás que fechasse a porta.
Os anos passaram, a Trofa conseguiu a sua independência, os autarcas sucederam-se e o problema, como é possível constatar por estes dias, foi ficando. Todos os anos, repete-se o mesmo cenário: estradas alagadas, prejuízos para o comércio e, em anos de eleições autárquicas, algum aproveitamento político. Soluções é que nem vê-las. Todos os anos se multiplicam as queixas, os problemas e os prejuízos, todos os anos ficamos na mesma.
Importa perguntar até quando durará este caos. Se é que ainda é possível acabar com ele. Bernardino Vasconcelos não resolveu o problema, Joana Lima não resolveu o problema e Sérgio Humberto, até à data, também não o resolveu. Haverá solução? No caso de haver, o que tem sido feito no sentido de corrigir o problema? Não sabemos. Talvez muito se tenha feito, ainda que sem resultados visíveis. Talvez nada tenha sido feito e apenas se empurre o problema com a barriga.
Seria importante, numa era de tantos milionários ajustes directos para comunicação e publicidade, que quem está no poder – e isto vale para quem esteve, está e estará – explicasse à população o que está a ser feito. Se é que alguma coisa está a ser feita. Uma brochura desdobrável em papel de boa qualidade como aquelas com que os políticos habitualmente nos bombardeiam para nos informar que estão a trabalhar, mas que em vez de referir o cumprimento de promessas de campanha ou uma qualquer manipulação, referisse o que se passa e o que se está a fazer para que deixe de se passar.
Mais importante ainda seria, caso tal seja fazível, exigir a abertura de um inquérito à origem do problema e levá-lo às autoridades competentes de forma a, na impossibilidade de emendar esta situação, identificar os responsáveis. E responsabilizá-los. Porque podemos estar apenas a falar de incompetência mas também podemos estar perante uma situação de negligência ou, pior, de conluio em brutal prejuízo de todos os trofenses. Talvez esteja na hora de pormos tudo em pratos limpos e saber não só quem tomou as decisões, porque as tomou e que medidas foram adoptadas para prevenir problemas futuros. E quem lucrou com elas. Haverá coragem?
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