Edição 535
Agência Funerária Trofense mantém a tradição dos andores
Armador há “cerca de 40 anos”, João Silva, gerente da Agência Funerária Trofense, orgulha-se do trabalho artesanal com que são preparados os andores da Senhora das Dores, Santa Margarida e Senhora da Assunção.
Um trabalho manual e artesanal, onde se prescinde das máquinas e se dá uso aos dedos. A Agência Funerária Trofense já está a ultimar três dos dez andores da procissão em honra de Nossa Senhora das Dores, que, a 16 de agosto, atrai milhares de curiosos. De forma a “conciliar” a atividade profissional com a preparação dos andores, o irmão e filho de João Silva, gerente da Agência Funerária Trofense, começam a armá-los com “quatro semanas a um mês” de antecedência no salão paroquial, em frente à igreja matriz, para que, no dia, os andores da Senhora das Dores (Paranho), Santa Margarida (Valdeirigo) e Senhora de Assunção (Esprela) estejam prontos a sair na procissão.
Com a ajuda de um martelinho, a equipa prende um a um, os milhares de alfinetes para segurar as centenas de metros de cetim, que enfeitam os andores, que são ainda adornados com as estrelas com espelho, que também leva lantejoulas e veludo. Uma das que enfeitam um dos andores marca 1965 na parte traseira, evidenciando a antiguidade do material. “Os andores têm valor pelo material que se aplica. Nós mantemos a traça do antigo. Tem lá cartões/estrelas que já ninguém faz. Tenho cartões de 1974 que estão por utilizar, mas agora não há quem os faça”, contou João Silva.
Os três andores vão ter de altura “cerca de 15 metros” e “7,50 metros de largura” e o custo pode variar entre os “1500 e os 2000 euros”. O andor de Nossa Senhora das Dores é o mais caro, pois é mais “trabalhoso e não é qualquer decorador e armador que o pega”, devido à sua “carcaça muito específica” e às “características totalmente diferentes de qualquer andor que esteja na festa”.
No domingo, cerca das 7.30 horas, “seis homens” começam a trazê-los para fora e a montá-los para que cerca das 14 horas esteja tudo pronto. O momento em que se pega no andor é crucial. Mas, para que corra tudo bem, os andores têm que ser levantados ao mesmo tempo e “sempre com um bocadinho de calma”, ao mesmo tempo que as “quatro cordas” estão “espiadas”. Antigamente era mais fácil arranjar homens para pegar nos andores, pois quem andava na Guerra do Ultramar “prometia que se viesse com saúde e vida, pegaria no andor da Senhora das Dores”, que pesa “cerca de 650 quilos sem estar armado”. Para pegar no andor são necessários, no mínimo, “20 homens”, um número que até há bem pouco tempo era difícil de garantir. Mas com a crise, João Silva acredita que será “muito fácil arranjar homens”, uma vez que são “remunerados”. O número “ideal” de homens para pegar no andor seria de “26”, mas para isso a “base estrutural teria de ser alargada”.
No final da procissão, a equipa tem “mais 15 dias” de trabalho, em que tem de “desarmar, limpar e aproveitar” o material que estiver bom, “o que não der deita-se ao lixo”.
Curiosidades
Procissão é única no País, pela imponência dos andores e quantidade de figuras bíblicas
Cada andor precisa de centenas de metros de cetim e quilos de alfinetes
13.600 alfinetes, que no total pesam oito quilos
Andor de Nossa Senhora das Dores pesa cerca de 650 quilos sem estar armado
Os andores representam as aldeias da paróquia de S. Martinho de Bougado: Santa Margarida (Valdeirigo), Senhora da Assunção (Esprela), S. José (Finzes), S. Martinho (Coroa e Real, S. Martinho e Carqueijoso), Nossa Senhora do Rosário (Abelheira), S. Sebastião (Paradela), S. Bárbara (Mosteirô), S. António (Gandra), S. Roque (Ervosa) e Senhora das Dores (Paranho).
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